Além-mar

Rachel Verano rodou o mundo, mas foi por Portugal que essa mineira caiu de amores e lá se vão, entre idas e vindas, mais de dez anos. Do Algarve a Trás-os-Montes, aqui ela esquadrinha as descobertas pelo país que escolheu para chamar de seu
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O Asiático: japonês com bossa (e sem cream cheese) chega ao Bairro Alto

A novidade do chef Kiko Martins, mesmo servindo uma cozinha "de fusão", é uma casa japonesa, com certeza

Por Rachel Verano
Atualizado em 6 mar 2020, 13h38 - Publicado em 30 set 2019, 12h05
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O Asiático, do chef Kiko, em pleno Bairro Alto: agora com um balcão japonês (Bruno Barata/Reprodução)

Que os japoneses de Lisboa estão cada vez mais numerosos (e bons) já não é novidade. Eu mesma já falei aqui do surpreendente menu degustação do Tsukiji, que usa das escamas às vísceras do peixe; dos saborosos ramens do Afuri, onde voltei recentemente para conferir e concluir que seguem ótimos; e daquela que considero a melhor experiência oriental da minha vida, um jantar conduzido pelo chef Paulo Morais no balcão do Kanasawa.

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A decoração da casa: todo um continente nos tetos e paredes (Bruno Barata/Reprodução)

Há outros tantos bons exemplos pela cidade (assim como maus) – normal em casos de moda. Sim, a moda dos japas está no auge aqui em Lisboa. É por isso que eu fico sempre ressabiada ao saber que tem um “novo súshi” na área (aqui a entonação é na primeira sílaba Férias das férias – você sabe parar?). Sei que a chance é grande e tenho pavor de identificar no menu cream cheese, alho poró, frutos vermelhos e quetais (gosto é gosto e não se discute, mas eu particularmente detesto as invencionices e mirabolâncias dos ditos “japoneses de fusão”).

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Os sushimen em ação e meu primeiro coquetel em destaque: deliciosa combinação de sakê, pêra e gengibre (Bruno Barata/Reprodução)

Então eu me sentei num dos 11 lugares do novo balcão japonês do Asiático, restaurante de sotaque oriental do onipresente chef Kiko Martins em pleno Bairro Alto (até então sem representantes da Terra do Sol Nascente), e logo torci o nariz com o cardápio, que descrevia receitas com foie gras, trufas, tapioca. Ainda bem que o Nashi Sour, um coquetel à base de sakê, pêra e gengibre, acalmou meu coraçãozinho. O que saiu a seguir das mãos do sushiman nepalês Anil foi uma sucessão de delicadezas surpreendentes.

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Anil em ação: delicadeza em todos os detalhes (Bruno Barata/Reprodução)

Começamos com um sashimi do peixe lírio acompanhado por um suave molho de miso, gengibre e laranja, que abriu com chave de ouro:

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(Bruno Barata/Reprodução)

Na sequência aterrissou uma ousada combinação de sashimis de salmão e camarão do Algarve coroados com ovas, sobre uma cama de grãos generosos de tapioca trufada (uau, tapioca; uau, trufada; uau, não era nada do que eu pensava; uau, era bom):

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(Bruno Barata/Reprodução)

No terceiro prato entrou em cena um maçarico – para arrematar o que apelidamos de “bitoque nipônico” (bitoque é um prato português que leva bife e ovo): uma dupla de niguiris de wagyu com ovos fritos de codorna por cima:

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(Bruno Barata/Reprodução)

Para encerrar, tataki de espadarte rosa com texturas de beterraba:

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(Bruno Barata/Reprodução)

Entra prato, sai prato e ainda deu tempo de provar outro ótimo coquetel de shochu, cereja e citronela e embalar a noite de sábado com um vinho branco geladinho da região de Lisboa.

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Anil e o maçarico: bitoque nipônico (Bruno Barata/Reprodução)

Entre um crème brûlée com sorvete de goiabada, um curry doce de lichias e tapioca com coco, manga e maracujá, optamos por um brownie com mousse de matcha e farofinha de avelãs e cerejas:

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(Bruno Barata/Reprodução)

Resumo da ópera: o balcão de sushi do Asiático é um japa de fusão. A conclusão da experiência: isso pode ser bem bom. Especialmente na companhia de uma bela carta de drinques e das sugestões do simpático Anil e suas mãos mágicas.

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Clássico combinado de rolls e sashimi: nem só de fusão vive o Asiático (Bruno Barata/Reprodução)

A quem interessar possa: a carta também traz os clássicos sushis, sashimis e combinados sem ingredientes ou misturas corajosas.

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