Imagem Blog

Love Parade de Dortmund, na Alemanha: a pior balada do mundo (ou… A Volta Dos Que Não Foram)

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 16h10 - Publicado em 22 jul 2008, 14h07

dortmund1

O(a) filho(a) bastardo(a) do Marlin Manson faz pose e esquece de encolher a barriga

Neste último final de semana fui visitar uma amiga em Düsseldorf, na Alemanha. E eis que lá perto, em Dortmund, ia rolar o que prometia ser a maior Love Parade de todos os tempos.

Abre parênteses: em Berlim, quando acontecia a parada que deu origem à série, os berlineneses mais cool fugiam da cidade como o diabo da cruz. E aqueles que não conseguiam zarpar a tempo, praticamente se escondiam embaixo da cama com tampões de silicone no ouvido. Como tudo aquilo que fica famoso demais, a parada de Berlim virou o mico do milênio, até que migrou para outras cidades. Fecha parênteses.

Mas Dortmund fica na região mais industrializada da Alemanha. E praticamente nenhum turista coloca os pés ali. Muito menos no verão (se é que se pode chamar de verão 15 graus com o céu cinza chumbo). No line-up, Paul Van Dyk, Moby, Richie Hawtin e muitos outros. Hummm, isso pode render uma balada beeem interessante, autêntica, única, selvagem, pensei eu.

Continua após a publicidade

dortmund2

Pois bem. Sabadão, lá pelas quatro da tarde, eu e minha patota de amigas pegamos um trem em Düsseldorf em direção a Dortmund. Em teoria, a viagem deveria demorar uma hora. O tempo estava medonho. Porém, sem sinal de chuva.

Mas alegria de pobre dura pouco. E o trem foi, gradualmente, se convertendo em um trem fantasma, com direito a monstros de todas as cores e espécies. Lá pela terceira ou quarta parada, já não cabia mais nem uma mosca no vagão. E ainda tínhamos umas 15 pela frente. A faixa etária era vinte anos. E a média de garrafas de destilados por pessoa era de duas a três. Nunca vi tanta gente feia gritando, espremida num mesmo metro quadrado. Glup!

Continua após a publicidade

Uma hora e meia depois (a cada parada a multidão trocava sopapos com os policiais que impediam a entrada no trem, graças a deus, o que atrasava a saída), estávamos a duas estações de Dortmund. Foi quando um rapaz sentado a poucos centímetros de mim ejetou de seu estômago algo que parecia uma mistura de vodka com goulash. Um cheiro indescritível tomou conta do vagão. Poucos minutos depois, mais uma golfada. E finalmente chegamos ao nosso destino. Ufa! Ou talvez não…

Na estação, a fauna despejada pelo nosso comboio se juntou a mais outros seres vindos de outras cidades. Pensei em voltar para o trem. Eu a-d-o-r-o uma bagunça e encaro qualquer mico em nome da antropologia. Mas aquilo ali estava pior que a Praça Castro Alves na quarta-feira de cinzas e a balada MAL tinha começado.

“Meninas, se vocês quiserem ir embora eu fecho”, berrei para as minhas amigas na esperança de ser ouvida em meio aos uivos e relinchos emitidos – em alemão, o que faz tudo ficar mais aterrorizador – pela multidão de pessoas de três metros de altura (no Brasil eu pelo menos consigo respirar no meio da muvuca). Nada feito.

Continua após a publicidade

dortmund3

Ao ganhar a rua, cruzamos com uma multidão que era impedida por um cordão policial de entrar na estação. Mais adiante, uma outra barreira, que impedia uma outra multidão a juntar-se àquela que pretendia pegar o trem. E mais ali na frente, outra barreira… Ou seja, se chegássemos ao lugar onde finalmente encontraríamos a Love Parade e resolvêssemos voltar, isso implicaria passar por um funil em três etapas, o que provavelmente demoraria horas.

Para piorar, entre as pessoas que iam e vinham, muita gente bêbada, mal vestida e arrotando alto. Nem sinal de um povo moderno, fantasiado, colorido e alegre que costuma caracterizar esse tipo de evento. Meia volta, volver!

Continua após a publicidade

E lá estávamos nós aglomeradas diante de uma barreira policial esperando a rolha humana que entupia a estação de trem escoar. O cheiro de cachorro molhado da multidão era de matar. Tinha chovido antes de chegarmos e ameaçava chover a qualquer momento. Afinal de contas, tudo sempre pode piorar.

Cabrum! O mundo começa a cair. Por sorte, justamente nesse momento, os policiais começam a deixar algumas pessoas passarem por uma brecha justo na nossa frente. Foi a glória. Batemos o recorde dos cem metros rasos até a porta da estação, onde mais uma barreira nos esperava. E, depois de mais um empurra-empurra, finalmente conseguimos chegar até as vias. Pinto molhado.

O que? Um trem quebrou no caminho para Düsseldorf e a linha está interditada? Tenho vontade de sentar no chão e começar a chorar. Mas ao invés disso arrasto minhas amigas para dentro do primeiro trem para qualquer lugar, que no caso era uma cidade nas redondezas de Essen, onde jogamos a toalha e pegamos um táxi: 80 euros até Dusseldorf, porque desgraça pouca é bobagem.

Continua após a publicidade

Obs: A Love Parade de Dortmund realmente foi a maior de todos os tempos na Alemanha, batendo o recorde de Berlim, em 1989, quando 1 milhão e meio de pessoas fizeram história. Tenho para mim que deve ter gente espremida na estação até agora.

Publicidade