África do Sul: Dez motivos para apostar na remota Wild Coast, terra de Nelson Mandela
Wild Coast (Costa Selvagem) é o nome bonitinho e recente para o antigo Transkei, um enorme gueto negro criado na marra pelo governo da época do Apartheid, como um modelo para o seu plano de “desenvolvimento separado”. Mais de 20 anos depois do fim do regime, a região continua sendo uma das áreas mais pobres e negligenciadas do país. Por causa da falta de infra, poucos turistas se dão o trabalho incluir a Wild Coast no roteiro, o que é uma grande pena. Por que vale MUITO a pena? Eis os meus motivos:
1. É a terra de Nelson Mandela. Ele nasceu no povoado de Mveso e cresceu em Quno (ambas no Transkei), onde foi sepultado. Não é possível ver o seu túmulo de perto, ao lado do Nelson Mandela Museum da cidade. Mas, para mim, o emocionante foi passar pela região, entender melhor o lugar de onde ele veio e ver ao vivo as cidades e vilarejos tão citados na sua autobiografia, Longo Caminho para a Liberdade – o livro que me acompanhou durante toda a viagem.
2. É a região onde se concentra grande parte da população Xhosa (da qual Nelson Mandela faz parte), uma gente amável e receptiva. Pelo Transkei você verá os típicos rondavels (casas redondas típicas), escutará o ultra sonoro idioma Xhosa (fácil de reconhecer pelo estalar de língua e pelos sons guturais) e entrará um pouco em contato com essa cultura.
3. Tem 350 quilômetros de costa e as praias mais lindas e selvagens do país.
4. É lá onde fica Cintsa (ou Chintsa), a praia mais bonita da África do Sul (fora da região da Cidade do Capo) na minha modesta opinião. O cenário é matador: encostas verdes que desabam numa praia totalmente selvagem. Na altura do povoado (que tem pouquíssimas construções), um rio desagua no mar formando uma lagoa cristalina e quentinha, perfeita para descansar da fúria do mar.
5. Cintsa tem um dos melhores albergues da África do Sul (talvez o melhor em que já estive na vida). O Buccaneers ocupa um terreno gigantesco debruçado sobre a praia, com casinhas esparsas. Há dormitórios, quartos econômicos e também chalés “de luxo”. Eu aluguei um deles, uma casinha com quarto, sala, cozinha e jardim com vista pro mar e churrasqueira. A área comum tem bar, restaurante, sala de ioga e uma SUPER piscina. Foi um dos pontos altos da minha viagem.
7. Banhado pelo Oceano Índico, o Transkei tem clima tropical. Ao contrário do que acontece na região do Cabo, o verão é verdadeiramente quente e o mar tem uma temperatura agradável.
8. É lá onde fica Coffee Bay (na foto lá de cima) que, não, não produz café. A praia (que divide com Cintsa o título de parada obrigatória na Wild Coast) tem um clima especialíssimo, meio hippie, meio Jamaica, muito “no problem” e tudo devagar. Passei a noite com mais pernilongo por centímetro cúbico da minha vida no albergue Sugarloaf – instalar mosquiteiro dá uma preguiça, sabe? –, mas ainda assim adorei a atmosfera “todo mundo enturmado” do lugar. O vídeo abaixo dá um pouco a ideia do jeitão de Coffee Bay e das paisagens (lindas) da Wild Coast.
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9. É onde você terá estradas “com emoção”. As placas “animais na pista” devem ser levadas a sério: vacas, ovelhas, jegues, macacos, veados e muitos outros bichos andam em massa no meio da estrada. O trecho entre a N2 e Coffee Bay, ultra esburacado, é o mais emocionante de todos. Você vai demorar pra fazer tudo, mas vai se divertir. Também verá cenas da vida como ela é na África do Sul profunda: as crianças a caminho da escola na beira da estrada, as mulheres carregadas com latas d’água na cabeça, as plantações, os mercados…
10. É uma oportunidade de entrar em contato com comunidades africanas. Os bons albergues (caso do Buccanneers de Cintsa) organizam passeios a vilarejos, atividades com as escolas locais e muitas outras do gênero.
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