Achados em São Paulo: uma tarde no espetacular restaurante Casa Garabed
Para mim, toda modéstia é pouca na hora de escrever um post sobre São Paulo para um blog chamado Achados. Moro fora há 11 anos e venho à minha megalópole querida uma vez ao ano. Num lugar onde as coisas mudam a uma velocidade voraz e os meios de comunicação pedalam para acompanhar, quem sou eu para “Achar” alguma coisa? Vocês, leitores, sabem muito mais do que eu.
No entanto…
Os garimpeiros fanáticos de lugarzinhos escondidos e tradicionais já o conhecem. A critica especializada também já gastou a letra elogiando o tal local. Mas o que dizer de um restaurante sem nome na porta, escondido num bairro residencial da zona norte de São Paulo? A Casa Garabed está longe de não ser um Achado, por mais perdida que eu esteja depois de uma década de exílio.
Eu adoro esse tipo de lugar com simplicidade genuína e endereço difícil de encontrar. Para chegar lá – e eis algo que recomendo entusiasticamente para quem não mora na zona norte – peguei um metrô até a estação Santana e , de lá, uma corrida de táxi de 10 reais. Dessa forma, reduzi em 1000 por cento as chances de eu ficar perdida para sempre no outro extremo da Gotham City.
Fundada em 1951 pelo imigrante armênio Garabed Dermendjian, a Casa Garabed segue nas mãos da mesma família elaborando receitas armênias e as melhores esfihas desta galáxia. Dizem que o forno de 25m2, alimentado a base de eucaliptos, só foi apagado uma vez desde então, para uma reforma.
Era uma terça-feira chuvosa lá pelas duas da tarde. E a casa estava cheia como sempre. O que se seguiu depois que passamos por aquele discreto portão cinza foi uma das melhores refeições dos últimos tempos:
De entrada, uma porção de babaganuch irretocável: leve e supercondimentada, mais molhadinha e menos pastosa do que a média dos babaganuches árabes. A berinjela, assada no forno histórico, dá um inconfundível aroma defumado ao prato.
Segunda etapa, esfihas. Sem comentários? Dá pra sacar pela foto, não? No ponto, com gostinho de massa assada com carinho no forno a lenha e sem exagero no recheio. Quase chorei.
Continuando… uma ousadia que não repetiria, o Bastrmá de Lagartinho, uma espécie carne seca armênia. Gostei de ter experimentado, mas achei salgado demais e meio sem graça (talvez se a porção não fosse tão homérica não teria dado tempo de não gostar, mas…).
Próximo passo, quibe cru. Não qualquer quibe cru, O QUIBE CRU. Temperado, molhadinho, com carne fresquíssima. O ponto alto do almoço, junto com as esfihas. Xonei!
E para finalizar, algumas horas depois… Madzunov Kiofté, o prato estrela da casa, que consiste em bolinhas de carne temperada com pinholes, em molho de iogurte. Sensacional.
Menção honrosa aos pãezinhos servidos com a comida, cobertos com gergelim.
A conta desta orgia, para quatro pessoas, saiu por 287 reais, incluindo sobremesa. Isso porque exageramos muuuuito no afã de experimentar várias coisas e ainda tomamos algumas cervejas. Em termos de São Paulo, onde os preços andam exorbitantes, não está mal. Imagino que um casal “normal” possa fazer uma excelente refeição por 100 reais.
Você já foi ao Garabed, nego? Então vá – e rápido. A mídia tem falado um pouco demais do lugar e eu vejo pintar um “fenômeno Mocotó”, com filas infinitas incluídas, lá em Santana…
Casa Garabed: Rua José Margarido, 216 (travessa na altura 882 da rua Alfredo Pujol); 2976-2750; 12h/21h.
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