Como em grande parte do Brasil as estações do ano são apenas formalidades do calendário, muita gente me procura com dúvidas sobre o inverno na Europa. Faz muito frio mesmo? Vale a pena viajar nessa época? Quais são as vantagens de viajar no inverno?
Já fiz um post que responde a várias dessas questões. Mas ficou faltando falar de alguns roteiros que recomendo para a ocasião – e daqueles que já testei e achei roubada. Observação: não incluí os destinos de praia nessa análise porque estão fora de cogitação.
Espanha
O que vale a pena: viajar pelo sul da Espanha é uma das melhores pedidas para quem não gosta de frio. Na sempre ensolarada Andaluzia, você vai até conseguir andar de manga curta durante o dia. Sevilha, Córdoba, Granada, Málaga e o roteiro dos Pueblos Brancos rendem um belíssimo giro de dez dias com grandes chances de tempo bom. Como se não bastasse, ainda dá para esquiar na Sierra Nevada, em Granada (a preços muito mais calorosos do que os dos Alpes). Valência e Barcelona são outros destinos com temperaturas amenas e alta probabilidade de céu azul. Em Madri faz muito frio e a temperatura pode até baixar de zero em algumas noites. Mas não chega a ser inviável (a menos que você seja um friorento nível grave).
O que é roubada: chuva, céu cinza, ondas aterrorizantes, vento e frio úmido de rachar o osso é o que você vai encontrar no norte da Espanha no inverno, seja no País Basco, em Astúrias ou na Galícia. Caminho de Santiago? Só se você REALMENTE estiver precisando pagar umas penitências (aproveita e faz de joelhos).
Itália
O que vale a pena: assim como a Espanha, a Itália oferece boas possibilidades para quem não quer passar muito frio. Ainda que seja chuvoso, o inverno em Roma está longe de ser gélido. E ainda dá explorar as cidades do sul (Nápoles, Pompeia, os vilarejos da Puglia) longe das multidões do verão. Para quem esquia, a Itália é um parque de diversões a céu aberto nos Alpes (e a região das Dolomitas é a bola da vez).
O que é roubada: ainda que tenha algumas das cidades mais belas da Itália, a Toscana fica tristonha no inverno, pelo fato dos vinhedos estarem hibernando (ou seja, podados e sem folhas). Viajei pela região nessa época anos atrás e até vi uma certa beleza nesse cenário “natureza morta”. Mas, definitivamente, está longe de ser o momento ideal para estar lá. O mesmo vale para outras regiões produtoras de vinhos e especialmente para o Piemonte onde, além do mais, as temperaturas podem ser bastante gélidas nessa época.
França
O que vale a pena: Paris tem o seu charme no inverno – e sempre. E ainda que faça muito frio, é uma cidade com uma infinita possibilidade de programas indoor, a começar pelos museus. Dá para combinar a viagem com um giro pelo Vale do Loire sem muvuca e uma temporada de esqui nos chiquérrimos Alpes franceses.
O que é roubada: visitar a Provence no inverno não chega a ser terrível — os vilarejos continuarão lindos e a temperatura não é dramaticamente baixa. Mas é um desperdício estar em um lugar tão solar e colorido com dias cinzentos e ventosos. Além disso, os vinhedos estarão peladinhos e não haverá nem sinal das lavandas floridas.
Portugal
O que vale a pena: Lisboa é uma cidade extremamente simpática para visitar no inverno. Um pouco mais fria e chuvosa, a Cidade do Porto também não é má ideia.
O que é roubada: assim como a Toscana e a Provence, o Alentejo também não é uma grande roubada no inverno. No entanto, a mesma história: vinhedos pelados e dias cinzas e ventosos num lugar que combina com céu azul e primavera.
Escandinávia
O que vale: para quem viaja com crianças, visitar a “casa” do Papai Noel em Rovaniemi na Finlândia pode ser uma experiência incrível. Ainda dá pra andar de trenó, fazer boneco de neve e todo aquele pacote “inverno feliz”. Outra coisa que certamente me levaria à Escandinávia no inverno novamente é a possibilidade de ver a aurora boreal e se hospedar no louquíssimo Ice Hotel 365 na Suécia. Taí uma viagem cool no último.
O que é roubada: anos atrás, tive que ir para Estocolmo em janeiro a trabalho. Fazia 13 graus negativos e escurecia lá pelas três da tarde. Com muito empenho (e vodka), até deu para curtir a cidade. Foi então que aprovei para “dar um pulo” em Copenhagen, achando ingenuamente que o fato de a temperatura ser de 6 graus negativos significaria que estaria melhor do que Estocolmo. Erro. Por causa da umidade, a sensação térmica era indescritível. Mesmo sob uma montanha de casacos, não dava para passar mais de cinco minutos na rua sem ter a sensação de morte eminente (e olha que eu tenho sangue lituano e geralmente sou aquela pessoa que está de camiseta quando todo mundo está de cachecol). Conclusão? Turismo urbano a gente deixa para a primavera.
Leste Europeu
O que vale a pena: a Grécia, um dos destinos mais infinitos e completos da Europa, também pode ser uma boa no inverno. Em Atenas, você vai poder visitar a Acrópole sem ter que enfrentar a pipoca do Chiclete com Banana. Também vai poder explorar as joias do interior do país, como Meteora e as cidades históricas do Peloponeso, sem a culpa de não estar na praia. E… pasme: você sabia que a Grécia tem várias estações de esqui muito mais baratas do que as do oeste da Europa? Clique aqui para ler sobre elas.
O que não vale a pena: você precisa ser muito corajoso para visitar Praga, Budapeste, Moscou, Vilnius ou qualquer outro lugar do Leste Europeu profundo no inverno, quando as temperaturas MÁXIMAS mal passam de zero grau e escurece antes das quatro da tarde. Ainda que possa existir certa curiosidade sobre como as pessoas conseguem sobreviver nesses lugares, passar qualquer minuto no exterior é doloroso – o que é uma pena em cidades tão lindas e perfeitas para caminhar.
Siga @drisetti no Instagram e no Twitter