Achados

Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Como é se hospedar no Anantara Kihavah, nas Maldivas

Um raio-x desse resort de luxo intimista no Baa Atoll, uma reserva de biosfera da UNESCO

Por Adriana Setti
Atualizado em 29 dez 2023, 12h56 - Publicado em 6 abr 2022, 15h02

Nem o overposting de piscinas flutuantes sobre palafitas nas redes sociais é capaz de nos preparar para o impacto de aterrissar, pela primeira vez, no maravilhoso mundo dos resorts das Maldivas. No meu caso, esse ritual de passagem aconteceu – com direito a rufar de tambores – no píer do Anantara Kihavah, da rede Minor Hotels, a 30 minutos de voo de hidroavião de Malé, capital do país. E nem a chuva repentina foi capaz de esfriar a forma como fui recebida pelos sorridentes funcionários do hotel: mão direita sobre o peito esquerdo, em um primeiro indício da inesgotável gentileza maldiviana.

Saudação ao estilo maldiviano: mão direita no lado esquerdo do peito
Saudação ao estilo maldiviano: mão direita no lado esquerdo do peito. À esquerda, meu anfitrião, Zaheem (Adriana Setti/Arquivo pessoal)
A praia perfeita do Kihavah: branca de arder a retina
A praia perfeita do Kihavah: branca de arder a retina (Adriana Setti/Arquivo pessoal)

Alguns instantes depois, já no spa, entrei praticamente em transe ao receber a massagem Anantara Signature. Enquanto a terapeuta balinesa dissolvia meus nódulos de tensão, eu observava o Oceano Índico pelo respiro da cama, estrategicamente posicionada sobre o piso de vidro. Neste resort apartado dos problemas do mundo, o mar é onipresente. Ele nos cerca no SEA, melhor restaurante subaquático do mundo segundo o World Travel Awards, aparece sob a banheira com fundo de vidro no bangalô e até através do piso transparente do WC, como um lembrete de que, a despeito das instalações irretocáveis, o verdadeiro luxo é ter as águas azulíssimas do Baa Atoll, reserva de biosfera da UNESCO, literalmente aos seus pés.

Os desejados bangalôs sobre a água do Kihavah
Os desejados bangalôs sobre a água do Kihavah (Adriana Setti/Arquivo pessoal)

Modo de usar

Nesta ilha da fantasia há 80 vilas e residências (o que configura um resort intimista para os padrões do país), atendidas por 350 funcionários. Entre eles, está uma equipe afiadíssima de mordomos, disponíveis 24h, cuja função é fazer com que os hóspedes só esquentem a cabeça tomando sol. Eles podem providenciar reservas nos restaurantes e no spa, agendar passeios e atender a pedidos especiais. Zaheem, meu anfitrião, também atuou como um Uber tropicalizado, aparecendo com seu carrinho de golfe na porta do bangalô minutos antes de cada jantar ou passeio, quando estava calor demais para ir de bicicleta.

Cruzar o resort com minha bike particular – que levava meu nome estampado numa plaquinha de madeira – foi uma das delícias de estar no Kihavah, onde nada está a mais de cinco minutos de pedalada. A estradinha de areia batida atravessa a vegetação nativa e os jardins enfeitados pelas orquídeas, cuidadas com esmero por Prem, o jardineiro, sempre disposto a mostrar as suas “filhas” no lindo orquidário. No interior da ilha também há horta, fitness center, um belo kids club e quadra de tênis.

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Prem, o guardião das orquídeas
Prem, o guardião das orquídeas (Adriana Setti/Arquivo pessoal)

Rituais no spa

Ponto forte da marca tailandesa Anantara, o spa fica em uma das pontas da ilha e se distribui em oito bangalôs com teto de palha suspensos sobre o Índico. A área de descanso é um show à parte, com um grande deck ladeado por duas infinity pools de pastilhas cor de coral que contrastam com o mar azul turquesa. O menu é completíssimo, com rituais de banho, terapias faciais e corporais, além de tratamentos anti-aging assinados pela clínica balinesa Coccon Medical Spa.

