Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Como conseguir uma maldita cerveja em Marrakesh

A saga para conseguir alguns goles de cerveja em Marrocos, um país restrito para o álcool

Por Adriana Setti
Atualizado em 23 Maio 2020, 00h21 - Publicado em 23 nov 2007, 11h11

O Marrocos é, entre as nações muçulmanas, uma das mais liberais. Sob o comando do jovem rei Mohamed VI, o país passou por uma bela “ocidentalização” nos últimos anos.

Muitas mulheres vestem calça jeans e camiseta, trabalham e o fanatismo religioso é bastante moderado. O álcool, porém, ainda é considerado coisa de satanás.

Férias, para mim, incluem doses diárias de cerveja. E depois de rodar o dia inteiro por aquele fuzuê sob um sol de 30 graus, meu corpo gemia por uma gelada.

A praça Jeema El Fna, aquela onde tudo acontece, é cercada por diversos cafés simpáticos com terraços na cobertura, de onde se tem uma visão panorâmica de todo aquele espetáculo.

Passaria hooooras tomando uma espumosa por ali observando o movimento. Acontece que absolutamente nenhum daqueles cafés serve bebidas alcoólicas. Nem uma inofensiva brejula.

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A bebida do demo está restrita a hotéis (ficar em uma Riad pequena tem as suas desvantagens), restaurantes mais pomposos e baladas (sim, elas existem!). