Imagem Blog Além-mar Rachel Verano rodou o mundo, mas foi por Portugal que essa mineira caiu de amores e lá se vão, entre idas e vindas, mais de dez anos. Do Algarve a Trás-os-Montes, aqui ela esquadrinha as descobertas pelo país que escolheu para chamar de seu
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Decifrando o português de Portugal no dia a dia – curiosidades

A caminho da papelaria para comprar o esferovite parei para tomar uma bica e encontrei os putos do vizinho!

Por Rachel Verano
Atualizado em 11 jul 2022, 16h02 - Publicado em 11 jul 2022, 10h00
Prédios de fachadas em tons pastel com luminárias e um pedaço de um bonde elétrico com uma placa que diz M Moniz
Elétrico 28, o mais famoso bonde de Lisboa (Bruno Barata/Reprodução)
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Que o português fala bem mais rápido e engole algumas vogais (às vezes sílabas inteiras) já não é novidade para ninguém, mas você já percebeu o “ão” no final de algumas palavras aportuguesadas? Junto com o algumas consoantes juntas que soam como “x” em alguns casos (pixina, por exemplo), não tem como passar batido por edredão (edredon), Amsterdão (Amsterdam), Irão (Irã)… Abaixo, um pequeno dicionário de utilidades (ou não) para o dia a dia na Terrinha:

Bonde elétrico amarelo em uma rua calçada de pedras, cercada de prédios baixos de fachadas coloridas
Elétrico no Chiado: transporte e atração turística. (Aayushi Gupta | Unsplash/Reprodução)

TRANSPORTES

A rede de transportes públicos é formada por autocarros (ônibus) metro – diz-se métro (metrô) e comboio (trem), além de elétricos (bondes) e elevadores. Para usá-los é preciso ter um bilhete (ticket, passagem) e validá-lo na maquininha ao entrar no veículo. Quer ir mais rápido e com mais autonomia? Escolha entre táxis e TVDEs (transporte alternativo via aplicação – aplicativo – como Uber e Bolt, os principais em Portugal). A maioria das cidades tem ainda várias opções da chamada mobilidade sustentável – com motas (motos), bicicletas elétricas e trotinetes (patinetes) para alugar por período de uso. Se preferir conduzir (dirigir) um carro, não se esqueça de trazer a sua carta de condução (carta | carteira de motorista) – depois escolha entre carros descapotáveis (conversíveis), tradicionais, elétricos etc. Atenção máxima às passadeiras (faixas de pedestres): os peões (pedestres) têm sempre prioridade e parar para eles é obrigatório! Caso vá viajar, prepare-se para as portagens (pedágios), que são bem salgadas – de Lisboa ao Porto, por exemplo, um carro normal paga € 22,40. Pode calcular o valor da sua viagem neste link. Tenha sempre dinheiro, é comum as máquinas não aceitarem alguns cartões ou estarem com defeito. Por fim, se estiver com toda a família pode querer alugar uma carrinha (van) – com ou sem condutor (motorista).

Estante de uma papelaria com caixas de acrílico cheias de canetas coloridas
Papelaria: o paraíso das canetas de feltro, afias, agrafadores… (Lumen Soft | Unsplash/Reprodução)

PAPELARIA

Bem-vindo ao mundo do esferovite (isopor), do X-ato (estilete) e do afia (apontador)! Precisa juntar papéis? Compre um agrafador (grampeador) ou uma fita cola (durex). A documentação fica sempre mais organizada num dossier (ficheiro) com micas (folhas plásticas para guardar papéis). Precisa identificar? Nada melhor do que as canetas de feltro (canetinhas). E se tiver crianças a tiracolo, garanta plasticina (massinha) e pioneses (aqueles alfinetes de pregar coisas na cortiça).

