Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Tailândia: Blogueira (pensa que) é seqüestrada por ciganos do mar

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 16h07 - Publicado em 15 jan 2009, 11h01

Tudo corria bem na viagem de Krabi a Koh Bulone Leh, uma ilha no extremo sul da Tailândia, na província muçulmana de Satun, quase na fronteira com a Malásia. As três horas de van foram confortáveis, o píer de onde saía o barco, no povoado de Pak Bara, era bastante ajeitado para um destino que ainda não caiu na boca do povo e o barco era relativamente cômodo e seguro.

“Nossa, que bom que a viagem não teve nenhum perrengue, né?”, comemorei eu antes da hora.

O barco já se aproximava da ilha, e nós já podíamos avistar as praias inacreditavelmente desertas banhadas pelo azul escandaloso do mar de Andaman, algo que só imaginei existir nas Maldivas ou na Polinésia. Só que passamos batido por todas elas. E o barco parou numa baía deserta e desligou o motor. “Ai ai ai”.

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Então dois barcos de pescadores maltrapilhos e com cara de poucos amigos encostaram no nosso barco. Eram visivelmente representantes da comunidade Chao Leh (ciganos do mar que viviam de ilha em ilha até serem forçados pelos governos malaio e tailandês a sossegarem o apito em terra firme). Pronunciando coisas indecifráveis, o nosso “motorista” indicava que tínhamos que escolher um dos dois. Os sete passageiros do barco ficaram imóveis. “Alguém sabe que diabos está acontecendo?”.

Depois de muito sufoco, um dos representantes do lado ocidental do planeta conseguiu deduzir: “Ele disse que quem for ficar nos resorts Marina ou Pangsang devem ir nesse esse barco, o resto no outro”. Como não tínhamos reserva, fizemos unidunitê e embarcamos junto com mais três alemães. Quando os barcos se afastaram, acenamos aos nossos ex-companheiros como se nunca mais fôssemos ver-nos com vida.

Daí veio a pegadinha. Com gestos rudimentares, os “piratas” começaram a pedir dinheiro. Nós, que tínhamos comprado um tíquete que supostamente dava direito a chegar até Koh Bulone, nos recusamos. Eles desligaram o motor e fez-se o impasse. Entre gestos e caras feias de ambas as partes, passamos alguns minutos à deriva até que os Chao Lehs ligaram novamente o motor e ameaçaram devolver-nos ao barco original, que se recusou a aceitar-nos. “Aaahhhh, eu só quero chegar naquela maldita ilha!!!!”, pensava eu.

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Diante daquela situação sem perspectivas de solução, finalmente cedemos e pagamos um euro cada um (obviamente não era muito, mas era questão de honra) , para andar finalmente chegar até a praia. Para finalizar, e quebrar o clima de cara de bunda, uma menina alemã teve o dom de cair do barco na hora do desembarque e afundar de mochila e tudo. Foi o que faltava para explodirmos todos numa mega gargalhada de alívio.

Mais tarde, conversando com os locais da ilha, descobrimos que não, não fomos seqüestrados. Como Koh Bulone não tem píer, os barcos maiores contam com a ajuda dos pescadores para desembarcar todo mundo. Só que absolutamente ninguém avisa os pobres turistas na hora da compra da passagem de barco. Também é assim na hora de ir embora e na ilha vizinha de Koh Lipe onde, com a maior cara de pau, a lancha grande estaciona na praia depois de desovar os passageiros à mercê dos pescadores numa plataforma precária construída no meio do mar.

Relaxa e goza. Porque ser turista também é padecer no paraíso.

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