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Camocim, no Ceará, é como a Jeri de 30 anos atrás

Uma vila simples, jeitosa e tranquilíssima onde os habitantes ainda vivem mais da pesca do que do turismo

Por Eduardo Junqueira
Atualizado em 23 jul 2021, 16h56 - Publicado em 4 out 2012, 16h42
Praia do Maceió, em Camocim
Sem celular e internet, a Praia do Maceió, em Camocim, é um convite à vida simples – hoje e depois de amanhã. Crédito: (Alex Uchôa/Arquivo pessoal)
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Após passar vários dias na cidade serrana de Carnaubal, um lugar refrescante em se tratando da divisa do Piauí com o Ceará, era hora de ver o mar. A bordo do motorhome Turiscar 1985, onde vivo e viajo desde 2008, eu, um escritor errante, minha mulher, a fotógrafa suíça Geya, e Thor e Melissa, nosso casal de pastores, seguimos para a litorânea Camocim, 200 quilômetros ao norte de onde estávamos. De lá, o rumo natural seria Jericoacoara, cerca de 50 quilômetros mais a leste, ou a Ilha do Amor e suas dunas, mas o terreno arenoso para chegar à primeira e as limitações da balsa para a segunda impediam o deslocamento do veículo de sete toneladas. Decididos a ficar pela área, rodamos em busca de um estacionamento para o MotorZen (como chamamos nossa habitação móvel), no que fomos aconselhados: “Vá a Maceió!” Pasmei. “Maceió, Alagoas?”, questionei. “Não, a Praia do Maceió, aqui mesmo, em Camocim”, responderam-me. Nunca ouvira falar… Maceió no Ceará?

Maceió, a propósito, era o nome que os índios davam às lagoas formadas pelas águas da chuva na costa do Nordeste. Camocim é repleta delas. Logo no começo da estrada de 12 quilômetros que liga a cidade à Praia do Maceió, o Lago Seco contradiz seu nome com um espelho-d’água majestoso. Um olho na paisagem, outro no caminho, já que o calçamento inicial dá lugar à terra batida. À direita, o mar aparece em cores incríveis. À esquerda, as dunas vão subindo, subindo e cobrem a via de areia. Nossa contemplação quase acabou quando uma D-20 pau de arara surgiu na contramão, obrigando-nos a reduzir a velocidade. O trecho em subida e a areia fofa deixaram o MotorZen totalmente zen, até atolar. Antes que eu pensasse que era melhor ficar preso ali do que no trânsito de uma metrópole, apareceram dois motoqueiros prontíssimos a ajudar. Palpites, empurrões, alavancas e duas horas de trabalho depois, estávamos a caminho de uma barraca na beira-mar de Maceió, de propriedade – olha só – de um dos solícitos motoqueiros.

MotorZen estacionado, eletricidade e água à disposição, mal saí do veículo para estirar o corpo e deparei com uma praia paradisíaca, abençoada por uma lua cheia prestes a luzir. Após uma noite bem-dormida, fomos explorar os domínios de Maceió – quero dizer, apreciar a praia e o Lago do Boqueirão, caminhar pelas dunas e relaxar ao pôr do sol, um dos mais belos do Nordeste. Além das barracas que funcionam como bares e restaurantes, podíamos contar com o peixe fresquinho trazido pelos pescadores logo pela manhã. Com pouquíssimos habitantes, a vila é bem simples, mas muito jeitosa e tranquilíssima. Seus moradores vivem da pesca (toda a Camocim é um polo pesqueiro) e, em proporção menor, do turismo incipiente, como atestam as poucas e espartanas pousadas – a Pousada Recanto do Mar, a melhor delas, gaba-se de ter TV e frigobar nos aposentos. Os ventos alísios fizeram de Maceió um point de kitesurfe, esporte que vem trazendo praticantes e instrutores à região. No mais, é uma fartura só: farta sinal de celular e fartam mercados e padarias. Por isso, muita gente opta pelo bate e volta de bugue, pau de arara ou carro de passeio, via Camocim, sobretudo em feriados como o Carnaval, quando a localidade fica movimentada.

Quando você viaja para lugares como Arraial d’Ajuda, Trancoso, Itacaré, Pipa, Canoa Quebrada ou Jericoacoara é comum ouvir frases saudosistas do tipo “Isso aqui era bom antes”, “Devia ter visto há dez anos”, “Já não é mais aquilo”. Pois a Praia do Maceió parece ter mudado pouco com o tempo. Camocim, na área urbana, não desfruta do mesmo marasmo e abriga até um resort, o Boa Vista, um oásis de lazer com piscina convidativa, 123 quartos espaçosos e diárias camaradas. Inaugurado em 2002, o hotel, porém, não chegou a fomentar nenhum ciclo de desenvolvimento turístico nem atraiu holofotes para a cidade. Pesam ali a concorrência com a queridinha Jericoacoara e a dificuldade de locomoção a quase qualquer parte de Camocim. Para chegar a seu cartão-postal mais famoso, Tatajuba, a 22 quilômetros, é necessário contratar um bugue, atravessar o Rio Coreaú numa balsa e percorrer toda a extensão da chamada Ilha do Amor. A aventura é recompensada por um mar verdinho, coqueiros, dunas e lagoas que fariam jus ao apelido de Lençóis Cearenses caso houvesse tal apelido. Para a linda Barra dos Remédios, encontro do Rio dos Remédios com o oceano, a Praia do Maceió marca só o início do perrengue – de lá, são mais 23 quilômetros de areia nada amigável.

