Imagem Blog Além-mar Rachel Verano rodou o mundo, mas foi por Portugal que essa mineira caiu de amores e lá se vão, entre idas e vindas, quase dez anos. Do Algarve a Trás-os-Montes, aqui ela esquadrinha as descobertas pelo país que escolheu para chamar de seu
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Do Minho ao Algarve, uma viagem pelos melhores doces portugueses

Ovos moles, tarte de pinhão, coroa de abadessa, papo de anjo, toucinho do céu e outras delícias selecionadas pela chef brasileira Juliana Penteado

Por Rachel Verano
Atualizado em 3 mar 2020, 09h01 - Publicado em 28 fev 2020, 18h37
Queijinho de hóstia da Casa de Chá Maltesinhas (Arquivo Pessoal/Divulgação)
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JULIANA
A chef Juliana: raio-X do país em busca dos melhores doces (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Ovos, açúcar e muita criatividade. Os famosos doces portugueses, nascidos em sua maioria dentro dos conventos séculos atrás, são uma das grandes marcas registradas do país. Praticamente cada confeitaria – chamada por aqui de pastelaria – tem a sua receita secreta (e deliciosa). Curiosa com as suas origens e histórias, a brasileira Juliana Penteado caiu na estrada para mergulhar neste universo. Formada em nutrição, a chef e consultora, que teve passagem pelas cozinhas do Fasano e do Affari, na capital paulista, e cursou o Grand Diplôme da escola Le Cordon Bleu em Londres, comprou um mapa, alugou um carro e, durante um mês, radiografou todas as delícias dos quatro cantos do país. Trinta dias, 4 mil quilômetros e muitas calorias depois, nascia o projeto batizado como Rota Amarela (alguém imagina a razão? ) A seguir, ela lista o seu TOP 10 e dá o caminho das pedras, tintim por tintim, para se jogar nas mais irresistíveis das delícias portuguesas. 

NORTE

1) BOLAS DE BERLIM 

ONDE COMER: Pastelaria Manuel Natário, em Viana do Castelo

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A bola de Berlim da Pastelaria Manuel Natário (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Esta pastelaria é parada obrigatória para quem chega a Viana do Castelo. Todos os dias são feitas mil unidades de bolas de Berlim, um doce de massa frita e passada no açúcar, recheado com um creme à base de ovos. Há dois horários religiosos: 11h30 e 16h30, quando o cheiro invade a calçada. Existe fila real para comprar! E ainda rola aquele desespero de saber se vai ou não conseguir garantir a sua! Assim que peguei a minha, a primeira impressão foi a temperatura daquele tesourinho. A vontade de dar a primeira mordida é tanta que não dá nem tempo de amolecer! Uma curiosidade para os brasileiros e visitantes de outras nacionalidades: durante o verão é muito comum encontrar pessoas vendendo bolas de Berlim nas praias – a versão local do nosso queijo coalho, biscoito Globo ou amendoim! 

2) TOUCINHO DO CÉU 

ONDE COMER: Pastelaria Clarinha, em Guimarães 

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O toucinho do céu da Pastelaria Clarinha (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Durante muitos anos falou-se em três principais receitas de famílias e regiões distintas de Portugal, mas o fato é que o toucinho do céu tem história associada ao Convento de Santa Clara de Guimarães. É um doce que leva amêndoas, ovos, chila e açúcar! Por fim, ganha camada fina de farinha. Curiosidade que vale ser dita: para àqueles que não conhecem a chila (ou gila), ela é da família da abóbora, tem uma coloração verde com riscas brancas e por dentro traz uma polpa branca, bastante fibrosa. É muito comum encontrar doces à base da fruta no Norte de Portugal ou na região do Alentejo.

3) PAPOS DE ANJOS DE AMARANTE

ONDE COMER: Confeitaria da Ponte, em Amarante

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Papos de anjos da Confeitaria da Ponte (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Amarante foi uma das cidades que mais me encantou durante todo o trajeto percorrido. Ruas antigas e estreitas, mas ao mesmo tempo muito iluminadas, repletas de vegetação e o lindo Rio Tâmega que corta todo o centro. Muitos restaurantes, arte, monumentos e pastelarias que trazem a história dos doces conventuais daqui. Ao contrário do que estamos acostumados a ver no Brasil, em Portugal existem diferentes variedades de papos de anjos. O de Amarante é especial: uma folha de hóstia recheada com doce de ovos e amêndoas. O doce é cortado um a um com o auxílio de uma tesoura e, por fim, mergulhado em uma calda de açúcar e passado em açúcar refinado. 

