O verão 2017 entrará para a história como o mais conturbado do século (e esperemos que não seja superado) em Barcelona. Além do trágico atentado terrorista da semana passada, tivemos um acidente de trem grave, caos no aeroporto devido à greve da equipe de segurança, greve de metrô e greve de táxi. Está sendo difícil para todo mundo. Mas os turistas, a quem dedico meu trabalho, estão me gerando uma pontada extra de preocupação.
Após a publicação do meu post anterior, sobre o atentado, o leitor Bruno me escreveu dizendo que jamais deixaria de visitar a cidade devido ao ocorrido (bravo!). Mas que estava com sérias dúvidas a respeito da viagem por medo dos recentes “ataques” a turistas e da famigerada onda de “turismofobia” que vem sendo tão comentada pela imprensa internacional – eu mesma falei disso neste post. A dúvida do Bruno: serei bem-vindo?
Precisa ter medo?
Primeiro, vamos aos fatos. Os “ataques” a que o Bruno se refere são, acima de tudo, atos isoladíssimos e não violentos. Em uma ocasião, um bando fantasiado invadiu um hotel e quebrou algumas coisas (clique aqui para ler a notícia e ver o vídeo). Em outra, quatro pessoas encapuzadas furaram os pneus de um ônibus turístico de dois andares cheio e picharam “o turismo mata” no vidro da frente – isso aconteceu na frente do estádio do Barça em plena luz do dia. Em outros episódios menos relevantes, manifestantes que protestavam contra os excessos do turismo atiraram ovos na fachada de alguns hotéis.
Imagino que quem estava dentro do ônibus ou no lobby desses hotéis possa ter tomado um belo susto. Mas nenhum turista foi ferido ou ameaçado e acho dificílimo que isso venha a acontecer. Em geral, o povo aqui late (e muito) mas não morde. E os grupos por trás desses atos não são violentos. Ou seja, não precisa ter medo.
Turistas são bem-vindos?
Como já comentei antes diversas vezes, Barcelona vive uma acalorada discussão sobre os problemas que o excesso de turismo tem gerado. Mas isso não tem nada a ver com turismofobia. Trata-se, apenas, de levantar a questão, discuti-la e buscar soluções para que a cidade possa continuar a ser agradável tanto para os moradores quanto para os visitantes sem afogar-se em seu próprio sucesso.
O problema mais emergencial é a proliferação dos apartamentos ilegais de aluguel de temporada, que empurram os preços de moradia para cima, provocam gentrificação e infernizam a vida dos vizinhos. Nesse sentido, o foco da questão é o bairro da Barceloneta, que acabou se transformando em um bairro-balada.
Mas, voltando à pergunta do Bruno: turistas são bem-vindos? Se você vier a Barcelona disposto a se alojar em um apê baratinho ilegal para tocar o horror, fazer xixi na rua e vomitar na porta da vizinha, não, você não será bem-vindo. Assim como não seria em nenhum outro lugar.
Já o turista educado e consciente, como certamente é o caso do Bruno, não tem motivo para esquentar a cabeça com essa tal “turismofobia”. A questão – e o próprio uso dessa palavra – vem gerando muitíssimo mais repercussão do que deveria. A esmagadora maioria da população da cidade enxerga a importância do turismo para a economia local e recebe os visitantes de braços abertos. À exceção de muros com pichações do tipo “tourist go home” (que você verá principalmente na Barceloneta), tudo continua como sempre foi: uma cidade linda, alegre, vanguardista, liberal e acolhedora. Ah, sim, com um garçom de mau-humor aqui, um taxista rabugento ali. Não entra na noia. Isso também continua como sempre foi.
Siga @drisetti no Twitter e no Instagram