Aluguel de apartamento por temporada: o outro lado da moeda
No post anterior, falei sobre a proibição dos apartamentos de aluguel por temporada em Paris e nas cidades maiores de 200 mil habitantes na França. Comentei, também, que pretendia assinar a petição que pede a revogação desta lei. Pouco depois me lembrei da foto acima, postada por um amigo de Barcelona no Facebook. E me dei conta de que essa questão é menos simples do que parece e merece ser discutida com mais profundidade.
Ao desejar que os apartamentos de aluguel por temporada continuem existindo em Paris, estou pensando no meu próprio umbigo (e provavelmente no seu, caro leitor, que adoraria brincar de parisiense economizando uns trocados em relação ao preço de hotel). Sim, eu acho mais legal alugar um apê do que ficar em hotel, seja em Paris ou em qualquer outra cidade europeia. Mas a verdade é que esse tipo de hospedagem, que virou febre na Europa nos últimos dez anos, tem o seu lado questionável e envolve mais responsabilidade por parte do viajante do que parece à primeira vista.
Em primeiro lugar, é preciso pensar na questão dos vizinhos. Você gostaria, caro leitor, que a cada semana o apartamento com o qual você compartilha paredes fosse ocupado por uma pessoa diferente? E mais, que essa pessoa não tivesse compromisso algum com os cuidados da área comum do edifício? Eu, definitivamente, não.
Duas amigas minhas são vizinhas de apartamentos alugados por temporada. Vira e mexe, elas têm problemas com festinhas barulhentas e coisas do gênero, algo bastante normal em uma party city como Barcelona, meca das despedidas de solteiro britânicas e afins.
Existe, também, uma eterna preocupação com a segurança. Quem garante que o hóspede não pode ter más intenções e se aproveitar do fato de já estar dentro do edifício? É certo que a grande maioria das pessoas que viajam e se instalam nesses apartamentos são gente honesta e educada. Mas as exceções existem, claro.
O ponto de vista dos hoteleiros que fazem lobby contra a prática também merece ser ouvido com atenção. Enquanto o mercado dos aluguéis temporários muitas vezes acontece por baixo do pano, beneficiando o trio proprietário-intermediário-inquilino, a hotelaria é um importante fator gerador de emprego e de arrecadação, algo fundamental numa Europa em crise, certo?
Num panorama igualmente amplo está a questão da Barceloneta. O bairro, não muito tempo atrás, era habitado majoritariamente por gente humilde, que já estava ali antes da construção do hotel W e de várias melhorias de infraestrutura que propiciaram o hype da região. Com o tempo, muitos contratos antigos de aluguel foram sendo encerrados e apartamentos reformados para que pudessem ser alugados por turistas. Desta forma, um número significativo de moradores foram “expulsos” do bairro, que pouco a pouco perde a sua identidade. Pior: muitos imóveis ficam fechados parte do ano, esperando o verão chegar, uma vez que a proximidade da praia faz com que a Barceloneta seja um hit nos meses de calor.
Ok, é certo que as cidades são estruturas vivas e que movimentos populacionais assim fazem parte da metamorfose natural pela qual esses organismos de concreto passam através dos tempos. Também acho que a presença de turistas é um benefício para qualquer cidade e que esses apês acabam movimentando a economia local indiretamente. De toda forma, é preciso pensar com cuidado e, acima de tudo, ter consciência de que você não passa despercebido, para o bem e para o mal.
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