As calçadas de pedras portuguesas continuam as mesmas há séculos. O sobe e desce das colinas, desde sempre. Os bondes elétricos continuam a circular, assim como os elevadores públicos com ares de antigamente continuam a subir e descer o dia todo. As quitandas de bairro resistem bravamente em pleno século 21, as tascas seguem populares e a multidão à espera das fornadas quentinhas de pastéis de nata não diminui.
O melhor de Lisboa não mudou. O resto… bem, o resto mudou. E mudou muito. O improvável: para melhor. A maior prova? Até os taxistas estão simpáticos.
Desembarquei de mala e cuia em Lisboa seis meses atrás, depois de ter vivido aqui por três anos, entre 2005 e 2008. As surpresas são muitas e a sensação que tenho, diariamente, é a de estar no lugar certo, na hora certa. Não sou a única que acha isso.
Em fevereiro, a revista inglesa Wallpaper elegeu a capital portuguesa como a melhor cidade do mundo nos Design Awards de 2017. A justificativa? Hotéis design, feiras de arte, novos edifícios futuristas e um constante buzz. Vou além: as obras em lugares estratégicos vêm sendo concluídas rapidamente e de tempos em tempos a cidade ganha de volta cantinhos especiais (o último deles foi o simpaticíssimo Largo da Graça, onde fica o meu bar preferido do momento: Botequim, mas não contem para ninguém ).
Novos museus, edifícios assinados por grandes arquitetos (entre eles nosso querido Paulo Mendes da Rocha e a inglesa Amanda Levete), novos restaurantes estrelados pelo Guia Michelin, bares dedicados inteiramente a cervejas artesanais e gins, rooftops badalados, lojas incríveis… a lista é infindável e o reflexo vê-se nas ruas da cidade: nunca houve tanto estrangeiro por aqui.
Nem tanta simpatia e sorrisos. Os franceses não param de chegar para ficar – os brasileiros, também não. Ingleses se multiplicam a cada esquina, quase na velocidade dos chineses, caso isso fosse geneticamente possível.
É essa cidade fervilhante que eu vou radiografar neste blog a partir de agora. Seus segredos, suas obviedades, seus personagens, seus ângulos mais especiais. E claro, o resto do país também – porque rasgá-lo de ponta a ponta é mais rápido do que ir de carro de São Paulo à minha Belo Horizonte.
Podem esperar por praias, parques naturais, refúgios no campo, vinhedos, castelos, ruínas. Vai ser fácil, fácil entender porque o estilista Louboutin, o ator John Malkovich, o arquiteto Isay Weinfield, o médico Dráuzio Varella – e eu – caímos de amores. O melhor lugar do mundo é mesmo aqui – e agora.