Imagem Blog Piacere, Itália! Depois de passar um mês rodando a Toscana, Bárbara Ligero caiu de amores pela terra da bota e se matriculou em um curso de italiano. Atualmente, está aprendendo a gesticular com perfeição
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O jeito (às vezes bem esquisito) de pegar praia na Sardenha

Pegar praia na Itália é bem diferente do Brasil; veja o que é normal para os italianos e nem tanto para nós

Por Barbara Ligero
Atualizado em 3 dez 2018, 15h09 - Publicado em 27 out 2017, 15h46

“Quem viu uma, viu todas” é a afirmação mais equivocada que uma pessoa pode fazer quando o assunto é praia. Não bastassem as paisagens serem diferentes, cada povo tem sua própria maneira de se divertir à beira-mar.

Quando estive na Sardenha, eram necessários sempre alguns minutos até que eu me conformasse com o azul incomparável do mar. Passado o choque, eu começava a observar o jeito que os italianos pegam praia, o que rendeu as observações a seguir:

Infra

Ao se aproximar de uma praia na Sardenha, a primeira coisa que você verá é a entrada do estacionamento. Nenhum deles é gratuito: você deve pagar o valor indicado para um funcionário ou então pegar o tíquete do parquímetro. Tirando isso, a infraestrutura das praias costuma ser mínima. Quando há um bar, ele fica mais próximo do estacionamento, ou seja, nada de mesas de plástico na areia.

Comprovante de pagamento do estacionamento e placa indicando os preços (Bárbara Ligero/Arquivo pessoal)

Cafeína

Todo mundo sabe que os italianos são ávidos bebedores de café. Ainda assim, eu realmente esperava que os bares das praias vendessem muito mais aperol spritz do que espressos. Por isso, foi com verdadeira indignação que eu vi muitos (!) italianos sob o sol de 40°C com uma xicrinha na mão. Gaúchos que tomam chimarrão na praia, cena tão comum em Jurerê, achariam bem normal. Não à toa, a Kibon, que por lá se chama Agilda, lançou um tal de Café Zero nos sabores espresso, capuccino e mocaccino. Custa € 3, mas pelo menos é um café geladinho.

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No bar da praia, o máximo que eu consegui foi tomar um Café Zero geladinho (Bárbara Ligero/Arquivo pessoal)

Farofar

Na Sardenha, você pode farofar sem medo de ser julgado. Além dos bares de praia serem pequenos e raros, não há pessoas vendendo comida na areia – o máximo que eu vi foram alguns carrinhos de Granita Fun, raspadinhas de fruta por € 2,50. Por isso, todo mundo leva seu próprio lanche e sua própria bebida de casa.

Recomendo as Gratina Fun de maracujá (frutto della passione) e frutas vermelhas (frutti di bosco) (Bárbara Ligero/Arquivo pessoal)

O mais comum é ver os italianos comendo sanduíches, arroz ou fartos potes de pasta fredda (massa sem molho e com acompanhamentos frios). Mas o auge da farofa foi quando eu vi uma família com um cooler repleto de pães, frios e maionese preparando os sandubas ali mesmo, à beira-mar. Aposto que a nonna tinha se rebelado a não preparar nada em casa.

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E, se os italianos tomam café até na praia, o mesmo vale para comer pizza. Nos supermercados você encontra mini pizzas frias e embaladas individualmente – eu mesma não resisti.

Me sentindo muito italiana com meu pote de arroz e minha pizza na praia (Bárbara Ligero/Arquivo pessoal)

Ambulantes 2.0

Uma das experiências mais interessantes ocorreu na pequena Spiaggia Capriccioli. Eu já estava lendo meu livro há meia hora quando percebi que todas as pessoas ao meu redor olhavam para uma mulher em específico. Loira, bronzeada e de óculos escuros, ela vestia uma belíssima saída de banho e caminhava na areia como a própria garota de Ipanema. Achei os italianos indiscretíssimos e continuei minha leitura.

Algumas páginas depois, olhei em torno e o povo continuava fixado. Lá estava a loira bronzeada, só que agora vestindo um charmoso vestido de verão. Dessa vez, decidi observar também. Com os cabelos esvoaçantes, a mulher percorreu a praia de ponta a ponta com um sorriso no rosto, exibindo-se. Foi só então que eu entendi do que aquele desfile se tratava: um pouco adiante, um homem estava vendendo os mesmos modelitos que ela usava. Como é que nenhum ambulante do Rio teve essa ideia, gente!?

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Dias depois, em outra praia da Sardenha, vi a mesma estratégia de marketing ser usada. Mas, dessa vez, a modelo em questão se limitava a colocar as peças e ficar dando umas voltinhas perto do carrinho, sem desfilar. Ainda assim, o mais comum é encontrar vendedores ambulantes “normais” de chapéus, óculos de sol e cangas.

Cangas à venda na praia e uma imagem meramente ilustrativa da mulher desfilando (Luca Landini/Arquivo pessoal)

Moda Praia

Na Sardenha, todas as vezes que eu dizia para um italiano que era brasileira, a pessoa achava um absurdo eu ser tão branca. Quando viam meu protetor solar fator 70, então, a reação era de puro choque. Com o tempo, eu entendi que aquilo não era um estigma racial. Eles apenas valorizam muito o bronzeado – e abominam as marquinhas brancas.

Para começar, o topless é liberado e, pelo o que eu pude notar, é aderido principalmente pelas mulheres mais velhas. As jovens, quando o fazem, são também mais discretas. O que me surpreendeu, no entanto, foi o estranho costume que as italianas têm de não amarrar a parte de cima do biquíni no pescoço, só para não ficar com a marquinha. Até as nonnas fazem isso! Não era mais fácil comprar um biquíni tomara que caia?

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Entre os homens, o costume é usar sungas cavadas. Foram poucas as vezes que eu vi shorts, e nesses casos os italianos dobravam o tecido para dentro para que a maior parte da perna possível ficasse exposta ao sol. O resultado é que eles pareciam estar usando fraldas o que, inclusive, é raro entre as crianças que têm idade para usá-las. A maioria das mães deixava os filhos curtindo a praia peladões mesmo.

O que importa é que as praias são maravilhosas (Bárbara Ligero/Arquivo pessoal)

Passatempos

Quando eu era pequena, minha diversão nas praias brazucas era fazer castelinho de areia ou “pegar jacaré” no mar. As duas atividades são impraticáveis na Sardenha, que têm areia muito fina, imprópria para “construções”, e um mar desprovido de ondas que mais parece uma piscina.

Por isso, o passatempo dos pequenos era basicamente nadar, brincar com boias ou caçar peixinhos com uma rede. Já os adultos, além de se preocuparem com um bronzeado com o mínimo de marcas possível, leem, jogam frisbees, falam (alto) e fazem muitas palavras-cruzadas.

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O jeito italiano de “pegar jacaré” e as crianças brincando como vieram ao mundo (Bárbara Ligero / Alecale35/Pixabay)

 

 

 

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