Não adianta fugir. O dia de Beto Carrero com os filhos vai chegar
Não basta ser mãe. Tem que camelar, andar de montanha-russa e, mesmo moída, vibrar com a alegria dos filhos no fim do dia
Nós vamos ao litoral de Santa Catarina todos os anos e meus dois pequenos cresceram vendo placas do Beto Carrero na estrada. Eu sempre criei as mais brilhantes desculpas para desviar dele. A verdade é que não gosto de parque de diversões, fico tonta até com balanço de pracinha e não aguento nem fila de cinema. Além disso, um dia de Beto Carrero significa um dia a menos de praia, o que me parece um crime. Mas de repente, uma tem onze e o outro oito e, juntos, eles se tornaram muito mais espertos do que eu. Chegava ao fim todos os meus planos diabólicos para escapar de um parque. E lá fomos nós ao Beto Carrero World!
Reservamos uma pousada a 500 metros da entrada, a Casa do Luiggi, pra poder ir andando, mas não existe uma passarela que ligue a cidade de Penha à entrada do parque e a faixa de pedestre fica à uns 250 metros, ou seja, os 500 metros iniciais já viraram 1km. Lemos que os portões abriam às 8h30 e lá estávamos nós exatamente nesse horário. Na verdade, nesta primeira meia hora o que está aberto é o lounge central, onde há um palco e uma animadora tentando animar as já muito animadas crianças. O meu caçula dançava como louco e eu fiquei calculando se isso não prejudicaria o rendimento daquelas perninhas ao longo do dia. Antes de abrirem as porteiras que conectam as animadas crianças ao mundo mágico dos brinquedos que chacoalham, temos a chance de ver e fotografar alguns personagens de Madagascar. Fofíssimos.
Meu marido, o principal cúmplice dos pequenos nessa empreitada, planejou um minucioso roteiro começando pelo lado esquerdo do parque e encerrando no lado direito. É claro que isso não deu certo e nós rodamos o Beto Carrero inteiro muitas vezes, percorrendo exatos 16 km em um único dia, um número que eu vou guardar na memória pra usar a meu favor pelo resto da vida longa dos meus pequenos (que venham infinitas trilhas no mato pra compensar o meu esforço).
Há um aplicativo onde é possível reservar três brinquedos. Os escolhidos foram a Tigor Mountain, Crazy River e o Dinomagic. O plano era começar pela Ilha dos Piratas e seguir para a Tigor Mountain, mas no caminho vimos o carrinho bate-bate sem filas e nos jogamos pra dentro. Time das meninas contra time dos meninos e é dado início ao massacre das cervicais. A Nina avançava com força pra cima do carrinho do João e foi lindo ver aquela fúria toda. A vontade que ela tem de bater no guri foi descarregada naquele brinquedo super terapêutico. Adorei. Se eu pudesse comprava um pra instalar no quintal. De lá, fomos pra Ilha dos Piratas, atravessando uma ponte pênsil bem bacaninha onde os meninos de oito anos não conseguem passar sem pular e sacudir a alma de todo mundo. Do lado de lá, uma paisagem bonita, uma caverna super bacana cheia de “ouro” e piratas e alguns monstros bem legais de fotografar. Tem também um brinquedo que vai e vem, chamado Barco Pirata, onde felizmente ninguém quis ir, e uma sala de espelhos que não tem espelhos e sim plásticos e não se vê absolutamente nada.
Cruzando a ponte perde-alma novamente, vamos rumo à realização do sonho da vida do João: a montanha-russa. Reservamos a menor do parque, uma decisão calculada friamente porque seria a estreia dos dois filhos nesse tipo de brinquedo. Só que chegamos uns 40 minutos antes do horário reservado, então resolvemos dar mais uma caminhada nos arredores.
Passamos em frente a outra atração chamada Raskapuska. Tinha uma fila pequena na frente, e nos pareceu uma boa ideia aproveitar o tempo que tínhamos. Só que depois da fila pequena da frente havia um corredor, onde tinha outra fila pequena e, depois do corredor havia outro corredor, e assim fomos, reclamando e perdendo o horário da montanha-russa tão sonhada… Eu inconformada porque havia placas que deveriam indicar “a partir deste ponto xis tempo de fila”, mas em nenhuma delas havia a informação. Também não há funcionários para perguntar. Esse é um ponto que me chamou a atenção no parque todo. Falta equipe. Uma estrutura desse tamanho cheia de gente tonta como eu precisa ter redundância de informações. Precisa ter mais placas e muita gente pra acudir os desesperados. Logo depois, eu descobri que no app do parque há uma ferramenta muito bacana, muito comum nos parques de Orlando, que mostra o tempo de fila em cada brinquedo, mas meu marido disse que naquele momento em que encarávamos aquela fila monstra em doses homeopáticas o app não funcionou (talvez ele tenha mentido pra salvar a própria pele, o que também é compreensível). Bom, o brinquedo é fofo, acho que valeu a pena. A Nina ficou com medo dos bonecos que, segundo ela, pareciam de filme de terror, coisa que ela nunca viu – até onde eu sei.
