Imagem Blog Piacere, Itália! Depois de passar um mês rodando a Toscana, Bárbara Ligero caiu de amores pela terra da bota e se matriculou em um curso de italiano. Atualmente, está aprendendo a gesticular com perfeição
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É oficial: navios de cruzeiros estão banidos do centro histórico de Veneza

A decisão evita que a cidade seja colocada na lista da Unesco de patrimônios em risco, mas não sana as demandas dos moradores e comerciantes locais

Por Bárbara Ligero
16 jul 2021, 14h04
Gôndolas em Veneza com navio de cruzeiros ao fundo
Verdade seja dita: os navios de cruzeiro nunca ornaram a paisagem de Veneza. Crédito: (Pcdazero/Pixabay)
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A partir do dia 1º de agosto, os navios de cruzeiro estarão proibidos de navegar pela Lagoa de Veneza. Depois de debater a questão por anos e implementar restrições temporárias, o governo italiano finalmente emitiu uma decisão final, bem a tempo de impedir que a cidade entrasse na lista de patrimônios mundiais em risco. Desde 2019, a Unesco vinha fazendo alertas sobre os perigos da circulação constante desses gigantes flutuantes. O temor era que a erosão começasse a causar inundações ainda piores que as da acqua alta, época em que a maré naturalmente invade o centro histórico a partir da Piazza San Marco.

Ficou determinado que as embarcações com mais de 25 mil toneladas, 180 metros de comprimento e 35 metros de altura, ou que empregam uma grande quantidade de combustível nas manobras, não podem passar ou atracar na região dos canais. As especificações podem afetar não só os navios de cruzeiros como também os grandes iates. Ou seja, só pequenas balsas de passageiros e barcos menores poderão usar o Canal de Giudecca para adentrar a porção histórica de Veneza. 

A solução para as armadoras será desembarcar os cruzeiristas no porto industrial de Marghera, no continente. Porém, o canal desse porto também não é grande ou profundo o suficiente para a maior parte dos navios. Diante do impasse, o governo italiano jogou o problema para as autoridades portuárias regionais, que deverão assumir a responsabilidade de construir cinco docas temporárias até 2022, quando a indústria dos cruzeiros deve voltar em pleno vapor.

O ministro da Cultura, Dario Franceschini, disse à agência de notícias Associated Press que a resolução é uma vitória para todos que “estiveram em Veneza e que ficaram incomodados com o enorme tamanho desses navios que passam pelo lugar mais frágil e bonito do mundo”.  O desfecho satisfez a Unesco, mas não tanto os moradores locais, que levantam a bandeira do “no grandi navi“, algo como “não aos grandes navios”, pelo menos desde 2016.

As novas resoluções vieram enroladas no manto da proteção ambiental, mas entre os italianos o movimento contra os cruzeiros está também muito relacionado ao overtourism. Antes da pandemia, o apelido concedido à Veneza, La Serenissima, perdia qualquer sentido todas as manhãs, quando milhares de cruzeiristas eram despejados quase que de uma vez só direto na Piazza San Marco.

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A muvuca tem levado muitos venezianos a deixarem sua cidade-natal, mas o incômodo não é só por causa da lotação do centro histórico. Os restaurantes e hotéis entendem que os cruzeiristas são menos rentáveis que os turistas que chegam por terra, já que podem zanzar por Veneza sem gastar um tostão e depois voltar ao navio para comer e dormir.

Nesse sentido, as mudanças estabelecidas pelo governo italiano não resolvem totalmente o problema. Os cruzeiros com parada em Veneza vão continuar existindo: só o local de desembarque mudou. Pensando nisso, a prefeitura de Veneza pretende implementar a partir de janeiro de 2022 uma taxa de até oito euros (quase R$ 50 na cotação atual) para os turistas que não pernoitam no centro histórico.

Atualmente, aqueles que se hospedam em hotéis na área da lagoa pagam uma tassa di soggiorno que varia de um a cinco euros (R$ 30) por noite, enquanto que adeptos do bate-e-volta e os cruzeiristas não arcam com nenhum tipo de tarifa, mas contribuem com aglomeração e sujeira. Outro plano, ainda sem data prevista, é instalar catracas que controlam a quantidade de pessoas no centro histórico, que pode passar a ter um limite de visitantes.

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