Achados

Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Restaurantes escondidinhos de Barcelona que valem a viagem: Sense Pressa

Uma joia rara atendida pelos próprios donos, com comida "de verdade" e oito mesas

Por Adriana Setti
Atualizado em 26 set 2019, 14h41 - Publicado em 29 ago 2019, 08h35

A série “Restaurantes Escondidinhos de Barcelona” é um clássico deste blog. Mas há tempos não descobria um lugar com tanto mérito para entrar nesta ilustre seleção. Em plena Enric Granados, uma das ruas mais charmosas do bairro do Eixample, a portinha de vidro do Sense Pressa é tão discreta que passa desapercebida entre bares cheios da pompa e novidades que não param de brotar. Além de estar camuflado, este achado tem frequentadores assíduos que não entregam o ouro a qualquer um. Afinal de contas, trata-se de uma pequena joia com apenas oito mesas. E não é fácil conseguir uma reserva.

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Oito mesas. E é isso. (Sense Pressa/Divulgação)

Não se faz mais restaurantes como o Sense Pressa. José Luis Díaz, o pai. Víctor, o filho. Os dois, lado a lado, operando os fogões e recebendo cada comensal pessoalmente. A seleção de pratos, em porções fartas, é um porto seguro: cozinha sem mistérios, invencionices ou espuminhas. Como diz o adorável crítico gastronômico Pau Arenós em sua resenha “O comensal se sente seguro”, sobre o Sense Pressa, “aqui uma ervilha é uma ervilha”. E das boas. Produto de primeiríssima tratado com carinho é o bastião da casa.

A carta lista bacalhau em várias versões, pratos à base de arroz, carnes de primeiríssima e coloca muita ênfase nos peixes e frutos do mar. Mas poucos habitués se dão o trabalho de abri-la. Quando já estava decidida pelo risoto de ceps seguido de bacalhau “à minha maneira” (fosse qual fosse), José Luis veio em minha direção com um sorriso maroto (talvez ao constatar a fúria com que devorava as azeitonas suculentas do couvert) e cantou uma lista interminável de tentações do dia.

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Azeitonas suculentas com boquerones para começar (Sense Pressa/Divulgação)
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E lá fui, de cabeça, nas amêijoas (vôngoles?) ao molho verde – cremosinho, leve, com um toque civilizado de alho – para começar. Devidamente arrematadas com um suquet (algo como um ensopado) de tamboril com favas.

Se o olho do dono engorda o rebanho, as vacas de José Luis são das mais rechonchudas. Sempre transitando entre cozinha e sala, ele parece observar a reação dos comensais a cada garfada e manda seus recadinhos aos garçons, que trabalham com uma espécie de ponto no ouvido (isso deve ser meio estressante). Em pleno mês de agosto, quando muita gente tira férias, havia dois garçons para oito mesas – sendo que, em Barcelona, a média costuma ser de um atendente por DEZ mesas.

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Jose Luis: o olho do dono engordando o rebanho (Adriana Setti/Divulgação)
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Mais do que à vontade, entre aquelas paredes de tijolos à vista forradas de estantes de vinho, finalizei a noite com três tijolos da melhor “leite frita” (um demônio espanhol feito de farinha e leite com um toque de canela)  da minha vida, com sorvete de torrone. Sem culpa. E sem pressa, como pede a casa, em bom catalão.

Obs: sacar o celular para fotografar os pratos (ou para qualquer outro propósito) combinava tão pouco com o mood do lugar que eu preferi não fazer isso. E as fotos nem ficariam grande coisa, porque a cozinha do Sense Pressa não é para fazer bonito no Instagram. É para ser gostosa mesmo.

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