Uma máquina de café expresso enchendo uma xícara de café branca
Café em Portugal: abatanado, bica ou meia de leite? (Tabitha Turner | Unsplash/Reprodução)
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CAFÉ

    Ir a um café em Portugal é se deparar com palavras como abatanado (café cheio, tipo americano), meia de leite (café com leite) e bica (o cafezinho nosso de todo dia). Se preferir, especifique que quer a chávena (xícara) fria. Fora do universo do café haverá sempre sumo (suco) e água, que virá sempre acompanhada da pergunta: fresca (gelada) ou natural (à temperatura ambiente)? Para comer, a tosta (tostex) pode ser mista (queijo e fiambre – presunto) ou só de queijo. A sanduíche (sim, no feminino) é sinônimo de sanduíches frios; se quiser quente, são as sandes. Na vitrine, costuma ter sempre pastel de nata; merenda (salgado de massa folhada recheada de queijo e fiambre); rissol (risole) – que geralmente é de camarão, de carne ou de leitão; e pastel de bacalhau (bolinho de bacalhau). Entre os pães, quase sempre há croissant – mas não espere sempre o francês, de massa folhada; ele costuma ser o croissant do Porto, em massa tipo brioche. Tem também bolinha (pão pequeno, em formato de bola), cacete (baguete) e o pão de deus (um pão doce coberto com um creminho de ovos e coco). Para acompanhar, manteiga e doce ou compota (geleia). Esqueça o requeijão cremoso de espalhar com a faca que temos no Brasil. O requeijão em Portugal lembra a textura aerada da ricota e costuma ser fresco, de partir. Por fim, os clássicos terminam com os queques (bolinhos comuns, tipo muffin) e bolos de arroz (literalmente; feitos numa forma cilíndrica e cobertos com uma camada crocante de açúcar). Ao pagar, pode querer parte do troco em rebuçados (balas) ou pastilhas elásticas (chicletes).

    Mulher loira de cabelo no ombro fazendo escova num salão de cabeleireiro
    No cabeleireiro, fazendo um brushing. (Adam Winger | Unsplash/Reprodução)

    SALÃO

    Os serviços mais recorrentes são o corte escadeado (repicado), as madeixas (mechas) e o brushing (escova), perfeito para acabar com os remoinhos (redemoinhos). Para finalizar, espuma (mousse) ou laca (laquê). No quesito manicure, já não é tão comum mais encontrar quem passe verniz (esmalte). O mais certo é achar manicures que fazem gelinho (unha de gel).

    Uma família com a mãe de vestido vermelho e chapéu, o pai de jaqueta e calça jeans, um bebé e duas crianças caminha por um campo de plantas verdes
    Família completa: pais, bebé e putos. (Jessica Rockowitz | Unsplash/Reprodução)
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    CORPO HUMANO

    Rabo e cu significam a mesma coisa: bunda (embora seja comum e não horrível como no Brasil, cu é menos bonito). E do que é feita a bunda? De nalgas (nádegas). Decifrando o português de Portugal no dia a dia – curiosidades Já que estamos nas partes baixas, pila é pinto e pipi é o jeito mais comum (e meigo) de chamar o órgão sexual feminino. E, pra já, os peitos são chamados de mamas. Anca é quadril, barriga da perna é panturrilha e, na cara (rosto), temos as pestanas (cílios). Sinais são pintas. No ramo escatológico, fazemos cocó (cocô) e damos bufas (soltamos puns). Os adolescentes costumam ter borbulhas (espinhas) e, quem está gripado, tem ranho (meleca) no nariz. Quando nos magoamos (machucamos), podemos fazer nódoas negras (roxos) pelo corpo, ter comichão (coceira) e também podemos partir (quebrar) os ossos. Por fim, as mulheres grávidas esperam bebés, que quando crescem viram miúdos ou putos (crianças).

    Mulheres de peruca cor de rosa, homens de chapéu e pessoas fantasiadas tocam num bloco de carnaval em Lisboa
    O carnaval este ano em Lisboa: bué fixe! (Hai Adur/Reprodução)

    OUTROS

    O bilhete de identidade em Portugal é o cartão de cidadão. E o CPF é o número de contribuinte (também chamado NIF, ou número de identificação fiscal). As ordens de grandeza são lúdicas. Mil é mil, milhão é milhão e um bilhão são mil milhões. O que é bonito é giro. O que é muito é bué, o que é legal é fixe e o que é muito legal é bué fixe. 

    Veja também como decifrar o português de Portugal nas lojas, nos restaurantes, nos supermercados e nos hotéis.

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