Lisboa: um bistrô que é também galeria de arte
Pintor Cícero Dias serviu de inspiração para que um ex-banqueiro brasileiro abrisse um charmoso restaurante-galeria no bairro de Campo de Ourique
As mesinhas redondas estão na calçada, grudadas umas nas outras, como reza a cartilha. As cadeiras de palhinha viradas para a rua também, estrategicamente posicionadas para “ver o movimento”. No couvert, crème fraîche; nas sobremesas, plateaux de fromage. Só que o que mais chama a atenção desfilando na rua de tempos em tempos não é o senhor apressado de baguete debaixo do braço ou as elegantes senhoras e artistas de boina; é um bonde elétrico amarelo com ares do século passado.
No Cícero Bistrot, aberto há poucos meses no coração do charmoso bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, França e Portugal se unem numa combinação inusitada, que ainda abre espaço a toques bem brasileiros. Bem-vindos ao primeiro restautante-galeria da cidade.
Com uma área que se divide em diferentes salas em dois andares, o Cícero logo escancara a origem do seu nome: uma homenagem ao pintor Cícero Dias, grande nome do Modernismo brasileiro diretamente relacionado à Semana de Arte Moderna, com telas que decoram paredes inteiras. O “anfitrião” tem a companhia de óleos sobre tela, colagens, lito e xilogravuras de colegas artistas como Félix Farfan, Kilian Glasner, Bruno Vilela, Paulo Bruscky e da vitralista francesa Marianne Peretti, entre outros representantes que vão do modernismo à arte contemporânea do Brasil.
O acervo, composto de cerca de 30 peças originais, é particular e marca a transição na “carreira” do ex-banqueiro pernambucano Paulo Dalla Nora Macedo, agora em sua versão restaurateur lisboeta. “A cultura deve estar em todos os lugares”, diz Paulo. “Inclusive na nossa vida diária.”
As influências da cozinha, a cargo do chef português Hugo Cortez, não são mero acaso: percorrem os sabores dos três países onde o mestre Cícero Dias viveu (França, Portugal e Brasil). E assim ingredientes como dendê, banana e açaí dividem as prateleiras com trufas frescas, presunto cru e bacalhau. O resultado é surpreendentemente delicado, sempre acompanhado de perto por Paulo. “Eu nunca soube cozinhar, mas eu adoro comer bem”, diz o empresário, que faz questão de ir de mesa em mesa cumprimentar os clientes e perguntar o que estão achando.
Paulo não hesita em sugerir os melhores pratos ou recomendar com conhecimento os vinhos da carta que acompanham cada escolha. E faz questão de frisar que só entram na cozinha ingredientes de altíssima qualidade – o que ajuda a explicar os preços do cardápio, onde os pratos individuais chegam a custar 39 euros. Se vale a pena? Quando você comeu num verdadeiro museu?
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