4) PÃO DE LÓ DE AROUCA 

ONDE COMER: Casa do Pão de Ló de Arouca, em Arouca 

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O pão de ló da Casa do Pão de Ló de Arouca (Arquivo Pessoal/Reprodução)

A foto explica muita coisa. É uma fatia que quase não cabe na palma da minha mão. Na boca, sente-se uma suavidade nos sabores e muita umidade. Esse bolo é memorável pelo seu tamanho, sabor e maciez. Assado em formas retangulares bem altas, é posteriormente fatiado em uma espessura considerável. O truquezinho final é a calda de açúcar bem quente em que os pedaços são mergulhados antes de serem embalados individualmente. 

CENTRO

5) OVOS MOLES DE AVEIRO 

ovos moles
Os ovos moles da Peixinho (Arquivo Pessoal/Divulgação)

ONDE COMER: em qualquer endereço que garanta o certificado DOP. Pode ser, por exemplo, a Confeitaria Peixinho, no centro de Aveiro

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A história dos ovos moles é bastante antiga, anterior à criação da cidade de Aveiro. E a receita que comemos hoje não mudou em nada com o passar dos séculos. Existe uma lei local que controla rigorosamente o padrão de qualidade do creme à base de gemas – e que garante que onde houver o selo DOP, a qualidade será sempre a mesma.

6) BRISAS DO LIS 

ONDE COMER: Pastelaria LuziClara, em Leiria 

brisas do lis
Brisa do Lis da LuziClara (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Olhando para elas, não tem como negar que parecem o nosso quindim! Mas quando se dá a primeira mordida, logo se nota a diferença! Cadê o coco na base? É nessa hora que desmistificamos as brisas! Conhecido como o doce da cidade desde 1930, inicialmente era chamado de beijinho (graças a trocadilhos desconfortáveis por parte de alguns clientes, o nome foi alterado). A receita leva gema, açúcar e amêndoas – e tem um segredinho especial na hora que vai ao forno!

7) COROA DE ABADESSA 

ONDE COMER: Pastelaria Alcôa, em Alcobaça 

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A coroa de abadessa da Alcôa (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Alcobaça é uma cidade bastante conhecida pelos doces conventuais que eram feitos no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, uma das obras primas da arquitetura portuguesa. Logo em frente ao monumento fica a Pastelaria Alcôa, uma das minhas favoritas, com filiais em Lisboa. A coroa de abadessa já conquista pela sua apresentação. É feita com amêndoas, avelã, chila caramelizada, açúcar e gemas. É simplesmente divina para adoçar um final de tarde! 

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ALENTEJO

8) QUEIJINHOS DE HÓSTIA

ONDE COMER: Casa de Chá Maltesinhas (Terreiro dos Valentes, 7), em Beja 

queijinhos de hostia
Queijinho de hóstia da Casa de Chá Maltesinhas (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Beja é uma cidade alentejana que tem uma presença bem significativa com relação à doçaria conventual. O Convento de Nossa Senhora da Conceição foi um dos mais ricos do sul do país. Entretanto, em meados do Século 19, a cidade foi palco de grandes destruições patrimoniais e deste antigo convento só se protegeu alguns espaços. Atualmente, encontra-se ali instalado o Museu Regional de Beja, com uma coleção maravilhosa de azulejos. Uma das delícias que me despertou mais atenção foram os queijinhos de hóstia. A massa consiste em uma calda de açúcar, amêndoas e muita gema de ovo. Depois de fria, recheia-se com ovos moles e finaliza-se com duas folhas de hóstia que cobrem  as superfícies.

9) TARTE DE PINHÃO 

ONDE COMER: Aldegundes Freitas (Rua António Aleixo, lote 16), em Alcacér do Sal 

TARTE DE PINHAO
A tarte de pinhão da Aldegundes Freitas (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Alcacér do Sal é uma cidade muito conhecida pela vasta plantação de pinheiro manso, a árvore do pinhão português. Aqui, como uma das poucas exceções na lista, o ovo não é a estrela, mas os frutos secos em abundância e o mel. Super delicada, esta torta que, dizem, teria influências árabes, é basicamente uma massa bem crocante com um caramelo de pinhão. 

ALGARVE

10) ESTRELA DE FIGO

ONDE COMER: Despensa Algarvia, em Faro  

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A estrela de figo da Despensa Algarvia (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Grande parte dos doces algarvios é feita à base de figo, amêndoas e alfarroba, revelando muito da passagem dos árabes pelo território português. As figueiras são onipresentes na região. Para o consumo do figo fresco fresco, o fruto é colhido de manhã e acondicionado em cestos de cana forrados com folhas de figueira ou de videira. Para a secagem, os figos claros são colhidos em meados de agosto e setembro, onde encontram-se mais maduros e com sabores mais intensos. Após a colheita, são expostos ao sol em esteiras de cana e protegidos quando a noite chega, para não sofrerem com a umidade. Neste doce, são cortados em quarto e recheados com amêndoas. Simples e deliciosos.

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