Wet’n Wild: um dia perfeito em família no parque aquático
Mais do que diversão e adrenalina, os toboáguas do parque de Itupeva tiveram valor de superação para a repórter da VT, que saiu de lá com alma lavada
Sabe aquelas pessoas que têm medo de subir dois degraus na escadinha da cozinha? Pois é, eu sou essa pessoa. Por isso, não me julgava capaz de encarar os toboáguas coloridos que chamam mais atenção do que qualquer letreiro na Rodovia dos Bandeirantes. Não que eu nunca tenha ido a um parque: como boa paulista, fui ao vizinho Hopi Hari com a excursão da escola e ainda criança visitei o Thermas dos Laranjais, em Olímpia. Mas as minhas memórias dessas experiências sempre vinham acompanhadas da sensação de que eu não tinha aproveitado o suficiente, justamente por ser medrosa demais.
O resultado é que acabei indo conhecer o Wet’n Wild, em Itupeva, já como uma jovem adulta, o que não me impediu de convocar para a empreitada o suporte emocional dos meus pais. Não me julguem: o parque tem selvagem (wild) até no nome! Minha meta era conhecer o maior número possível de brinquedos, mesmo que minhas pernas estivessem tremendo só de subir as escadas que levam ao topo dos escorregadores. O saldo do dia, devo dizer, foi empoderador.
Estacionamento, ingressos e primeiras impressões
De certa forma, a aventura começou já na Rodovia dos Bandeirantes. Vínhamos do interior em sentido à capital e não havia uma única placa que sinalizasse o retorno para entrar no Wet’n Wild, que fica do outro lado da pista. Qualquer outra família teria simplesmente recorrido ao Waze, mas o meu pai gosta das coisas à moda antiga: embicou o carro num posto de gasolina, seguiu por uma ruazinha paralela e deu mil voltas sem sequer ter certeza de que estávamos no caminho certo. No fim, estávamos. O próximo dilema foi onde deixar o carro. Eu tinha lido na internet que algumas pessoas param do lado de fora, mas não encontramos nenhum lugar onde isso parecesse viável ou seguro. O jeito foi consentir com a facada de R$ 55 pela diária no estacionamento do parque aquático (motos pagam R$ 27,50). No final do dia, o ticket pode ser validado na bilheteria ou no balcão “Alugue & Use”, sobre o qual eu falarei mais para frente.
O começo do dia não foi dos mais encorajadores. O tempo estava nublado e logo na entrada tivemos uma prévia das filas que enfrentaríamos ao longo do dia. O ingresso pode ser comprado com antecedência pela Wetshop, mas é preciso levá-lo impresso porque as catracas não conseguem ler o voucher na tela do celular. O resultado foi confusão na certa. Várias pessoas não imprimiram o ingresso e precisaram passar no balcão de informações, que, por ter um único atendente, acumulava filas de mais de vinte minutos. Para quem já leva o ingresso no papel, o processo é mais rápido. O parque também pede que os visitantes tenham em mãos um documento com foto e o cartão de crédito utilizado na compra, mas não vi nenhum funcionário checando esses itens.
Vencida essa primeira etapa, ainda é preciso aguardar em outra fila para ter a sua bolsa ou mochila revistada. Além de objetos cortantes, é proibido entrar com alimentos e bebidas (a exceção é para mamadeiras, papinhas e garrafas de água lacradas).
Um aviso importante é que esse não é um lugar para relaxar tomando sol à beira da piscina. As atrações radicais proporcionam uma trilha sonora de berros em altíssimos decibéis, tão altos que conseguem se sobrepor às música que saem das caixas de som. Sem falar das conversas altas das famílias e grupos de amigos, que riem e discutem em plenos pulmões sobre qual brinquedo vão encarar em seguida.
Tendas, vestiários e a logística para descer nos toboáguas
Espreguiçadeiras ficam espalhadas por todos os lados, mas não há guarda-sóis. Para ficar na sombra, é preciso chegar cedo e garantir um lugar nas tendas com mesas e cadeiras, sendo que as mais disputadas são as que ficam estrategicamente localizadas em frente à piscina de ondas e próximas dos quiosques de comida. Felizmente, no dia da minha visita o parque aquático não estava muito cheio e pudemos inclusive escolher uma tenda. No caso das famílias grandes ou dos grupos de amigos numerosos, rola fazer um revezamento: enquanto uma turma vai no brinquedo, alguém segura o lugar e fica de olho nos pertences. Mas, como estávamos em três e queríamos aproveitar o dia juntos, logo tivemos que nos desfazer da nossa mesa.
