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Cumbuco: nada melhor do que não fazer nada

Mar, duna, lagoa e vento. Além dos atributos naturais, a localização, a 30km de Fortaleza, ajuda: não é preciso fazer nenhum esforço para chegar a Cumbuco

Por Marília Saveri
Atualizado em 30 jul 2021, 16h03 - Publicado em 11 mar 2013, 20h22

Troco a cubana Varadero, uma das lindas praias do Caribe, por Cumbuco, coladinha a Fortaleza. A opinião não deriva de nenhum nacionalismo exacerbado de minha parte nem tampouco é uma decisão motivada por razões econômicas – há ocasiões em que é até mais barato ir ao Caribe do que ao nosso Ceará. Mas eu não sou daqueles que gastam tanto: não faço nenhuma questão de frequentar resorts, por exemplo. Sou mais de conhecer gente. Adoro uma casinha com jardim lotada de mochileiros.

Paraíso terreno. Foi esse o meu pensamento quando visitei Cumbuco pela primeira vez. Quem costuma selecionar seus cantinhos favoritos no mundo conhece bem a sensação de descoberta: os olhos brilham, e as pernas não vacilam, querendo logo correr por toda parte e desvendar o panorama que ficará para sempre na memória. Mas o tempo era curto, eu tinha apenas uma manhã de domingo, uma aprazível manhã de domingo na praia de água hipnótica de tons coloridos. Por tudo isso, retornei a Cumbuco.

E então agora estou aqui, nessa praia do município de Caucaia, a 30 quilômetros de Fortaleza. Quem passa pela capital cearense tende a se mover mais e a procurar pelas badaladas praias de Canoa Quebrada e Jericoacoara. Sim, são dois lugares lindos. Mas Cumbuco merece estar nessa seleção. O lugar é perfeito para quem deseja apenas se estirar na areia e mais ainda para quem pratica kitesurfe ou windsurfe.

Cumbuco é o destino de sol dos praticantes desses esportes. Os bons ventos durante todo o ano, aliados à possibilidade de treinar em lagoas ou no mar, fazem dessa praia o point para eles. E mesmo os mais sedentários agradecem: com uma temperatura na faixa dos 30 graus o ano inteiro, a intensidade do vento, que chega a 40 quilômetros por hora, funciona como ventilador natural. Os ventos sopram a favor de Cumbuco – e a favor de que Cumbuco seja o seu próximo destino de viagem. É sabido que chove mais de março a maio na região, mas mesmo assim dá para curtir bem a praia nesse período, caso você ainda não esteja planejando suas férias de julho ou as do próximo verão: o céu pode amanhecer encoberto, mas logo desanuvia.

Emoção suicida

“Por que sempre pago para ter emoções suicidas?”, eu me perguntava enquanto o bugueiro Francisco Cristiano fazia manobras radicais e acelerava freneticamente pelas dunas. Ele respondia com gargalhadas aos meus gritos agudos de apreensão. A culpa, confesso, era só minha. À velha pergunta “com emoção ou sem emoção?”, optei pela adrenalina. De qualquer forma, uma experiência que vale a pena ser vivida, especialmente após o nihil obstat de um cardiologista.

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O roteiro começou na relaxante Lagoa do Banana. O cenário não atrai gente do mundo inteiro à toa: a natureza se esmerou ao desenhar os contornos daquelas dunas que misturam areia e vegetação com um céu azulíssimo. A cada curva eu tinha vontade de me deter. E era o que eu fazia. Depois, uma parada indispensável é no Rio do Cauipe, que agrega brincadeiras como tirolesa, toboágua e esquibunda. Vale ressaltar que o toboágua não é digno de parque aquático, trata-se apenas de uma lona que desce de uma montanha de areia e chega à água. Alguns o chamam de “insano natural”, em alusão ao famoso toboágua do Beach Park, em que as pessoas atingem a inacreditável velocidade final de 105 km/h.

Não bastasse toda a diversão, o passeio termina na Barra do Cauipe, muito frequentada pelos esportistas. A união da água doce e gelada com a proximidade do mar faz desse cenário um espetáculo. O passeio de bugue dura uma hora e meia e o de cavalo ou jegue, trinta minutos. A sensação é de uma inabalável calmaria.

