As agruras e as delícias de estar numa ilha remota
O inferno são os outros. Portanto, nada melhor do que um lugar com a menor quantidade de “outros” – especialmente munidos de jet ski, crianças com assaduras e bolas que insistem em bater na sua cabeça — para chamar de paraíso.
Talvez por isso, a imagem de uma ilha deserta protegida por um circunferência de mar azul cristalino e povoada por apenas coqueiros e mata virgem seja o que muitos de nós associamos ao ideal de férias.
Nessa idealização de éden, no entanto, esquecemos de acrescentar algumas doses inevitáveis de realidade. Por mais só que você esteja, jamais estará livre da companhia dos seres que coabitam os paraísos tropicais: aranhas, cobras, baratas, ratos, esquilos, mosquitos, etc etc etc. Isso, sem falar na possibilidade da ausência do mais básico dos confortos do mundo moderno: água doce corrente e energia elétrica.
Em Kadidiri há água doce na torneira uma ou duas horas por dia. Mas às vezes pode não rolar. Há energia elétrica a partir do pór-do-sol até às 11 da noite. Mas às vezes pode não rolar. Enfim, num lugar onde a infraestrutura depende de meia dúzia de indonésios que se movem em câmera lenta, tudo pode não rolar. Relaxe ou sofra.
Anteontem acordei no meio da noite com um barulho estranho. Vasculhei o quarto com a minha lanterna e não vi nada. O ruído recomeçou. Acendi a lanterna, e nada. De novo, o barulho. As lembranças do filme Paranormal Activity começaram a me assombrar. Até que… AHHHH, vi a silhueta de um rato descendo sorrateiramente da mesa (por mais limpo e bonitinho que fosse o nosso quarto). E não é que o desprezível roedor estava devorando o nosso precioso estoque de bombons Ferrero Rocher?
Poderia ter ficado histérica. Mas ao invés disso, preferi deixar os dois cães que insistiam em dormir dentro do nosso quarto ficarem à vontade (eles agora batem ponto aqui toda noite), e nunca mais tive a infeliz ideia de armazenar comida. Dia desses, também havia um caranguejo (!) na nossa cama, e em outra ocasião, uma aranha de um palmo.
Relaxe ou sofra. Eu prefiro relaxar. E continuo achando que o paraíso tem mesmo a cara de uma ilha deserta, mesmo com pitadas irrevogáveis de realidade.
E vocês? O que acham? Onde está o limite que pode transformar paraíso em inferno?