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Roteiro de 48 horas em Brasília

Um roteiro pelas principais construções do centro da política brasileira. Com direito à gastronomia de primeira e passeios pelo Lago Paranoá

Por Fernando Leite
Atualizado em 4 ago 2021, 14h22 - Publicado em 11 jun 2013, 17h01

Juscelino Kubitschek, o presidente; Oscar Niemeyer, o arquiteto; Lúcio Costa, o urbanista; Athos Bulcão, o artista plástico; Burle Marx, o paisagista. Em dois dias pelo Distrito Federal você vai ver as obras e ouvir muito o nome dos responsáveis pela feição de Brasília, a cidade que tem forma de avião e endereços só encontrados por lá – Asa Norte, Asa Sul, Superquadra, Comércio Local, Setor Hoteleiro, Setor de Habitações Individuais, Setor de Mansões Isoladas…

A arquitetura da cidade em meio ao clima seco do Planalto Central está longe de ser um consenso. Aliás, Niemeyer nunca foi uma unanimidade. Mas não há como desprezar as linhas arrojadas no arquiteto, nessa que foi sua maior obra.

Antes de começar o giro pela Capital Federal, algumas importantes observações no quesito mobilidade urbana: o planejamento da cidade foi muito perverso com o pedestre. Viadutos e largas avenidas dificultam a vida de quem gosta de caminhar (apenas nas construções entre a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes, um veículo motorizado não será exigido). Brasília tem um sistema viário com quadras, superquadras e eixos. Leva-se uns dois dias para se acostumar e, quem tem apenas 48 horas para explorá-la, vale usar o Waze. Metrô? Até existe, mas não passa por nenhum ponto turístico.

Dia 1

Dedique um dia inteiro e parte do segundo para as atrações ao longo do Eixo Monumental, uma via de 10 quilômetros que liga a Estação Rodoferroviária à Praça dos Três Poderes e representa o corredor do “avião”. A primeira parada é na Torre de Televisão. Pegue o elevador e, a 75 metros do chão, compreenda melhor a proposta da dupla Lúcio Costa e Oscar Niemeyer – as asas sul e norte, a Esplanada dos Ministérios e o Palácio da Alvorada coladinho no Lago Paranoá representando a cadeira do piloto.

Próximo da torre, mas relembrando que caminhar não é o melhor remédio, o Memorial JK é a bela homenagem prestada a quem, no mínimo, acelerou a mudança da Capital Federal para o Planalto Central. Evidente tratar-se de mais um projeto com a assinatura de Oscar Niemeyer, amigo pessoal de JK. Fotos da construção e dos primórdios de Brasília, a réplica do escritório e a biblioteca particular de Juscelino são prato cheio para quem gosta de história. Ainda mais quando eficientes monitores estão a postos para explicações mais detalhadas. O túmulo em mármore branco do ex-presidente garante o momento emoção da visita.

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Como o período vespertino será intenso, vale almoçar mais cedo e não perder muito tempo em deslocamento. Instalada no Setor Hoteleiro Sul, bem próxima do Eixo Monumental, a churrascaria Fogo de Chão torna-se uma opção bem viável. Carnes nobres passam a todo instante, mas vale ressaltar que a casa não trabalha com peixes e frutos do mar em seu rodízio.

Conhecer os meandros do poder serve como um ótimo antídoto para rebater a picanha e companhia consumidas no almoço. Atravesse toda a Esplanada dos Ministérios para chegar nas famosas construções que abrigam os três poderes brasileiros. Sem pensar duas vezes, comece a jornada pelo maior símbolo de Brasília, pano de fundo de nove entre dez reportagens televisivas sobre as discussões políticas brasileiras: o Congresso Nacional, a construção com dois prédios altos interligados e ladeados por duas cúpulas. Entre em um tour guiado e aprecie melhor os painéis de azulejos de Athos Bulcão e a tela de Di Cavalcanti. Se a visita for feita após as 14h de um dia da semana, você pode assistir uma sessão da Câmara e do Senado e ver os nobres legisladores conchavando pelas galerias. No fim de semana, o acesso ao plenário é liberado e as cadeiras de deputados e senadores estão à disposição dos visitantes. Lembrete importante: o acesso ao prédio do Congresso é proibido para quem traja bermuda e chinelo.

