Dossiê Ilha da Madeira – experiências gastronômicas imperdíveis | Parte 2
Vinícolas de vinho Madeira (e não só!), petiscos com vista, o templo da carne maturada e um inusitado menu degustação vegetariano harmonizado com chás!
Chá da tarde à inglesa, um menu degustação que é uma surpresa do começo ao fim, workshop de receitas locais com um grande chef e um oásis moderninho em pleno porto do Funchal. No post anterior eu comecei a falar sobre as melhores experiências gastronômicas na ilha – leia aqui. Vamos, agora, à parte 2 (a sequência é mero acaso, a lista não tem qualquer pretensão de ranking ou preferência!)
Menu vegetariano com harmonização de… chás!
Um elevador de ares futuristas leva da recepção, no piso térreo, ao 16º andar do edifício do hotel Savoy Palace em segundos e funciona como uma espécie de antecâmara para o ambiente prestes a se descortinar: salões à meia luz desenhados em formas orgânicas, decorados por um brilhante céu de estrelas. Lá no fundo, do outro lado da parede de vidro, o mar. Entre os quatro diferentes menus degustação do Galáxia Skyfood (preços entre € 55 e € 95 por pessoa), um chama a atenção: o vegetariano, servido em cinco etapas, com uma curiosa harmonização de… chás.
Primeiro chega à mesa uma delicada infusão de melancia com chá verde, servida fria, para escoltar a crocante torrada de gema a 64ºC com caviar Oscietra e abacate e aquele que foi o prato mais surpreendente da noite: um tamago, tradicional omelete japonês, com molho ponzu. Na sequência aterrissa um tortellini de requeijão do Santo da Serra, fabricado na ilha, e molho de hortelã, devidamente acompanhado por uma bebida à base de flores de chá branco. O risoto com legumes da estação não surpreendeu, mas caiu bem com o Mr. Artisan, um blend de folhas de chá preto de Darjeeling com o suave chá Fine Oolong.
Para encerrar, mousse de chocolate com biscuit de cacau e sorvete de damasco, sobremesa acompanhada pelo Vanilla Bourbon: um chá vermelho infusionado com baunilha da África do Sul. O menu sai a € 55 por pessoa, mais € 28 da harmonização com chás.
Tour de vinhos com a melhor espetada da ilha
Um dia inteiro visitando as melhores vinícolas da Madeira, famosa pelos vinhos fortificados servidos como aperitivo ou vinho de sobremesa, são uma bela surpresa – especialmente por mostrar que nem só de vinho Madeira se faz a ilha coberta por cerca de 470 hectares de vinhedos (há bons brancos e tintos sendo produzidos nos socalcos que desafiam as leis de gravidade locais). Começamos na Blandy’s, em pleno centro histórico do Funchal, uma das vinícolas mais tradicionais, inaugurada pela família de origem inglesa em 1838.
De lá, um percurso de menos de uma hora pela Encumeada nos conduz por verdes vales e miradouros que descortinam belas vistas da famosa Floresta Laurissilva, declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO, até chegar à Quinta do Barbusano, onde o mar de vinhedos já deixa aparecer uma nesga do mar da costa norte da ilha. É neste cenário, já perto da hora do almoço, que o senhor António nos aguarda com uma bela espetada, um dos pratos queridinhos da ilha, feito com nacos da mais tenra carne de vitela assados em churrasco num espeto feito de pau de louro. Para acompanhar, batatas cozidas, salada de tomate e nada mais.
Muitos vinhos e brindes depois, chegamos aos domínios das Terras do Avô, uma vinícola que, além de brancos, tintos e rosés, se aventurou recentemente pelo mundo dos espumantes. Mais brindes e mais provas, desta vez à beira-mar, de frente para o mar do Seixal. E assim vamos até o fim da tarde… O passeio, feito pela Wine Tours Madeira, custa € 130 por pessoa. Há outras modalidades para escolher.
De camarote para a chuleta
Foi nos talhos (açougues, em português de Portugal) do pai que o chef Júlio Pereira criou intimidade com a carne, tratada como rainha no seu restaurante Kampo, em pleno coração do Funchal. Ali as estrelas são as variedades maturadas, servidas em porções generosas.
O salão despretensioso, onde se chega por uma escadaria que sai da porta discreta que se abre para a rua, tem lugar para 30 pessoas, mas o balcão é o espaço mais disputado. É ali, embalado por acordes eletrônicos, que acontece o verdadeiro balé dos chefs e cozinheiros durante a preparação e a montagem dos pratos. A orgia começa com o couvert, que traz um generoso naco de pão de fermentação natural feito na casa, escoltado por azeitonas e uma densa manteiga com pó de chouriço.
Entre as porções para dividir, brilham os cornetos de atum, feitos com uma massa crocante e fininha, e os peixinhos da horta, sequíssimos, acompanhados por uma cremosa maionese de chili. O menu até tem opções vegetarianas como os legumes na brasa com frutos secos e queijo da Ilha ou o mix de abóbora, coco e manga defumada. Mas a magia só acontece de verdade quando alguém pede o lombo de novilho, o bife de wagyu ou o impressionante chuletón maturado, com suas 850 gramas numa única peça!
Os melhores petiscos, a melhor vista
Não é raro os restaurantes na Madeira se gabarem de terem vistas espetaculares, mas quando um restaurante se chama Avista é bom que ele realmente tenha… “A” vista. E tem. Debruçado sobre o mar na Baía dos Piratas, com uma vista lateral para as luzes do Funchal, o restaurante do hotel Porto Bay aproveita o status de camarote com mesas espalhadas por um gostoso quintal ao ar livre.
Ali, acompanhando a brisa que sopra incessante do mar, a noite passa sem pressa na companhia de delícias perfeitas para dividir, caso do caranguejo real com molho de gengibre doce, julianas de papaia, manga e abacaxi, amendoim e gergelim; das vieiras; ou do húmus de beterraba assada com queijo de cabra.
O menu tem ainda boas opções de carne e frutos do mar, além de um famoso risoto. Para encerrar, a pedida é a goiaba exótica. Um jantar para duas pessoas sai por cerca de € 60, sem bebidas.
Veja aqui a primeira parte das experiências gastronômicas imperdíveis na Madeira e um manual para preparar as férias por lá!