Podemos viajar de diversas formas. De avião, ônibus, carro ou trem. Com luxo ou sem grana. Sozinho ou acompanhado. De mala de rodinha ou mochilão. Você pode viajar até de bicicleta. Faz pouco tempo, aperfeiçoei minha paixão, viajei andando, tomei coragem e sai caminhando. Fiz minha primeira travessia.
Tra·ves·si·a, substantivo feminino, viagem ou passagem através de grande extensão de terra ou de mar. Cruzei o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, são 35 quilômetros percorridos em três dias de caminhada no deserto brasileiro dos milhares de oásis. Cada passo valeu e foi um ótimo desafio para uma primeira experiência.
Quando fiz meu primeiro mochilão, descobri que precisava de pouco para viver. Não é romantismo, é necessidade. Você carregará tudo o que for necessário em suas costas. Pra mim, viajar com pouca bagagem não é opção, mas uma necessidade.
Gosto da sobriedade de se andar com pouca bagagem. Pouca bagagem confere liberdade. Liberdade para experimentar, para arriscar e para descobrir.
As viagens se diferem não apenas por suas diversas formas, as razões também são inúmeras e possuem papel fundamental nos caminhos que você seguirá. Uma pausa merecida das obrigações, curiosidades e novas descobertas, um coração partido ou a realização de um sonho, tudo vale. Existem muitos motivos para viajar, eu viajei em busca de um reencontro.
Somos excessivamente concentrados em nosso trabalho e obrigações, mas pouco em viver a vida de forma plena. Não? Quantas horas por dia você gasta com locomoção e trabalho? Quantas horas por dia você investe em você?
As viagens quebram a rotina e temperam a vida, fazem você experimentar o sabor de encarar o que não é possível entender, o desconhecido. As viagens lhe ensinam e quanto mais eu cresço, menor me sinto. A beleza da vida também é isso.
Precisamos conhecer o que somos para saber o que podemos ser. Não podemos nos esquecer de onde viemos para melhor escolher para onde vamos. Eu viajei em busca de um reencontro, e aconteceu. Sob o céu do meio dia, com minha mochila nas costas, convivendo com as dores e com o cansaço, eu me encontrei. Eu me reencontrei, pois eu estava lá o tempo todo.
Minha mochila começou pesando sete quilos, 35 quilômetros depois, pesava 70. E de onde vem toda essa contradição de viajar leve e voltar com excesso de bagagem?
Deve ser a areia, que vai te acompanhar por toda jornada e também por dias depois dela. Areia que grudava no suor provocado pelo esforço sob forte sol e calor. Deve vir do cansaço acumulado, das dores enfrentadas e do conforto abdicado. Olha, acho que vem mesmo de todos os pensamentos e sentimentos acumulados.
Minha primeira travessia foi uma grande viagem interior e as viagens mais desafiadoras são as interiores. Foi uma viagem para cuidar do coração, afinal, como canta Criolo, “o coração é um universo e ainda tem que bombar o sangue”.
Falando em universo, se você me segue aqui sabe que sou apaixonado pelo céu e o Parque Nacional Lençóis Maranhenses é um lugar incrível para se sentir tocando as estrelas.
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