Mais esperada que a chegada do messias, a vacina finalmente é uma realidade. Ainda que no Brasil ninguém sentirá a agulha no braço antes da virada do ano, é um tufão de otimismo saber que países como o Reino Unido, os Estados Unidos e a Rússia já iniciaram o processo de imunização contra a covid-19. A prioridade mais imediata, claro, é proteger as pessoas mais vulneráveis ou expostas ao risco, como idosos e profissionais de saúde. Mas a questão já está pairando no ar: quem for vacinado poderá sair viajando livremente pelo mundão de imediato?
Vacina significa luz verde para viajar?
Infelizmente, não é bem assim. Apesar de todo o otimismo que a chegada da vacina traz ao mercado do turismo, a paciência que tanto exercitamos em 2020 terá que durar mais um pouquinho, até que fronteiras sejam amplamente abertas ao redor do mundo. O primeiro fator a ser levado em conta é que a campanha mundial de vacinação será uma odisseia logística de proporções inéditas. Isso significa que passarão vários meses (talvez anos) até que uma parcela significativa da população mundial esteja imunizada e tenhamos a tão sonhada “imunidade de rebanho”.
As pessoas vacinadas terão passe livre no mundo todo?
Aí entra o segundo fator: a vacina impede que o vacinado adoeça caso entre em contato com o coronavírus. Porém, ainda não se sabe se as pessoas imunizadas podem continuar a transmitir o vírus. Até que isso fique claro, não é seguro aumentar drasticamente a circulação de pessoas pelo globo, para o bem de quem ainda não tomou a vacina. De acordo com um informe publicado pelo renomado Johns Hopkins Coronavirus Resource Center, dos Estados Unidos, “será importante entender se os indivíduos vacinados têm menos propensão a transmitir o vírus. Isso é provável, mas não garantido. Se a vacina não apenas proteger contra o vírus, mas também reduzir a transmissão, e assim for por vários anos, nós poderemos chegar a um estado de imunidade de rebanho no qual máscaras e distanciamento social não serão mais necessários”. A boa notícia, nesse sentido, é que há evidências, divulgadas recentemente, de que a vacina de Oxford, desenvolvida em parceria com o laboratório AstraZeneca, poderia impedir também a transmissão. E este imunizante é, justamente, a principal aposta do governo brasileiro.
Teremos “passaportes de saúde”?
Desde que a pandemia começou, a criação de um “passaporte de saúde” como forma de controlar quem pode (ou não) voltar a viajar esteve entre as hipóteses levantadas por analistas de tendências. Isso já está em vias de se tornar uma realidade. No fim de novembro, a IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo) anunciou o lançamento, previsto para 2021, do IATA Contactless Travel App. E o aplicativo CommonPass já está sendo testado por grandes companhias aéreas – como United, JetBlue e Lufthansa – para verificar os testes de coronavírus exigidos no embarque rumo a certos destinos.
Em linhas gerais, os dois aplicativos servem para verificar a autenticidade dos testes apresentados pelos passageiros através de certificados emitidos pelos laboratórios, informar os passageiros sobre os requisitos de saúde para entrar em cada país/região e agilizar os controles de segurança nos aeroportos com tecnologia touchless. No futuro, é provável que essas ferramentas sirvam pra checar os comprovantes de vacinação – como uma versão digital do certificado internacional de vacina contra febre amarela, por exemplo.
A vacina será obrigatória para viajar?
Por 10 votos a 1, o Supremo Tribunal Federal autorizou na quinta-feira (17) medidas restritivas para quem não quiser se vacinar contra a Covid-19. Isso quer dizer que, ainda que a vacinação não seja obrigatória no Brasil, quem não for imunizado pode ser impedido de entrar em certos lugares, como aviões. Medidas assim podem vir a ser uma tendência global. A australiana Qantas foi a primeira companhia aérea a anunciar que vai recusar passageiros rumo à Austrália que não tiverem tomado a vacina de covid-19, sendo seguida pela sul-coreana Korean Airlines.
O que podemos esperar a curto prazo?
É inevitável que a chegada da vacina aqueça o mercado de viagens, principalmente nos países que saíram na frente. Pelo andar da carruagem, os europeus serão os primeiros a poder circular mais livremente, pelo menos dentro da União Europeia. Assim como, no último ano, foram estabelecidas “bolhas de viagens” entre países e regiões consideradas seguras, é possível que, em um primeiro momento, países com alta porcentagem de vacinados iniciem um intercâmbio semelhante.
Parte da sociedade mais afetada pela pandemia, os idosos serão os primeiros a receber a vacina. Na Europa e nos Estados Unidos, onde a terceira idade é responsável por uma parcela significativa do mercado do turismo, me parece bastante provável que eles também sejam os primeiros a retomar as viagens de curta e média distância e até que haja um boom histórico nesse mercado. Eles merecem!