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A Europa cada vez mais careta: pânico na boemia de Lisboa

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 16h08 - Publicado em 20 nov 2008, 14h11

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Além do seu charme melancólico, do sotaque delicioso e de doces que realmente são doces, Lisboa tinha uma outra coisa que a minha Barcelona não tem: bares abertos até às 4 da manhã. Tinha.

Desde o começo de novembro, os bares do Bairro Alto – a apoteose da deliciosa boemia lisboeta – são obrigados a fechar quando a coisa está apenas esquentando, às 2 da matina.

Pode parecer uma queixa descabida para quem mora em Londres, onde a grande maioria dos pubs ainda fecha às 11, mesmo depois do horário limite ter sido suavizado. Mas em Lisboa (e na cabeça dessa blogueira que embarcou para Portugal no último final de semana com a pior das intenções), a notícia caiu como um histórico balde de água fria.

O motivo é, verdade seja dita, bem fácil de entender. Com ruas estreitas e bares minúsculos, “o Bairro” não comportava tanta alegria no interior de seus estabelecimentos. Ou seja, todo mundo acabava ficando na rua, de copinho na mão, tagarelando até não mais poder. Essa prática tão comum (e divertida, diga-se) no Brasil é impensável nos outros países europeus.

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O barulho enfurecia os vizinhos há anos e anos. E eles finalmente venceram a batalha, pelo menos temporariamente, seguindo a chatíssima tendência  de “careteamento” que assola a Península Ibérica desde a entrada de Espanha e Portugal para a União Européia.

Os freqüentadores não estão deixando barato. Vários “apitões” (tinha neguinho distribuindo apito na balada!) já foram organizados em plena madrugada. E as pessoas continuam se recusando terminantemente a ir embora, sacando garrafas de bebida da bolsa para animar a conversa na rua.

No último sábado, quando já me conformava em seguir rumo à cama, topei com um cidadão (na foto) que foi ainda mais longe. Arrastou as suas pic-ups antiguinhas para o meio da rua, posicionou-as no topo de uma ladeira e mandou ver no som, levando a multidão ao delírio.

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Não sei até quando vai durar a resistência. Mas ao menos até agora a tentativa de “careteamento” do Bairro Alto foi um belo tiro no pé.

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