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Paracuru e Trairi (Ceará): kitesurfe, dunas, praias e pousadas

O caminho que leva a destinões da costa cearense ainda guarda dois refúgios: as praias intocadas de Paracuru e o sossego das vilas de pescadores de Trairi

Por Ian Pellegrini Montes
Atualizado em 12 ago 2022, 10h34 - Publicado em 12 ago 2022, 10h07
Mundaú, Traiti, Ceará
Pôr do sol nas dunas de Mundaú, em Trairi. (Wagner Garcia Photography/Getty Images)
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Cruzando o oeste cearense pela CE-085, a chamada Rodovia Estruturante, inúmeras caminhonetes de luxo de famílias de Fortaleza seguem para destinos tradicionais como Jericoacoara, 200 quilômetros adiante. Mas no retrovisor já se veem forasteiros em carros alugados pararem no meio do caminho, em refúgios ainda pouco conhecidos do grande público. A 90 quilômetros da capital está a pequena Paracuru, cidade com pouco mais de 30 mil habitantes, que pode, sim, ser chamada de “a Jeri de ontem”. Preços ali ainda são do mundo real, não há muvuca e a beleza se mantém intocada em 11 praias. Mais 40 quilômetros de estrada além de Paracuru, ainda antes de Jericoacoara, estão as três vilas de pescadores que fazem o encanto de Trairi. Mas vamos por partes.

Paracuru

Saindo do centrinho da cidade, o destino são as praias do lado oeste, melhores e mais tranquilas. Depois de uma estrada de paralelepípedos, uma caminhadinha leva a uma viela que dá numa orlinha em forma de meia-lua. “Aqui é a Praia da Pedra do Meio?”, pergunto a um grupo que curtia um jogo de futebol na areia. Apenas uma parte confirma – o lugar também é conhecido como “Havaizinho“. Pode ser: o sol se esconde atrás da mata, à esquerda de quem olha para o mar, com uma sequência de praias desertas em perspectiva ao fundo. É o pôr do sol mais bonito do pedaço – talvez dividindo o título com Barra do Rio Curu, penúltima praia a oeste, que guarda um rio, pontilhado de barcos de pesca, que beija o mar.

Universo distinto se vê no lado leste: as faixas de areia são longas e há profusão de dunas, o que faz de Paracuru uma espécie de irmã mais nova da vizinha Cumbuco. Sobretudo nas praias da Pedra Rachada e do Vapor. Esta última, a seis quilômetros do centro, é um bom ponto de partida para uma caminhada pela faixa de areia virgem, que segue por mais alguns quilômetros até o Rio Siupé, na divisa com Taíba. Foram os gringos que primeiro descobriram Paracuru, para onde eles rumam em agosto, quando começa a temporada de ventos do kitesurfe. Eles se concentram principalmente no Quebra-Mar, point clássico da Praia do Vapor – ali, o céu fica tingido pelo colorido das pipas, pilotadas por velejadores que voam sobre o mar com uma prancha presa aos pés, abusando de saltos velozes e manobras plásticas. Para os iniciantes, um bom período é entre maio e junho, quando os ventos são mais fracos. Na pousada Kite Friends Lux, há uma escola de kitesurfe, kite foil e wing foil, que conta com instrutores da IKO (International Kiteboarding Organization). 

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Outra coisa que os estrangeiros adoram é o sandboard. O esporte é um tipo mais radical do consagrado esquibunda, só que você desce a duna em pé sobre a prancha de madeira. Acostumados com a neve, os gringos deslizam facilmente pelas areias de Paracuru. Ainda mais na companhia de Bruno Sales, prata da casa que se sagrou bicampeão do circuito mundial da modalidade em 2014. Como o faturamento não é o forte no sandboard, ele acumula as funções de instrutor, guia turístico e dono de agência, que também leva viajantes em experiências em bugues e quadriciculos.

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Se ainda houver disposição para um jantar no centro depois de um dia cheio de passeios, kitesurfe e muito sol na moleira, pegue o rumo da Praça da Matriz. Os poucos restaurantes se concentram no entorno dela, que é vizinha da Praça dos Eventos, onde há um farol. O mais tradicional deles é o Fórmula 1, famoso pelo escargot preparado pelo francês Michel. A casa também serve pescados locais em receitas simples com tempero caprichado, como o filé de sirigado com purê de batatas.

