Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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O Marsella é nosso e o povo quer absinto!

Aberto desde 1820, o bar é o único imóvel ocupado de um edifício semiabandonado e caindo aos pedaços na Carrer Sant Pau

Por Adriana Setti
Atualizado em 26 set 2019, 17h06 - Publicado em 8 out 2013, 10h07
marsella: o bar mais tradicional de Barcelona fecha, não fecha, fecha, não fechaO podrão secular Marsella: o bar mais tradicional de Barcelona fecha, não fecha, fecha, não fecha

É proibido cantar. Também é explícita, bom que se diga, a proibição de subir na mesa. Mas depois de umas doses de absinto (um é pouco, dois é demais), a demoníaca especialidade do bar, não é raro que um cliente infrinja as normas seculares da casa e seja arremessado para o lado de fora pelo porteiro mal encarado – a pedido do irlandês sanguíneo que soma décadas de muito mau humor atrás do balcão.

Mas nada é garantido depois do segundo absintoMas nada é garantido depois do segundo absinto

O ar cheira fortemente a anis. O pó forma uma capa preta e pegajosa sobre as garrafas, ventiladores, lustres e vitrais modernistas – pó, este, que viu a Guerra Civil espanhola acontecer do lado de fora. O calor, no verão, é matador. E o banheiro, sendo otimista,  é um dejá-vù das festas dos tempos da faculdade.

O bar é o único imóvel ocupado de todo o edifícioO bar é o único imóvel ocupado de todo o edifício

O Bar Marsella é assim. E, justamente por tudo isso, é lugar de culto em Barcelona, além de ponto de encontro de jovens estrangeiros, que se misturam à fauna habitué da região para evocar os fantasmas de Miró e Picasso (diz a lenda que eles já frequentaram o lugar).

Aberto desde 1820, o bar é o único imóvel ocupado de um edifício semiabandonado e caindo aos pedaços na Carrer Sant Pau, no bairro do Raval. Ainda que ocupe numa das esquinas mais encardidas do bairro, o Marsella está numa região onde brotaram hotéis de design, bares e restaurantes da moda nos últimos anos. Cientes do filé imobiliário que tinham em mãos, os donos decidiram vender o edifício a investidores estrangeiros. Dia 16 de setembro era o último dia para que o bar fosse desocupado.

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Numa cidade que preserva o seu passado com carinho, como Barcelona, essas coisas não passam em branco. O fechamento de um bastião boêmio como o Marsella gerou indignação nas ruas e na mídia, levantou um abaixo assinado de mais de 10 mil firmas e comoveu a prefeitura. As últimas notícias são de que a prefeitura de Barcelona propôs comprar o imóvel pelo mesmo preço oferecido pelos investidores: € 1,1 milhão. Celebraremos com absinto.

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