Jean-Michel Cousteau está com 81 anos. Mergulha desde os sete anos de idade, o que significa sete décadas de cilindro nas costas e, muito provavelmente, que ele é o ser humano vivo mais longevo no esporte. O francês radicado nos Estados Unidos é uma lenda vida, não somente por ser filho do visionário ambientalista Jacques Cousteau. Herdeiro da ideologia do pai (ainda que tenham tido sérias divergências e rompimentos), o explorador, educador, produtor de documentários e ambientalista é hoje uma figura crucial na inglória luta pela preservação dos oceanos, através de sua Ocean Futures Society. Quando descobri que havia um resort de pegada ecológica com o nome deste homem em Fiji, o lugar imediatamente entrou nos meus planos.
O Jean-Michel Cousteau Fiji Islands Resort fica nos arredores do vilarejo de Savusavu, na ilha de Vanua Levu, a segunda maior do arquipélago, mas ainda muito pouco povoada. Fiji não é um país que prima pela beleza de suas cidades, mas a graciosa Savusavu, de 5 mil habitantes, é um caso à parte. À beira de uma baía linda de morrer, ela tem um mercado cheio de vida, restaurantes gostosinhos e uma marina charmosa. Fui para ficar 4 dias e acabei ficando quase duas semanas…
Monsieur Cousteau foi um dos fundadores do hotel, que abriu as portas em 1995, numa época em que ainda não se falava tanto em sustentabilidade na indústria do turismo. O hotel tem horta orgânica, fomenta projetos sociais na comunidade local, se empenha na conscientização ecológica infantil, entre outras práticas do bem. Anos depois de aberto, o resort mudou de mãos e o ambientalista ficou com o que lhe interessa de verdade: o centro de mergulho Jean-Michel Cousteau Dive Center. Ao contrário do que o hype em torno do nome faz supor, o resort em si não é muito focado no mergulho. Ok, o pessoal do dive center faz demonstrações gratuitas na piscina para instigar os clientes não mergulhadores e três imersões por dia estão sempre programadas. Mas a verdadeira essência do lugar é ser um resort family friendly, com acomodações impecáveis em várias faixas de preço e serviço afiadíssimo. “Muitos hóspedes são habitués, e alguns acabam se engajando e prestando serviços sociais à comunidade local durante as férias, como dentistas, osteopatas etc”, me conta o gerente geral Mark Slimmer. É muito bacana que o hotel faça essa ponte.
Grande parte dos hóspedes, quando estive por lá, eram casais com filhos. Mas a divisão entre a área familiar e a adults only é feita com maestria e sutileza. “Existe um dogma na indústria da hotelaria que diz que um hotel family friendly não pode ser bom para lua de mel, mas nós apostamos nesse conceito”, diz Slimmer. De fato, funciona. Durante o dia, os pequenos simplesmente desaparecem e as famílias contam com uma área reservada no restaurante. O terreno é enorme e a criançada se esbalda em casinhas na árvore e piscina própria, amparada por uma equipe de monitores de uma doçura inacreditável. Os fijianos amam crianças em geral (isso me chamou muito a atenção em várias ocasiões), o que faz do país um lugar fabuloso para viagens em família.
Eu estava no modo lua de mel e adorei o lugar. Democrático, o hotel tem 25 acomodações repartidas em seis tipos de bures (a palavra fijiana para bangalô), além de uma espetacular villa, onde tive o privilégio de passar duas noites. Tudo é muito espalhado para garantir sossego e privacidade. Alguns bures têm vista para o espetacular jardim e outros têm vista para o mar. Por questões ecológicas, apenas a villa tem ar condicionado. Ainda assim, estive por lá no auge do verão e ligar o aparelho não fez a menor falta. Todos os bures têm terraços amplos e são construídos de maneira inteligente, com materiais tipicamente fijianos (madeira, palha) e persianas lindas de madeira que aproveitam ventilação natural e integram os ambientes com a natureza. Uma sacada: não há televisão nos quartos. Quem é o louco que precisa de TV num lugar desses? Em tempo: a internet wi-fi funciona que é uma maravilha e está incluída no preço da diária.
Minha villa era um latifúndio. O quarto era integrado com um banheiro deslumbrante, com uma jacuzzi que sobrepassa um vidro até dar numa cachoeira! No lado de fora, havia terraço, day bed, jardim, espreguiçadeiras, rede e uma piscina privada que acabou com qualquer vontade que eu pudesse ter de fazer outra coisa além de apoiar os bracinhos na borda e ficar olhando o mar, o céu, os passarinhos… As fotos dizem mais, veja abaixo:
Em Fiji é um pouco redundante dizer que o staff era amabilíssimo. Mas a equipe do JMC Resort é digna de nota, com menção honrosa para a figuraça Riko, que encarnou uma espécie de baby-sitter de gente grande para mim enquanto estive por lá. Os hóspedes são recebidos com uma esfoliação e massagem relaxante nos pés logo depois do check-in, uma tradição fijiana tão doce quanto a música parte-coração que eles cantam a cada despedida (eu chorei todas as vezes em que ouvi essa música, e não foram poucas). Vejam o vídeo de fim de ano dessas figurinhas. Como não amar?
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Todas as refeições estão incluídas na diária. Apetites mais vorazes podem achar as porções um pouco comedidas, mas a qualidade da comida é irreprochável. Os pratos são leves – ideal para o calor – e feitos com ingredientes frescos. Muitos deles vêm da horta orgânica do hotel. Estou até agora sonhando com o filé de atum que provei num dos jantares. Cada hóspede tem direito a um drinque por dia (o barman é o mago do bloody mary, convém saber). O resto é pago à parte. Depois do jantar, rola uma musiquinha de violão na beira da piscina e cerimônia do cava, uma tradição fijiana que gira em torno de uma bebida feita de uma raiz que, em excesso, deixa o sujeito meio relaxadão (os fijianos tomam isso o tempo todo!).
Jean-Michel vai ao hotel pelo menos uma vez ao ano. E o staff do dive center visivelmente o adora. Como não podia deixar de ser, o barco e os equipamentos no dive center são de boa qualidade. O resort está estrategicamente localizado a uma hora de lancha de um dos melhores pontos de mergulho de Fiji, a ilha de Namena. Mas para que as viagens para lá sejam possíveis, é preciso haver um mínimo de seis mergulhadores, o que não aconteceu enquanto estive por lá, por incrível que pareça – um efeito colateral de viajar na baixa temporada, que vai de fevereiro a abril, a época de chuvas. Quando não rola Namena, os mergulhos acontecem em pontos próximos ao hotel, dentro da baía de Savusavu, bem modestos para os padrões de Fiji.
Como chegar: Há voos diretos para a pista de pouso de Savusavu a partir de Nadi, o aeroporto internacional de Fiji.
Informações sobre o hotel você encontra aqui
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