Acomodações

No ponto da ilha oposto ao spa ficam as desejadas villas over water (de palafitas), conectadas por uma passarela de madeira em formato oval. Já as beach villas, se distribuem pela praia branca, amparadas por uma vasta camada de vegetação que permite privacidade total. Todas as acomodações têm piscina privê.

Instalada no bangalô over water mais próximo da praia, acabei aproveitando um pacote dois em um: além de poder levantar da cama e pular direto no Oceano Índico, bastavam algumas braçadas para chegar até uma língua de areia e seguir caminhando.

Meu bangalô, sobre a água, mas bem pertinho da ponta da praia
Meu bangalô, sobre a água, mas bem pertinho da ponta da praia (Adriana Setti/Arquivo pessoal)
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Decorado no estilo clássico das Maldivas, com móveis de madeira nobre e escura, meu bangalô tinha grandes paredes de vidro que se abriam para uma magnífica infinity pool, acessível tanto do quarto como do banheiro – um mundo à parte com divã, banheira de fundo de vidro, rain shower e as amenidades delicadamente perfumadas da marca Anantara.

Diante do terraço, equipado com mesa e um balanço em estilo tradicional, as redes suspensas sobre o mar eram o complemento ideal: ficar jogada ali e sentir a brisa do mar no corpo inteiro valeu por três anos de meditação. Closet e espaço com máquina de café, frigobar e adega completavam o meu reino de 267 metros quadrados.

Café da manhã flutuante: um ícone das Maldivas
Café da manhã flutuante: um ícone das Maldivas (Adriana Setti/Arquivo pessoal)

Por essas e outras, não é exagero desejar ficar apenas dentro da villa em alguns momentos. Tomar café da manhã no quarto, por exemplo, é uma delícia. O suprassumo dessa experiência é o floating breakfast (US$ 300). Servido sobre uma bandeja redonda que flutua solidamente na piscina, o banquete vem com frutas, sucos, iogurtes, bolos, pães, muffins, potinhos energéticos, croissants, torradas, geleias, manteiga francesa, champanhe e – respira! – ovos Benedict com todos os clichês do luxo old school: lagosta, caviar, trufa e foie gras. Diante de tanta abundância, quase agradeci a audácia de um corvo que apareceu para surrupiar um muffin.

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Gastronomia

Com exceção do grande quiosque que abriga o Plates, onde é servido o café da manhã a la carte, e o Manzaru, um restaurante informal de cozinha mediterrânea à beira de uma piscina cinematográfica, os demais espaços gastronômicos ficam em um lindo complexo que avança sobre o Índico.

No Spice (pratos principais entre US$ 35 e US$ 45), o menu asiático viaja das receitas tailandesas ao curry indiano, com ênfase nos frutos do mar e diversos pratos preparadas no wok. Já no Fire, o teppanyaki é preparado com habilidades circenses pelo chef, transformando o jantar em um grande espetáculo, que acontece em um palco sensacional: um balcão oval cercado pelo mar, sob um quiosque de pé direito altíssimo. Os menus degustação (de US$ 120 a US$ 148) incluem sushis, saladinhas japonesas e ingredientes como wagyu beef e camarões gigantescos.