A hotelaria segue a mesma toada. Com quartos simples e área externa agradável com uma pequena piscina e um bar, a Kite Village resolve. Quem procura um pouco mais de conforto pode considerar a Vento Brasil, a dois minutos a pé da praia e com infra para quem quiser (ou precisar) fazer um home-office. A pousada Casa na Lagoa, localizada à beira de um lago, oferece aulas de kitesurfe, ioga e passeios de bugue.

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Trairi

Chegando a Trairi, outra estrada (a CE-163, asfaltada) conecta as três vilas de pescadores que justificam a parada: Guajiru e Flecheiras, no lado leste, e Mundaú, no extremo oeste. “O turismo não manda aqui, quem manda é o pescador”, diz Leônidas Vasconcelos, que abriu a pousada Cabôco Sonhadô em 1999.

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Potencial turístico não falta – basta olhar para a praia, onde jangadas descansam sobre uma faixa de areia escura; ou para as águas verdes do Rio Mundaú, que serpenteiam em direção ao mar contíguo a enormes dunas. “Suas voltas contínuas enganam a cada passo o peregrino, que vai seguindo o tortuoso curso, por isso foi chamado Mundaú”, descreve romancista cearense José de Alencar em Iracema, de 1865. Tudo isso é contemplado plenamente em um catamarã que desbrava o trecho mais isolado rio acima, passando por um manguezal. Programe a saída para o fim de tarde, quando há uma parada para o pôr do sol nas dunas da foz do rio.

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Sem barco, o trecho à esquerda da praia garante águas calmas, protegidas das ondulações por recifes de coral. Nas fases de lua cheia e nova, a maré baixa, que deixa peixes e até polvos ilhados entre os corais, dá vida a verdadeiros aquários para mergulho livre. O jeito mais interessante de se conhecer os recifes é com um caiaque alugado na própria Cabôco Sonhadô. Para matar a fome com louvor, rume a Flecheiras, a mais movimentada das três vilas. Em uma área residencial, eis o tradicional Nonô, que entrega pizzas, fetuccine caseiro e o aclamado filé a quatro pimentas. Durante o dia, barracas de praia próximas disputam os turistas. No cardápio, comandado por nativos, predominam a cavala e outros peixes locais.

Seguindo pela orla, uma parte da areia é ocupada pelas espreguiçadeiras de madeira e redes do Dayo Hotel, que mantém um restaurante aberto ao público de frente pro mar. A terceira vila, Guajiru, ainda preserva o clima de povoado pesqueiro, apesar do recente desenvolvimento da hotelaria local. Mais uma vez atrelado ao boom de europeus ávidos pelo kitesurfe. O esporte aqui, pasme, serve até como meio de transporte. A direção da brisa é tão precisa que permite velejar por grandes distâncias margeando a costa, curtindo a paisagem. 

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HOTÉIS E POUSADAS EM PARACURU E TRAIRI

A hospedagem mais confortável da região fica em Trairi. É o Zorah Beach, construído em 2013 pelo indiano Sumeet Dhillon em um terreno colado ao mar na praia de Flecheiras. A decoração é composta por peças originais da Indonésia e da própria Índia, de onde veio um forno tandoor e o estilo de se vestir dos zelosos funcionários. Suas acomodações têm varanda ampla e privativa, sem falar na hidro e no enxoval de primeira. O comer não fica atrás. O café da manhã parrudo é uma sequência de quitutes.

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Ainda em Flecheiras, o Dayo Hotel tem apês com piscina privativa, enquanto a simples Cabôco Sonhadô fica de frente para o mar de Mundaú. Em Guajiru, a pousada Vila Vagalume e o resort Rede Beach são opções confortáveis. Em Paracuru, a Vento Brasil é uma pousada central, a dois minutos a pé da praia. A Casa na Lagoa é para quem buscar charme e a Kite Village, custo/benefício.

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