Saindo de lá, tivemos que contar pro João que perdemos o horário da montanha-russa e nessa hora o mundo acabou pro guri, piorando bem quando percebemos que a fila dava mil voltas. A mãe respira fundo, consola a criança, combina de tentar mais tarde, fala que legal, olha quanta coisa pra gente ver, que divertido, uhu, e se arrepende…
Depois dali, entramos em um cinema 4D com óculos meio arranhados que impedem uma boa visão, mas as cadeiras levantam, chacoalham e deixam as crianças felizes. E depois uma reserva desfrutada com sucesso: Crazy River. Um bote que desce uma corredeira com um paisagismo sensacional de Madagascar. Lindo, fofo e refrescante. Adoramos! Neste ponto descobrimos que a fila de quem tem reserva é na saída dos brinquedos e não na entrada. E como os brinquedos são enormes isso é garantia de emoção, com aquela correria de quem tá perdendo o voo em aeroporto lotado com filho pequeno, uma delícia.
Na sequência, era preciso voltar ao drama da montanha-russa perdida e nesse instante eu já estava bem familiarizada com o app que mostra o tempo de vida que se perde em cada fila. Com isso, vi que havia outras montanhas-russas com tempos de espera muito menores. Resolvi passar discretamente na frente de cada uma. Uma é vermelha, enorme, onde as pessoas vão penduradas, a coisa mais assustadora (quase tão assustadora quanto uma torre enorme que solta o povo lá de cima gritando e morrendo). A outra, um pouco menor e com dois loopings, chamada carinhosamente de Star Mountain. Olhei a fila dessa. Poucas pessoas, entre elas crianças menores do que os meus, felizes, saltitantes, confiantes. Pais e mães animados. Talvez fizesse parte da cenografia. Meu coração acelerou, respirei fundo e lancei: vamos nessa! Que alegria, delícia, adoro, bora, coragem! Ninguém acreditou em mim, nem eu, mas fui. Fomos.
Eu sentei na frente com o João. A Nina com o Fábio atrás. Olhei pro João tão pequenininho do meu lado. Ele sumia naquele cinto de segurança. Fiquei pensando se ele não escaparia pela lateral. Enquanto o maldito trem subia lentamente até as malditas estrelas, eu via o mundo ficar pequeno lá de cima e gritava feito doida: que legal que legal que bacana, uhu. A minha intenção era acalmar as crianças, que obviamente estavam muito mais calmas do que eu. Na verdade, a única pessoa desesperada naquele brinquedo infernal era eu. O que salva é que do momento em que o trem se solta lá de cima até a parada final leva, sei lá, cinco segundos. O negócio começa e acaba no mesmo instante. Acho que a gente desmaia ou morre, e ressuscita quando o trem desliga. E daí, minha amiga, você não consegue nem andar. Tudo treme. E a mãe se arrepende! Mas o guri pira, mostra a mãozinha tremendo e você vê o olho dele brilhando muito. Quer fotografar a criança, mas não consegue parar de tremer. O João quis repetir pra poder “ver com o olho aberto”. Missão pro pai. Eu e a Nina ficamos tremendo do lado de fora.
Depois disso, só um chope salva. Ou dois, enquanto as crianças devoram hambúrguer com batata frita e refrigerante, como se nada tivesse acontecido.
O último brinquedo do dia foi o Dinomagic, um trenzinho fofo que não sai do chão (amém). Muito lindinho, dá uma volta enorme no parque, com direito a bandidos correndo a cavalo e uma chegada triunfal do grande herói Beto Carrero, além de dinossauros e outras emoções. Isso sim é brinquedo! E ainda dá pra descansar um pouco as pernas.
Conseguimos assistir a dois espetáculos circenses no meio de tudo isso: Aqua e Madagascar, ambos lindos, alegres e bem produzidos. Tentamos o Hot Wheels, mas as filas estavam intermináveis nas duas apresentações. Há como comprar um Fast Pass, uma espécie de fura fila oficial, só que mais que dobra o custo da brincadeira. Achei que não precisava, mas pra quem não aguenta mais do que um dia de parque como eu pode ser uma boa ideia, pois agiliza a coisa toda.
Pra encerrar, volta-se ao palco central para a apresentação final, Natal do Shrek. Eu já não sentia mais as pernas, tinha a cabeça doendo e o corpo todo grudando feito papel pega-mosca. Uma exaustão física e emocional que me levou a crer que a heroína do dia na verdade era eu. Então reparei nas minhas duas crianças, radiantes de alegria, rindo, pulando e dançando, 16 km depois… e nessa hora a mãe já não se arrepende mais. Obrigada pelo dia, turma do Beto! E até a próxima!
Penha também tem praia, felizmente. Na véspera do Beto Carrero, demos um rolê rápido nas três orlas da cidade: Armação, Trapiche e Praia Vermelha. As duas primeiras tinham muita gente e muito barco. Passamos direto. Mas a Vermelha é uma delícia. Fica no final de uma estradinha de terra, tem poucas casas e um único restaurante na beira do mar. Detonamos uma porção de peixe, camarão, lula e batata frita. Veja bem: porção para dois adultos e duas crianças, com dois refrigerantes e duas cervejas. Total: R$ 150. Um viva pra Santa Catarina!
SERVIÇO
Beto Carrero World
Como chegar: o parque fica a 8 km do aeroporto de Navegantes, a 37 km de Balneário Camboriú e a 114 km de Florianópolis. Está localizado no município de Penha, ao norte da capital catarinense.
Ingressos a partir de R$ 119,90 (pelo site)