Instituto Inhotim: obras imperdíveis do museu ao ar livre
Aproveite as principais atrações do maior centro de arte contemporânea a céu aberto do mundo, em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte
Tocar, escutar, sem medo de entrar em contato direto com uma obra de arte. O Instituto Inhotim é uma experiência sensorial. Localizado no município de Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte, o imenso acervo de arte contemporânea convida para a imersão nas galerias. O espaço é enorme, e a arquitetura e o rico jardim botânico foram planejados para dialogar com os trabalhos de artistas do mundo todo. É difícil acreditar que um dos maiores institutos de arte do mundo tenha começado com a coleção de apenas um empresário, mas Inhotim nasceu assim: com uma ideia do mineiro Bernardo Paz. Aos poucos o projeto foi crescendo e, em 2006, o instituto passou a ser aberto ao público. De lá para cá muitas obras e galerias foram incorporadas à coleção inicial e, para aproveitar tudo o que o espaço tem a oferecer, o ideal é fazer uma visita de, pelo menos, dois dias.
Na hora de programar sua visita, fique atento também à programação do Inhotim em Cena – apresentações frequentes de música, dança e artes cênicas. Não há um roteiro pré-definido: ao entrar no museu, todos ganham um mapa e, a partir daí, é só se deixar levar pelos sentidos e desfrutar cada obra. Para percorrer as galerias e jardins, uma facilidade é comprar junto com o ingresso o passe para ir de carrinho elétrico aos pontos mais distantes. E não precisa ser rato de museu para se sentir bem em Inhotim: o espaço é tão majestoso que existe respiro entre uma obra e outra, o que evita o cansaço comum em grandes museus fechados.
Entre os destaques do acervo estão as instalações sonoras de Janet Cardiff. Perto da recepção, na Galeria Praça, fica a Forty part motet: 40 auto-falantes reproduzem, cada um, a voz de um integrante do coral da Catedral de Salisbury, cantando uma obra polifônica complexa. Os visitantes podem circular livremente e ouvir de perto baixos, barítonos e tenores, além de uma soprano infantil. Também é possível sentar no centro dos canais de áudio, fechar os olhos e apreciar o todo (a obra era temporária, mas devido ao grande sucesso, teve seu prazo de duração estendido).
Outra instalação da artista em conjunto com George Bures Miller tem um galpão exclusivo. Na obra O assassinato dos corvos, 98 auto-falantes, ao redor dos espectadores, emitem sons de corvos, marchas e canções de ninar intercaladas com a voz de Cardiff, que conta uma espécie de sonho (em inglês, há um folheto com a transcrição e tradução para o português). As imagens se formam na mente de cada um, a sensação é de entrar no sonho de outra pessoa.
Outra galeria imponente é a de Cildo Meirelles. O artista mexe com as sensações e desafia os preconceitos do público. Em Através, Meirelles coloca vários elementos que representam barreiras, como cercas, redes, arame em um mini-labirinto que pode ser percorrido e tocado. O chão de cacos de vidro reforça a idéia de limites. Desvio para o vermelho é mais uma obra que mexe com as sensações: primeiro um ambiente todo em vermelho, com objetos reais que poderiam estar na casa de qualquer um, depois um quarto escuro com um pote de tinta vermelha virado e uma pia torta pingando vermelho
.A artista plástica Adriana Varejão também tem galeria exclusiva, que impressiona com a arquitetura imponente: um imenso bloco de concreto parece suspenso sobre o lago sereno logo em frente. Dentro, obras que misturam pintura, escultura e arquitetura. A artista trabalha principalmente com azulejos. Em um dos ambientes, uma parede branca quebrada revela vísceras no seu interior. Aqui é comum encontrar pessoas que dizem sentir cheiro de carne crua (ainda que o aroma não exista).
Entre as galerias mais visitadas estão as Cosmococas de Hélio Oiticica e Neville d’Almeida, que misturam experiências táteis como almofadas, redes e até uma piscina com trilha sonora e projeção de slides. Mais distante, em um lugar elevado, fica o trabalho de Doug Aitken, de onde se pode ouvir o “som da terra” em tempo real. O pavilhão de vidro permite observar a natureza ao redor, enquanto um orifício de 200 metros de profundidade tem microfones ao final, que transmitem os ruídos do subsolo de forma amplificada.
As obras ao ar livre também impressionam. No meio do jardim é possível ver uma árvore suspensa, com as raízes para fora da terra, criada por Giuseppe Penone; nove paredes coloridas de Hélio Oiticica, em frente ao maior lago do Instituto; e 70 vigas de ferro, no alto de uma colina – a obra de Chris Burden foi feita com um guindaste lançando as vigas em uma enorme piscina de concreto fresco. É possível conferir o processo de criação neste vídeo.
Além do diálogo entre jardins, arquitetura e arte, as obras também se relacionam entre si. Em um imenso galpão espelhado, que parece um óvni, fica a instalação de Matthew Barney, um trator segurando uma imensa árvore branca. Para conhecer a origem dessa obra, preste atenção na galeria Marcenaria: lá um filme mostra que o trator foi, na verdade, um bloco no Carnaval de Salvador de 2004. A galeria do fotógrafo Miguel Rio Branco traz seus trabalhos ao longo de 30 anos. Algumas das imagens mais impactantes são do registro de cenas da prostituição no Pelourinho.
Inhotim tem uma estrutura exemplar, que garante uma boa comodidade aos seus visitantes: tem dois restaurantes, bar, café, pizzaria, lanchonetes e pontos de venda de cachorro quente distribuídos pelo espaço. Os guias bem informados e o amplo estacionamento facilitam a vida de quem chega.
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