Portugal deu início à reabertura pós-confinamento no início de maio e, poucos dias antes da chegada oficial do verão, no dia 20 de junho, a maioria dos serviços já estava em funcionamento – ainda que com restrições e medidas de segurança. A tão esperada “época balnear”, que inaugura oficialmente as idas à praia, teve início na maior parte do país em 6 de junho, as fronteiras internas da União Europeia reabriram logo na sequência (no dia 15) e, desde então, não têm sido raros os dias em que os termômetros ultrapassam os 30ºC. Em outras palavras: o verão chegou chegando, as pessoas estão indo à praia e a vida vem ensaiando voltar ao normal.
Nem tudo são flores, claro. Como era de se esperar, o número de contaminações aumentou no processo de abertura. A região de Lisboa se transformou no epicentro da Covid-19, o que fez com que outros países do bloco europeu baixassem restrições à visita de portugueses e de quem tivesse estado em Portugal. Os ingleses, por exemplo, que todos os anos invadem as praias do Algarve, este ano precisam cumprir uma quarentena de 14 dias ao voltar pra casa, o que reduziu drasticamente o turismo – isso porque Portugal ficou fora da lista de países considerados seguros pelo governo inglês (embora pareça uma medida mais política do que outra coisa, uma vez que o mesmo não se aplica a países como Espanha, Itália e França).
Aos fatos: Portugal somava até este domingo (26) um total de 50.164 casos – desses, 35.217 recuperados. O número de mortos segue dos mais baixos da Europa: 1.717 no total. Todos os dias, as estatísticas somam algumas dezenas de novos casos, mortes esporádicas e uma boa dose de preocupação. Lisboa tem regras mais rígidas que o resto do país, mas a vida segue. Regra geral, as areias estão cheias, as pessoas estão nas ruas, as “esplanadas” estão concorridas. A retomada da economia já deu as primeiras cartas e algumas soluções encontradas tanto pelo governo quanto pela iniciativa privada para controlar a pandemia são interessantes. Analisando o panorama do turismo, ou melhor, das percepções do cenário pelo olhar do turista, o raio-X do país hoje poderia ser resumido assim:
- Os hotéis reabriram, mas não estão mais baratos
Praticamente todos os hotéis estão funcionando. Mas, mesmo com o movimento caracterizado pela maioria massiva de turistas locais e a delicadeza financeira do momento, os preços não baixaram. Pelo contrário, muitas vezes eles aumentaram. Vi um ou outro oferecendo até 30% de desconto para reservas antecipadas semanas atrás, mas agora, prestes a entrarmos no mês oficial das férias europeias (agosto), isso já não tem acontecido. Na prática, isso significa que raramente se encontram hospedagens charmosas com diárias a menos de € 150, € 200.
- As casas de férias no litoral estão mais concorridas
Confirmando a minha expectativa, as casas de aluguel por temporada nas praias estão bastante procuradas. Basta dar uma busca no Airbnb nos destinos mais concorridos do Algarve ou da Costa Alentejana, por exemplo, e quase não há dia livre em agosto.
- As políticas de cancelamento de hospedagens estão mais flexíveis
Muitas vezes não há penalização alguma pela desistência, mesmo no auge da temporada. Foi a maneira que os estabelecimentos encontraram de reconquistar a confiança dos viajantes. Eu mesma reservei um glamping em um parque natural por cinco dias no final de agosto e, além de ter conseguido vaga com menos de um mês de antecedência, posso desistir até um dia antes sem pagar um euro de multa por isso.
- As “esplanadas” se multiplicaram pelo país
O governo ampliou as concessões, os donos de restaurantes aproveitaram a deixa e elas brotaram por todo canto, cobrindo quilômetros de calçadas (e mesmo de ruas!) com mesas e cadeiras. Duas ruas emblemáticas do centro lisboeta tiveram o acesso de carros proibido e foram pintadas de azul para este fim: a Rua dos Bacalhoeiros, na Baixa, e a Rua Nova da Trindade, no Chiado. Com isso, muitos restaurantes que não tinham área ao ar livre passaram a ter – foi o caso, por exemplo, do Bairro do Avillez, queridíssimo dos brasileiros comandado pelo chef José Avillez, ex-jurado do reality global Mestre do Sabor, que agora tem 30 novos lugares na porta (do lado de fora é possível pedir pratos das cartas de todos os três restaurantes que funcionam do lado de dentro).
