A saga (e a treta) do lendário pastel do trevo de Bertioga
Uma queda de braço com a prefeitura rompe uma tradição de mais de 30 anos: parar na Rio-Santos pra comer pastel.
A gastronomia brasileira do “muitão” me provoca sentimentos contraditórios. Nunca entendi, por exemplo, porque um sujeito precisa de um quilo de mortadela entre dois pedaços de pão – como no sanduíche do Mercadão de SP – para ser feliz. Por outro lado, sempre fui fã e assídua devoradora do pastel do trevo de Bertioga, supostamente o maior do Brasil, com 30 centímetros de comprimento e recheado até a boca. É uma pena que o prefeito de Bertioga não goste tanto desse pastelão como eu.
O velho quiosque que fica bem no trevo de Bertioga, na Rio-Santos, ainda está lá. Mas faz uns meses que o atendimento só está rolando do outro lado da avenida que dá acesso à cidade, a 19 de Maio, em um lugar dificílimo de estacionar e que obriga quem vem da estrada a entrar mais no perímetro urbano. Em plena quarta-feira, tive que dar várias voltas até conseguir uma vaga. Imagino que nos dias de grande movimento na Rio-Santos esse programa tenha ficado impossível. O motivo? Supostamente, o prefeito quer construir um portal cafona para a cidade no terreno onde o quiosque funcionava desde 1988 e que, para muita gente, colocou Bertioga no mapa – pelo menos da gastronomia.
O mineiro Donizete Aparecido da Silva chegou a Bertioga em 1988 e instalou sua Kombi na esquina da estrada com a avenida 19 de Maio para vender caldo de cana e pastel. Em meados dos anos 1990, seu negócio hypou e o pastel gigante rodou a grande mídia brasileira, com direito a matéria na VEJA, participação no programa da Ana Maria Braga e tudo mais. Versões fake da iguaria pipocaram por todo litoral. Nos fins de semana e feriados, quem queria abocanhar o pastel tinha que fazer fila. Eu era uma dessas pessoas, sempre ávida pelas verdadeiras toras do recheio do pastel de palmito – que continua ótimo, apesar de hoje em dia ser feito com pupunha, numa compreensível adaptação aos tempos atuais.
A queda de braço está rolando desde meados do ano passado. Em maio, Donizete denunciou o prefeito ao Ministério Público por uma suposta cobrança de propina. Em junho, o quiosque foi fechado pela prefeitura com o argumento de que o terreno seria usado para a construção do portal. Segundo uma notícia do jornal local Edição Extra, o terreno também estaria na mira de uma empreiteira. Aguardaremos os próximos capítulos. Entre a treta e a dificuldade de estacionar, hoje em dia é mais fácil parar na filial do km 226 da Rio-Santos. Ah, e se você é da turma do “muitão”, saiba que Donizete também tem a maior coxinha e o maior risolis do Brasil. Dá-lhe sal de frutas!
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