O jeito foi procurar o tal do balcão “Alugue & Use”, onde é possível alugar um armário para guardar os pertences – o grande custa R$ 37 e o pequeno, R$ 27. A chave vem presa em uma pulseira de plástico, que não me parecia muito firme. A atendente garantiu que o cordão não se desprende do pulso durante as descidas e ela tinha toda razão. O parque pede um depósito de R$ 10 que é devolvido na saída. No mesmo quiosque, também dá para pegar emprestado toalhas e boias, que custam R$ 15 (é cobrado um depósito de R$ 20 e R$ 5, respectivamente).
Quem quiser deixar as carteiras dentro do armário também pode aproveitar que está no “Alugue & Use” para adquirir o WetMoney, que é basicamente uma pulseira de consumo, como aquelas coloridas de balada. Funciona assim: você faz uma carga e a utiliza para comprar o que quiser dentro do parque, bastando passar o código de barras da pulseira num leitor. Os valores vão sendo descontados e o que sobrar será devolvido em dinheiro (há incidência de taxas se você tiver colocado o saldo usando o seu cartão de crédito ou de débito). Como não pretendíamos gastar muito naquele dia, preferimos deixar a carteira no armário e pegar o dinheiro a cada vez que fosse necessário.
Antes de tudo isso, tive que dar uma passada no banheiro. Depois de dez minutos andando feito tonta, descobri que ele fica dentro dos vestiário, junto com os chuveiros e trocadores. A instalação não é das mais modernas, o chão está sempre molhado e o local é um pouco escuro, mas pelo menos não estava sujo.
Agora, sim, estávamos prontos para começar a nossa maratona aquática. Ou pelo menos foi o que pensávamos. Como na maioria dos brinquedos não é permitido descer com chapéu na cabeça, chinelos nos pés e óculos no rosto, deixamos toda essa parafernália para trás. Nem preciso dizer que ficar sem boné sob o sol de Itupeva pode ser incômodo, mas até aí tudo bem. O problema mesmo foi andar descalça no chão cimentado e com pedrinhas, verdadeira tortura. O piso deve ter sido projetado com a melhor das intenções porque é totalmente antiderrapante mesmo quando molhado, mas também me fez alcançar a proeza de fazer uma bolha e estourá-la em um intervalo de meia hora. Meus pais não aguentaram e foram buscar os chinelos no armário assim que descobrimos que, na prática, o pessoal dá um jeitinho. Na hora de escorregar no toboágua, os chinelos vão presos no antebraço e os óculos de sol, chapéus e até celulares são escondidos nos lugares mais inusitados.
Perdidos no riozinho, entalados no escorregador
Eu jamais arriscaria descer em um toboágua com os meus óculos de grau, que ficaram devidamente guardados no armário. Só que não é fácil ser míope. Entrei no Lazy River e fui sendo carregada por uma leve correnteza até me dar conta que já estava do outro lado do parque e, pior, que meus pais não estavam em lugar nenhum do meu campo de visão. Passei vários minutos entre figuras embaçadas que nadavam ou boiavam ao meu redor até finalmente conseguir me localizar. E foi assim que o rio lento, que era para ser a atração mais tranquila do Wet’n Wild, já se tornou a primeira façanha do dia. Pelo menos eu tinha conseguido me locomover um bom tanto pela água sem ter que pisar no chão de pedrinhas. No fim das contas, meus pais já estavam há um tempão curtindo a piscina de ondas Wave Lagoon. Fiquei tão empolgada em reencontrá-los que no caminho até eles quase caí quando veio uma onda mais forte. Depois dessa, preferi ficar no fundo, onde descobri que as ondas são mais tranquilas.
Mesmo sem óculos, consegui avistar um pouco mais adiante um gigantesco balde que, de tempos em tempos, derrubava água para todos os lados sob os sons histéricos da criançada. Era a Ilha Misteriosa do Cascão, uma área infantil com piscina rasa e uma porção de escorregadores, duchas, quedas d’águas e mangueiras. Achei que essa eu conseguiria encarar, então fiquei um tempão esperando o baldão virar na minha cabeça. Mas quando ele terminou de encher, não deu nem para molhar a cara. Eu não tinha reparado que, um pouco mais para o lado, dois regadores com expressões malvadas marcam o lugar exato onde a água cai. Bom, tudo bem. Pelo menos ainda tinham alguns escorregadores maiores, que aceitavam qualquer pessoa sem limite de altura definido. Convoquei meus pais e lá fomos nós. Minha mãe desceu toda sorridente, mas meu pai entalou no caminho e teve que descer engatinhando, enquanto eu gargalhava junto com as crianças que esperavam a vez na fila. Mesmo não tento limite de altura, depois da experiência do meu pai, ficou claro que pessoas com mais de 1,80m não cabem bem nesse brinquedo. Isso não quer dizer que os adultos não tenham vez na Ilha Misteriosa do Cascão: há várias hidromassagens estrategicamente posicionadas ao redor da piscina para relaxar e ficar de olho nos pequenos ao mesmo tempo. Isso me pareceu uma ótima pedida, então não entendi bem porque a outra área infantil, a Kids’ Lagoon, estava mais lotada. Provavelmente por causa da proximidade com os quiosques de comida.