- Caíram os últimos bastiões do lockdown
Muito se especulou sobre o Mercado Time Out com o fim do confinamento. A principal atração de Lisboa, por onde passavam cerca de 4 milhões de pessoas todo ano, não reabriu quando os restaurantes reabriram e não se manifestou por semanas sobre o assunto. O mistério acabou no início deste mês, quando ele finalmente voltou a operar. Outro ícone de Lisboa acaba de anunciar o seu retorno: o SUD Lisboa e a sua piscina com vista infinita sobre o Tejo reabrem na próxima sexta-feira, dia 31 de Julho.
- A pandemia não intimidou a chegada de novidades
Um dos mais exclusivos hotéis do país, o Sublime Comporta inaugurou o seu beach club na Praia do Carvalhal – uma das grandes novidades desde que abriu suas portas se firmando como um dos melhores hotéis portugueses, em 2014. O Grand House, hotel do selo Relais & Châteaux no Algarve inaugurado no ano passado, já tinha o seu, mas agora inaugurou a sua área privativa na areia, com espreguiçadeiras, guarda-sóis e serviços exclusivos. O hotel Fortaleza do Guincho, em Cascais, cujo restaurante é dono de uma estrela Michelin, abriu um novo espaço comandado pelo chef Gil Fernandes, com uma área incrível ao ar livre, de frente para o mar – chama-se Spot. E a chef Marlene Vieira, que ganhou fama mundial com o seu polvo no Mercado Time Out, inaugura esta semana seu mais novo empreendimento, o Zunzum Gastrobar, um projeto incrível no novo porto lisboeta. Esses são apenas alguns exemplos de peso.
- Muitos negócios aproveitaram para se reinventar
Não dá para negar que a pandemia vem deixando um rastro sem precedentes na economia e que muitos negócios se viram forçados a fechar as portas. Outros, entretanto, estão se reinventando. Dois bons exemplos em Lisboa: o Ferroviário, um rooftop famoso pelas festas descoladas que invadiam a madrugada, reabriu com uma bela proposta de brunch; e o Eleven, restaurante estrelado pelo Guia Michelin que sempre se caracterizou por refeições mais formais e elegantes, agora prepara piqueniques.
- Praia agora tem semáforo
A solução encontrada pelo governo para monitorar a frequência das praias foi instalar semáforos, sinalizando a lotação com as cores verde (ocupação baixa, até 1/3), amarelo (ocupação elevada, entre ⅓ e 2/3) e vermelho (ocupação máxima). Melhor nem sair de casa sem verificar, para não correr o risco de perder a viagem. O site e o aplicativo da Info Praias fornecem as informações em tempo real.
- Surgiram ótimas novidades para facilitar a vida – e o isolamento social
Que tal reservar uma espreguiçadeira à beira-mar, pedir um jantar no quarto do hotel ou consultar o menu do restaurante para fazer o pedido em poucos segundos? Essa é a proposta do aplicativo Vincitables, que antes da pandemia se resumia ao gerenciamento de reservas em restaurantes. Agora, a oferta vai muito além e inclui, entre os clientes, grandes resorts como o Pine Cliffs ou Quinta do Lago, no Algarve; hotéis como o Sheraton Cascais; e restaurantes como o Belcanto, duas estrelas Michelin em Lisboa. Outra solução interessante que vi por aqui: delivery na praia. A proposta é do Lagoa ó Mar, o bar-restaurante pé na areia em Melides. É possível fazer o pedido sem sequer ir ao balcão, através de um aplicativo, e a entrega é feita na areia.