Após uma reforma de 20 milhões de euros, o Mercado del Ninot reabre como o mais espetacular de Barcelona
Barcelona é um exemplo mundial em termos de urbanismo e, salvo raras exceções, a cidade realmente só melhora. Uma das frentes que vêm sendo atacadas pela prefeitura nos últimos anos é a reforma dos grandes mercados públicos. Depois de seis intermináveis anos de obras, com interrupções por causa da crise econômica, até que enfim o meu mercado do coração, o Del Ninot, foi reinaugurado esta semana (a poucos dias das eleições municipais, diga-se). O resultado é de tirar o chapéu e dar cambalhotas. Uau!
Longe de serem um charminho, os mercados são parte da vida da cidade e funcionam como as grandes fontes urbanas de produtos frescos (aqui não há feiras de rua, como no Brasil ou na França). O Mercado del Ninot foi construído em 1933. Com um espaço de 4 mil metros quadrados, ele ocupa mais da metade de um quarteirão no bairro do Eixample, ao lado do Hospital Clinic (a uns 100 metros da minha casa). Antes da reforma, ele estava caidinho de dar dó. Era escuro, estava sempre vazio e dava a sensação de ter sempre muito espaço sobrando — nenhum turista andava por lá. As barraquinhas de roupas e quinquilharias do lado de fora davam um ar caótico ao lugar. Mas sabe de uma coisa? Eu amava o Ninot daquele jeito. As gêmeas gorduchas da peixaria que pareciam ter saído de um filme do Almodóvar (com o mesmo corte de cabelo e a mesma sombra azul), minha açougueira amada Pilar que sabia tudo da minha vida, o moço simpático que tinha o melhor tomate cereja do planeta, a tia que só vendia batatas e sabe tudo sobre o tubérculo…
Tinha até comentado recentemente sobre o jeitinho singelo do Ninot neste post, ao falar do burburinho excessivo do Mercado de la Boquería. Durante a obra, ele havia sido transferido para uma estrutura provisória, como um grande acampamento, mas até assim eu não deixei de frequentá-lo.
A obra do Ninot custou € 20,6 milhões. O lugar ganhou um subsolo gigantesco onde foi instalado um supermercado Mecadona (o bom e barato por excelência) e um estacionamento. Todos os detalhes arquitetônicos da estrutura de ferro foram ressaltados. O piso brilha. A fachada ganhou um quê high-tech (alguns odiaram, eu gostei) com painéis metálicos. Das 49 bancas (peixes, carnes, frutas, ovos, conservas, embutidos etc), algumas ganharam elegantes espaços de degustação, incluindo algumas peixarias. Os botecos encardidos de antes se transformaram em bares bonitos (nem sei se são os mesmos). Todos os vendedores passaram a andar elegantes e uniformizados.
Tudo uma beleza, mas estou com sentimentos misturados em relação à novidade. Pilar, a açougueira, já não está – preciso investigar o que aconteceu, mas algo me diz que recebeu uma proposta irrecusável por sua banca na última hora. Ainda não reencontrei as gêmeas Almodávar. Os botecos, que antes reuniam apenas moradores do bairro, lotaram de engravatados de um dia para o outro. Em outras palavras, gourmetizou e gentrificou a parada em menos de uma semana. Incrível! Ainda não tive tempo de fazer compras por ali, mas apostaria que os preços subiram. Tudo nessa vida tem seus prós e contras…
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