Escondido atrás da Ilha Misteriosa do Cascão, o Surge é um escorregador onde você faz uma espécie de rafting em uma boia para três ou quatro pessoas. Achei divertido e emocionante, porque as curvas se mesclam com descidas bruscas em que a boia chega a se deslocar do escorregador – praticamente um mini voo, ao meu ver. O Bubba Tub fica logo ao lado e é acessado pela mesma escada. Quando subimos, vimos várias famílias voltando atrás porque as boias desse brinquedo são para apenas duas pessoas. O moço na minha frente foi um dos que ficou sem dupla, e como eu também estava sozinha, acabei indo com ele. Perguntei se ele não se importava se eu gritasse. No fim, ele gritou bem mais que eu. E olha que a descida do Bubba Tub é mais curta e tem menos curvas que a do Surge: o único ponto de adrenalina é uma descida mais íngreme já no final do percurso.
Achei esse negócio de escorregar de boia muito divertido, então segui empolgada para o Twister. Carregar a boia dupla escada acima foi um perrengue, mas valeu a pena: foi o brinquedo mais gostoso do dia! Apesar das muitas curvas, ele é tão tranquilo que havia uma porção de crianças em duplinhas prontas para descerem sozinhas.
Radicalizando
A lista de atrações “de boa” tinha chegado ao fim. Estava na hora de começar a encarar os brinquedos de gente grande. Ou nem tão grande assim. Esbarrei pelo parque aquático com uma família cujo filho caçula tinha a-do-ra-do o Space Bowl, carinhosamente apelidado de “privada” pelo seu formato arredondado, que faz as pessoas girarem em uma bacia antes de serem lançadas ralo a baixo, digamos assim. Fiquei nervosa enquanto girava dentro daquele treco escuro e caí de cabeça na piscina, que pra minha sorte tem quase três metros de profundidade. Senti que me afogaria, mas o pensamento, é claro, era totalmente infundado: é obrigatório saber nadar para descer no Space Bowl, o que está indicado na placa com instruções de segurança na entrada do brinquedo e é confirmado pelo instrutor antes da descida. Além disso, em todas as atrações há salva-vidas a postos. Em uma espécie de estado de choque, saí da piscina rindo freneticamente. Meu pai, por outro lado, amou a experiência e só lamentou a descida ter sido tão rápida, visto que tivemos que esperar meia hora na fila daquele brinquedo.
O Water Bomb, por outro lado, estava sem fila de espera alguma, então fomos correndo e sem pensar muito. São três escorregadores que saem de uma torre de sete metros de altura e terminam em uma piscina bem funda – mais uma vez, é obrigatório saber nadar. Não se deixe enganar pela aparência: os toboáguas são relativamente pequenos, mas isso só faz com que a descida seja mais rápida e forte. Fui duas vezes e tampei o nariz por precaução. Meus pais não tiveram a mesma ideia e acabaram engolindo uma boa quantidade de água.
Também estava vazio o Kamikaze, que tive orgulho de colocar no meu currículo. Com 18 metros de altura e 70° de inclinação, o toboágua promete proporcionar a sensação de queda livre. Os mais velhos primeiro, por favor. Fingindo educação, fiz meu pai passar na minha frente só para ter certeza de que ele chegaria são e salvo lá embaixo. Quando chegou minha vez, senti as costas descolarem do tobogã. Uau! A sensação de liberdade foi tão boa que o brinquedo se tornou meu favorito do parque e eu até repeti a dose.
Ok, estava na hora de enfrentar a fila para o Vortex. Quem já assistiu “Meninas Malvadas” vai pegar a referência: o Vortex é a Regina George do Wet’n Wild. Dentro do parque aquático, as pessoas passam 80% do tempo falando sobre essa atração e os outros 20% esperando alguém falar sobre ela. É a atração que pode socar a cara dos coleguinhas que continuará sendo considerada legal. Por isso, ela sempre tem um longo tempo de espera. Mas, como vão até quatro pessoas por vez, até que a fila andou rápido.