No trecho dominado pelas dunas entre Jericoacoara e os Lençóis Maranhenses – região que inclui Camocim e foi batizada pelos marqueteiros de Rota das Emoções -, é possível montar um roteiro recheado de recantos, como Tatajuba e a Praia do Maceió, onde o cotidiano da vida simples se harmoniza com maravilhas naturais e poucos forasteiros. No Piauí, por exemplo, a Praia de Barra Grande, quase na divisa com o Ceará e a apenas 97 quilômetros de Camocim, é um achado dos kitesurfistas. A linda enseada de águas transparentes, pousadas rústicas e ostras a preços módicos tem uma vibe tão desencanada quanto a de Maceió, embora menos provinciana pela chegada dos gringos do kite.

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Conheci diversos lugares antes e depois de serem transformados pelo turismo, em alguns até morei. Se melhoraram ou pioraram? Bem, ganharam pousadas chiques, centrinhos charmosos e opções gastronômicas. Mas quem em Canoa Quebrada ou Jericoacoara ainda nada nu, se deita na areia para ver o céu e fica amigo dos nativos mais antigos? Há anos tento encontrar uma vila de pescadores pouco explorada, com uma praia preservada, um acesso não muito fácil e a atmosfera das remotas freguesias. Um desses destinos para voltar no tempo e reviver a felicidade proporcionada pelas coisas simples. Na Maceió cearense, eu achei. Mas, depois de alguns dias sublimes, chegava o momento de o MotorZen levantar poeira. Que aquele pedaço de sossego continue singelo, pacato e encantador para que ninguém daqui a uns 20, 30 anos diga “Ah, isso aqui era bom antes”.

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ICARAÍ DE AMONTADA, CE

Onde o vento faz a curva: Apelidada de Icaraizinho, é um dos novos picos de kite e windsurfe do Ceará. Isolada por uma estrada quase sem sinalização, a vila preserva um astral de paraíso perdido, enquanto a extensa praia exibe as águas esverdeadas e as dunas que ornam boa parte do litoral do estado. Na vizinha Barra das Moitas, carros de boi e redes abarrotadas de peixes compõem um cenário ainda mais primitivo.

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Como chegar: De Fortaleza, atravesse a ponte sobre o Rio Ceará e percorra mais 8 km até a Rodovia Estruturante, que leva ao litoral oeste. Em Barrento, entre à direita na estrada para a Praia da Baleia e siga até a localidade de Veados, onde começam os 27 km finais para Icaraí.

BARRA DE CAMARATUBA, PB

Travessia de índios: Point de surfe no extremo norte do litoral paraibano, o rústico vilarejo é salpicado de coqueiros. Ao sul, as águas verdes do Atlântico banham as praias do Forte, de Tambá, de Jerimum e das Cardosas – todas desertas e margeadas por uma longa falésia colorida, no alto da qual se encontram os povoados indígenas de Galego e Lagoa do Mato. Acessos de terra e areia ligam Camaratuba à Baía da Traição, cidadezinha de veraneio com pousadas simples, comércio e caixas eletrônicos.

Como chegar: De João Pessoa, siga pela BR-230 até a BR-101 no sentido Natal. Em Mamanguape, tome a saída à direita para a Baía da Traição ou, 36 km depois, para Mataraca. Percorra os 12 km asfaltados até esse município e outros 12 de piçarra para chegar a Camaratuba.

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BAÍA FORMOSA, RN

Falésias coloridas: A pequena vila de pescadores fica perto de um dos últimos trechos de Mata Atlântica nessa latitude. Ladeadas de falésias coloridas, as praias são desertas e têm águas em tons clarinhos de verde e azul, dunas avermelhadas, muitos coqueiros e bons picos para surfe. Para conhecer os 26 quilômetros do litoral até a Praia do Sagi, na divisa com a Paraíba, contrate um bugueiro local.

Como chegar: De Natal, a 97 km, entre na BR-101 (em duplicação) no sentido da Paraí­ba e, 8 km depois de Canguaretama, siga à esquerda por 16 km até a Baía Formosa.

CORURIPE, AL

Aos pés do farol: Areias desertas, recifes, aquários naturais, coqueiros e lagoas espalham-se pelos 30 quilômetros do litoral de Coruripe, cujas praias principais – Miaí de Cima e Miaí de Baixo -, além dos nomes divertidos, são bem preservadas. O farol listrado de preto e branco confere charme ao Pontal, a antiga vila de pescadores que concentra os bares e as pousadas e comercializa o artesanato de palha de ouricuri, típico do lugarejo.

Como chegar: De Maceió, siga pela AL-101 no sentido sul por 76 km, caminho asfaltado que passa pela Praia do Francês e Barra de São Miguel. Simples assim.

PRAIA DO PATACHO, AL

A nova cinco-estrelas: A praia fica em Porto de Pedras, ao norte de São Miguel dos Milagres, região repleta de coqueirais, enseadas soníferas e pousadas elegantes. Graças a alguma conjunção cósmica, porém, Patacho manteve-se ainda mais deserta e bem preservada. Na maré baixa, o mar cristalino recolhe-se por centenas de metros, represando as águas mornas em piscinas naturais formadas pelos recifes.

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Como chegar: Pela AL-101, os primeiros 50 km de Maceió à Barra de Santo Antônio correm paralelos à praia. Após São Luís do Quitunde, deixe a estrada principal e vire à direita em direção a Passo de Camaragibe. São Miguel dos Milagres está logo ali, a 11 km, e a Praia do Patacho, 14 km depois.

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