É para ir devagar, sorvendo cada naco de paisagem, parando em cada mirante, gritando u-huuuu e achando que a vida é maravilhosa.
Sou dada a exageros, você sabe. Mas o trecho de cerca de 80 quilômetros que liga o centro de Cape Town ao Cabo da Boa Esperança é, sim, uma das estradas mais espetaculares do mundo. Ficamos tão vidrados nas paisagens do caminho, que percorremos a pista estreita e cheia de curvas quatro vezes (ida e volta), revezando o volante — do lado direito — para que nenhum de nós perdesse nenhum mínimo detalhe.
Saindo do centro da cidade em direção ao sul, pela avenida beira-mar que vai mudando de nome, você passará a invejar o próximo quando chegar às praias de Clifton, espremidinhas entre encostas recheadas de mansões nababescas. Pouco adiante, tentará cortar os pulsos quando vir as montanhas dos Doze Apóstolos avançando sobre a praia de Camps Bay. Dali em diante, só melhora. Oh, céus.
Seguindo pela M6, você adentrará o Table Mountain National Park, contornando o pico Lion’s Head, passando por cima de Llandudno, outra praia soberba forrada de casarões suntuosos. Drible a tentação de ficar lá para sempre, ignore a entrada para o patinho feio Hout Bay na sequência e siga em frente. Uma barreira sinalizando uma pista interditada por um desabamento indica que você está se aproximando do trecho de glória, a Chapman’s Peak Drive, que descortina as vistas mais matadoras da região.
Estreita, curvilínea e perigosinha, a estrada é uma espécie de playground, onde os esportistas compulsivos correm e pedalam, e os bon vivants embaraçam os cabelos louros em seus conversíveis — o cúmulo do hipster é alugar um carro vintage e rodar por ali.
Ao final da Chapman’s Peak Drive, o dilema: seguir pela direção de Simon’s Town e visitar a colônia de pinguins de Boulders Beach, onde os bichinhos arrastam suas patinhas por areias brancas e fofas? Ou pegar a direção de Kommetje, onde centenas de babuínos sacodem a pelugem ao vento diante de praias brancas perfeitas para o kite e o surfe? Oh… mundo cruel.
Na dúvida, vá por uma e volte por outra (e faça isso muitas vezes, se puder). Todos os caminhos levam ao Cabo da Boa Esperança que, não senhor, não é a grande estrela do pedaço. O mais fotogênico e visitado é Cape Point, alto e imponente, ao qual os preguiçosos podem subir com um funicular. Mais discretinho, o da Boa Esperança também vale a visita, claro.
Para o programa ser completo, leve um bom piquenique, escolha seu mirante favorito e devore a paisagem — sempre de olho nos temidos babuínos.
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