Para mim, a experiência começou bem antes de entrar no brinquedo. Apesar dos surtos de coragem que tive naquele dia, eu tenho medo de altura e a escada de 24 metros já me rendeu muitos arrepios. Assim como as outras escadas do parque, ela é aberta e feita com estruturas leves, mas nesse caso, a altura faz com que ela balance um pouco com o vento e eu me apoiei no corrimão como se minha vida dependesse daquilo. Para completar, o toboágua fica bem próximo da beira da estrada e o vento traz o som do vai e vem dos carros e das esporádicas buzinadas de caminhões. Já com as pernas bambas, minha ansiedade só crescia conforme eu ouvia os gritos de quem estava no brinquedo. E quando algum grupo não gritava eu já pensava: “pronto, desmaiaram”.
Chegando a nossa vez, nosso trio foi pesado em uma grande balança feito “bois em um leilão”, nas palavras da minha mãe. Sentamos na boia, eu pedi uma benção aos céus e começou a nossa descida. Primeiro passamos por um grande túnel fechado que faz uma curva e então abre para uma descida muito íngreme. A boia descola do escorregador e chega num funil gigante, onde balança de um lado para o outro até entrar em outro túnel que levará a uma piscininha.
A adrenalina é tanta que eu gritei do começo ao fim e até precisei tomar água depois, de tão dolorida que ficou minha garganta. Minha mãe passou o tempo todo de olhos fechados e, quando tentou sair da boia, caiu porque ainda estava com as pernas tremendo. “NUNCA MAIS me peça para fazer isso”, ela berrou para mim. Enquanto isso, meu pai, como o orgulhoso engenheiro que ele é, discursava sobre como o brinquedo foi todo calculado e que “a física é linda!”. Para saber o que esperar, assista o vídeo abaixo:
O fato de serem quase cinco horas da tarde foi providencial. Depois desse horário, não é mais permitido entrar na fila dos brinquedos. Por isso, ficou faltando experimentar algumas coisas: o R4lly, um tobogã em que você desce com um tapetinho e aposta corrida com os amiguinhos ao lado; o Meteor, ‘queda livre’ de 40 metros que nem passou pela minha cabeça encarar; e o Cyclone, que tem 22 metros de altura e faz uma volta de 360° antes na chegada. Devo admitir que cheguei a pegar a fila do Crazy Drop, que parece uma pista de skate onde você desce com uma boia e balança de um lado para o outro – mas voltei atrás. Quem sabe numa próxima?
Na saída, é preciso pegar as coisas no armário, devolver a chave no balcão e pegar os R$ 10 de depósito. Sem paciência para a pequena fila que começava a se formar no vestiário, a maioria das pessoas vai embora com as roupas de banho mesmo. Seguimos o exemplo: nos enxugamos um pouco, colocamos as saídas de praia, estendemos as toalhas no banco do carro e partimos. Na volta para casa, fiquei feliz ao perceber que, considerando o saldo do dia, eu não sou tão medrosa assim. Pois é, o Wet’n Wild mostrou o lado “selvagem” que habita em mim – e que eu nem sabia que existia.
Alimentação
No meio disso tudo, houve uma parada para o almoço, é claro. As barracas de comida vão abrindo gradualmente ao longo do dia. As primeiras só vendiam snacks, mas conforme a hora do almoço vai se aproximando, passam a ser servidos também alguns lanches e, no final do dia, o cheiro de pipoca e churros toma conta da área da saída do parque. Escolhemos o Snack Bar: fizemos os pedidos por um totem de autoatendimento e os trios de hambúrguer, batata frita e refrigerante ficaram prontos em menos de cinco minutos. Pedindo separadamente acaba saindo mais caro, mas é possível escolher também entre um suco, um energético ou uma cerveja. Em nenhum lugar do parque encontra-se uma comida com mais sustância ou um PF, mas há ainda espetinhos e pedaços de pizza. Depois do almoço, senti uma leve tristeza porque teria que esperar para fazer digestão antes de ir em outro brinquedo. Mas o sentimento passou rápido porque minha mãe me lembrou que era só entrar em uma fila que a espera já seria o tempo suficiente. Oba! E lá fui eu.
SERVIÇO
Como chegar? O acesso ao parque é feito pela Rodovia dos Bandeirantes, no km 72, no município de Itupeva, a pouco mais de uma hora de carro de São Paulo.
Quanto custa? Crianças pagam a partir de R$ 59,90 e adultos, R$ 129,90. Os ingressos são mais em conta se comprados com antecedência pelo site. Ao fazer a compra diretamente na bilheteria, os preços são mais altos e podem variar dependendo da lotação do parque.
Importante: Se você deseja experimentar um brinquedo específico, confira as datas de manutenção das atrações nesse link.
Leia aqui um relato sobre uma viagem em família ao Beto Carrero, em Santa Catarina