O complexo que reúne os principais restaurantes do resort
O complexo que reúne os principais restaurantes do resort (Adriana Setti/Arquivo pessoal)
Terraço do Sky: champanhe no fim da tarde para olhar para o céu
Terraço do Sky: champanhe no fim da tarde para olhar para o céu (Adriana Setti/Arquivo pessoal)

O céu é o limite

Ponto mais estratégico para ver o pôr do sol, o Sky tem uma senhora carta de champanhes e uísques (o diretor do hotel é escocês), além de preparar coquetéis criativos. Com um lindo bar circular sob o teto varado de pontos de luz que representam constelações, o lugar também serve de antessala para o primeiro observatório astronômico sobre as águas das Maldivas. As sessões de observação das estrelas (US$ 95 com taça de champanhe) são conduzidas pelo “sky guru” Ali Shameem, com um entusiasmo que chega a ser comovedor. Além de ver os astros com a ajuda do telescópio mais potente do país, o programa também inclui observação a olho nu em um lounge circular a céu aberto, onde é possível deitar e viajar nas explicações do astrônomo.

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Entre céu e mar

No mesmo complexo, mas a seis metros de profundidade, o SEA é a joia da coroa do Kihavah. Em formado octogonal, o restaurante está cercado por uma quantidade impressionante de vida marinha. Enquanto tomava café da manhã, tartarugas, peixes multicoloridos e até um pequeno tubarão apareceram na janela. O teto espelhado e a luz azulada completam a atmosfera.

O menu degustação (US$ 295) tem foco nos peixes e frutos do mar e é harmonizado pelos vinhos escolhidos a dedo pelo sommelier Arunkumar Tamilselvan. Com a alegria de uma criança que exibe sua coleção de Lego, ele também comanda degustações escolhendo algumas pérolas de sua adega de 450 rótulos, avaliada em US$ 2 milhões. A certos hóspedes habituais, Arun reserva algumas garrafas de Dom Pérignon que amadurecem com a ajuda da água salgada, em uma caverninha submarina ao lado do restaurante subaquático – quando estive por lá, acompanhei o “ritual” de decida de uma dúzia de exemplares com a ajuda de um mergulhador.

O sommelier Arun prestes a despachar algumas garrafas de Don Perignon para o fundo do mar
O sommelier Arun prestes a despachar algumas garrafas de Dom Pérignon para o fundo do mar (Adriana Setti/Arquivo pessoal)
SEA: o melhor restaurante subaquático do mundo
SEA: degustação de vinhos a postos no melhor restaurante subaquático do mundo (Adriana Setti/Arquivo pessoal)

Pra quem está disposto a se molhar, o Kihavah também é um dos pontos mais estratégicos das Maldivas, cercado pelas águas do Baa Atoll, uma reserva de biosfera da UNESCO. Basta nadar dois minutos para mergulhar, de snorkel ou com cilindro (o dive center é de primeiríssima linha), no espetacular arrecife natural que cerca o hotel, onde a sensação é a de estar dentro de um aquário.

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O hotel também está a apenas 45 minutos de lancha de Hanifaru Bay, onde arraias-mantas se congregam de maio a novembro. Foi lá que vivi uma das experiências mais incríveis da minha vida, cercada por centenas dessas gigantes, que passavam a milímetros do meu corpo, executando um balé harmônico e delicado. O verdadeiro luxo.

Nadando entre centenas de arraias-mantas
Nadando entre centenas de arraias-mantas (Adriana Setti/Arquivo pessoal)
Fingindo naturalidade: ninguém está preparado para aterrissar pela primeira vez nas Maldivas
Fingindo naturalidade: ninguém está preparado para aterrissar pela primeira vez nas Maldivas (Adriana Setti/Arquivo pessoal)

Ficha técnica

As diárias (a partir de US$ 1080 para o casal) incluem café da manhã e jantar. Alguns pacotes incluem um jantar no restaurante SEA. O voo de hidroavião de ida e volta a Malé, a capital, é pago à parte e custa cerca de US$ 600.

Tão espetaculares quanto os bangalôs de palafitas, as beach villas têm decoração semelhante. A grande diferença é o banheiro, aberto para o jardim. Para viagens em família, há residências de dois a quatro quartos, tanto na praia como over water, superluxuosas e com decoração mais moderna. Leia também uma outra reportagem que fiz sobre os modos de usar das Maldivas. 

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