Ao lado do Congresso, estão o Palácio do Planalto, sede do executivo, e o Supremo Tribunal Federal, casa dos juristas brasileiros. Com o tempo um pouco escasso, admire-os externamente e centre fogo na visita ao Palácio do Itamaraty. Sede do Ministério das Relações Interiores, os principais elementos do modernismo brasileiro estão presentes na construção assinada, claro, por Oscar Niemeyer. Os jardins externos com o suntuoso espelho d’água foi feiro por Burle Marx, que também criou os jardins internos. Painéis de Athos Bulcão, pinturas de Alfredo Volpi e esculturas de Victor Brecheret ilustram o palácio. A mesa em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea hoje é usada em grandes acordos internacionais.

Sede do Ministério das Relações Exteriores, o Palácio do Itamaraty abriga obras de Alfredo Volpi, Athos Bulcão, Lasar Segall e Victor Brecheret
Sede do Ministério das Relações Exteriores, o Palácio do Itamaraty abriga obras de Alfredo Volpi, Athos Bulcão, Lasar Segall e Victor Brecheret ()

Para um fim de tarde bacana, só mesmo o Lago Paranoá. Por isso, um dos programas mais comuns é subir a moderna Ponte JK – construída em 2002 – e admirar o sol se por nas águas do lago.

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O que não falta em Brasília é local para comer bem…e caro. A grosso modo, os restaurantes estão distribuídos pelo comércio local das superquadras, shoppings e setor de mansões do Lago Paranoá. A preços mais acessíveis, pratos clássicos franceses são servidos no La Chaumíère, um dos mais tradicionais endereços gastronômicos brasiliense, comandado (há muito tempo) por um antigo garçom da casa – o simpático Severino Alves Xavier.

Dia 2

Dia de levantar cedo, tomar um reforçado café da manhã e sair para caminhar. Opa, caminhar aonde se já foi dito que Brasília não prioriza caminhadas? No Parque da Cidade, aquele mesmo, imortalizado na canção Eduardo e Mônica, da Legião Urbana. A forma do parque lembra o tremular de uma bandeira. As pistas de caminhada estão por toda a área do parque, que ainda tem lagos artificiais e quadras de esporte.

Um católico duelo se desenrola na cidade: o Santuário Dom Bosco e a Catedral Metropolitana disputam o título de igreja mais bonita do Planalto Central. Próximo ao Parque da Cidade, o Santuário Dom Bosco não chama tanto a atenção por fora. Mas basta pisar na igreja para não se deixar seduzir pela incrível coloração azul oriundas dos vitrais, que revestem às paredes do chão ao teto. Localizada no Eixo Monumental (olha ela aí novamente), a Catedral Metropolitana sofre críticas por não se parecer com um templo católico, mas é inegável realçar o ousado traço de Niemeyer – pilares curvados fecham-se no topo e abrem-se novamente. Internamente, lá está a mesma turma de sempre: Athos Bulcão, Di Cavalcanti e Alfredo Ceschiatti, autor das esculturas dos anjos pendurados.

Mesmo externamente, a passagem pelo Palácio da Alvorada é obrigatória. Afinal trata-se da residência da presidência da república.

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Palácio da Alvorada - Brasília
Fachada do Palácio da Alvorada, em Brasília ()

A essas horas o estômago já deverá estar roncando forte. Atravesse para o outro lado do Paranoá e prove uma das boas receitas italianas da Trattoria da Rosario. Não vá dar bola fora, Rosario é o nome do chef napolitano, ok!

Uma vez mais, o fim de tarde no Lago Paranoá. O Pontão do Lago Sul é ponto de partida para passeio de lanchas que navegam pelos quatro cantos do lago. Quem preferir pode curtir o crepúsculo nos quiosques do local.

Brasília é uma metrópole eminentemente rock’n roll. Nos anos 1980, Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude movimentaram local. Bandas formadas pela contestadora molecada que ouvia rock na Brasília dos anos 1970. Um endereço com forte verve roqueira é o UK Music Hall.

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Se você tiver mais dias na cidade:

– Aproveite para conhecer as atrações naturais nos arredores: os majestosos 168 metros de queda do Salto do Itiquira, em Formosa (GO) as trilhas e cachoeiras da Chapada Imperial.

– Veja as exposições do Centro Cultural Banco do Brasil.

Que tal uma esticada até a Chapada dos Veadeiros?

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