O bugue deixa sua marca no areal sem fim de Cumbuco

Europa em Cumbuco

O local onde se hospeda pode dizer muito sobre quem você é. Com uma leve mochila nas costas, vestida com jeans e tênis nos pés, chego a um hostel situado a dois quarteirões da Praia de Cumbuco, o Casa Cohiba. O local recebe esportistas estrangeiros, oriundos principalmente da Alemanha e da Suíça. É um lugar muito estiloso, com móveis rústicos, jardim bem planejado, piscina e vista para o mar. Nada de muito luxo, tudo de muito charme.

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Fui recebida por um casal de austríacos. Daniel e Marian Rebernk são da cidade de Karten e não precisaram de muitas idas a Cumbuco para finalmente decidir trocar seu país de origem pelo lugar, onde agora administram o Cohiba. Daniel pratica kitesurfe e diz que não há outro ponto melhor no mundo para o esporte. “Outras cidades têm lagoa, mas não têm mar, ou vice- versa. Aqui temos lagoa e mar, e os ventos são perfeitos”, conta. Grávida, Marian lamenta a possível volta à Europa no fim do ano. Ela reconhece que precisa ficar mais próxima da família austríaca nessa fase importante de sua vida, mas de qualquer modo espera regressar a Cumbuco algum dia. “A praia é linda, há palmeiras, e a água é diferente. É um lugar tranquilo e muito próximo a Fortaleza, onde encontro tudo de que preciso”, diz.

Austríacos não foram os únicos a se deixar seduzir por Cumbuco. Esta é a segunda vez que a norueguesa Sophia Andersen vem à praia, agora em companhia da amiga Victoria Berggrund. Ambas com 19 anos, elas disseram que aproveitavam o local para também pensar na carreira que deverão seguir. Sophia elegeu Cumbuco como destino das férias para fugir do inverno intenso de seu país e, claro, aproveitar o mar para a prática de kitesurfe. “Fiz um curso de quatro dias na última vez em que estive em Cumbuco. E aqui a água é quente e de uma cor bonita, enquanto na Noruega raramente nos aventuramos a nadar”, conta. A amiga Victoria não se arrepende da decisão. Ela me disse estar vivendo “férias agradáveis” – expressão que fez questão de decorar em bom português para explicar a todos sua alegria.

Eu também buscava férias agradáveis e imaginei que elas viriam facilmente, que seriam uma decorrência natural do fato de eu estar no local mais propício para isso. Bastaria não fazer nada. Mas, para pessoas que estão sempre preocupadas com as pressões rotineiras, como eu, fazer nada exige certo esforço, a coisa não vem por inércia. Desligar-se do trabalho e dos afazeres cotidianos pede de mim uma concentração que não intuía nas pessoas à minha volta. Elas pareciam simplesmente relaxadas e despreocupadas, ponto. De minha parte, eu precisava mandar a mente se calar, parar de ficar pensando que devia aproveitar o lugar tranquilo para refletir sobre meus próximos desafios pessoais e profissionais.

Ioga e hidratação

Sentada na praia praticamente deserta à tardinha, tentando fazer ioga, vi-me tomada por pensamentos. Que devia desligar meu celular; que devia, talvez e contraditoriamente, acessar meu e-mail ou olhar o Facebook – algum amigo poderia ter deixado ali uma mensagem. Enlouquecida tentando relaxar, busquei uma tenda de massagem. Se não houver muito movimento, consegue-se algum brinde – fiquei com a hidratação para meus cabelos já tão ressecados com praia e mar. Tenho a impressão de que foi aí que comecei a ganhar a guerra contra minha mente.

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Um dos motivos que me levaram a gostar de Cumbuco é sua proximidade de Fortaleza. Pode-se dizer que Cumbuco é uma Jeri para quem não quer pensar. Está a uma hora, se tanto, do aeroporto de Fortaleza. Não exige que você tome decisões sobre a maneira como vai chegar lá: se de carro alugado, 4×4, bugue, ônibus, jardineira para atravessar as dunas, o diabo. Ademais, há a beleza das praias, dunas e lagoas. Mas foi mais do que as belas paisagens de Cumbuco o que possibilitou que minhas férias fossem, como disse a amiga norueguesa, “agradáveis”. Contribuíram para isso as pessoas que conheci ali e, claro, a vitória pessoal contra minha mente fervilhante. Ao entardecer, após a ioga conturbada e a hidratação de cabelos, senti-me por fim relaxada. Em silêncio também interior, lembrei-me de uma frase frequentemente atribuída ao poeta gaúcho Mario Quintana: “Viajar é trocar a roupa da alma”. Cumbuco renovou a minha alma.

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