“Rooms Hava Baci? Rooms Hava Baci?” Com o papel da reserva do hotel em mãos, entrei num restaurante qualquer para pedir informação. Inglês não rolava. Mas com um italiano safado de novela Terra Nostra (grande parte dos albaneses arranha o idioma) acabei conseguindo engatar uma conversa. Então a gentil criatura puxa um celular do bolso e liga para o número estampado no papel. Cinco minutos depois, dois meninos aparecem e fazem questão de carregar nossas malas ribanceira acima. A ladeira, feita de pedras ultra irregulares, é praticamente uma escalada – por pouco não subo de quatro. Ofereço uma gorjeta como retribuição. Eles rejeitam delicadamente e dizem “essa pousada foi da nossa avó e nós apenas queremos continuar a tratar muito bem os nossos hóspedes”. Foi assim, com tapete vermelho, que chegamos à pequena Berat, “a cidade das mil janelas”, na Albânia Central (duas horas de carro da capital, Tirana).
A janela do quarto é um camarote para o Monte Tomorr, cujo pico mais alto tem 2416 metros de altitude. A casa em estilo otomano na qual me encontro é uma das construções branquinhas que avançam pela colina formando o Mangalem, o bairro muçulmano, que converge para uma mesquita do século 16. Um domo gigantesco se destaca no horizonte: uma universidade.
A luz naquele fim de tarde era tão perfeita que largamos a mala e corremos ladeira abaixo. Do outro lado do rio Osumi, cruzando uma ponte de sete arcos de pedra do século 18, chaga-se a outro bairro histórico chamado Gorica, que também avança sobre uma colina subindo por ruas de pedras irregulares. Um menino se oferece de guia: não quer gorjeta, apenas praticar o inglês. Ele prontamente se entende com um monge que parece uma assombração, e nos abre a porta de uma igreja bizantina do século 13 (há cerca de 20 na cidade). Na saída, outro grupo de meninos nos oferece romãs. Sentamos, comemos e conversamos por mais de uma hora através de nosso jovem intérprete.
Já me daria seriamente por satisfeita. Mas a principal atração de Berat é o Kalasa, o bairro delimitado pelas muralhas de um castelo. Suas origens remetem ao século 3, quando a região fazia parte da Ilíria, uma das províncias do Império Romano! Mas, em poucas palavras, aconteceu de tudo nesse pedaço dos Balcãs: bizantinos, búlgaros e sérvios já estiveram no domínio da cidade. No século 15, Berat caiu nas mãos do Império Otomano, assim como toda a Albânia, que só reconquistou sua independência em 1912. Você verá um gigantesco busto do imperador romano Constantino em meio às praças do castelo. Hein? E não é que ele descende de ilírios? Vivendo e aprendendo.
Eu podia passar horas descrevendo as igrejas, os arcos, os casarões de pedras, as vistas das montanhas dos arredores, as toalhas de rendas que as tiazinhas bordam in loco (para depois fazer os muros de vitrine). Mas sabe o que mais me impressionou? Que num lugar desses ainda haja vida. Vida de verdade: gente lavando roupa, galinhas ciscando no jardim, flores e trepadeiras crescendo das rachaduras dos muros, cheiro de comida saindo das casas. É um impacto ver algo assim em plena Europa, onde cada vez mais os centros históricos parecem cenário de filme. E é por isso que você deve se apressar em conhecer a Albânia.
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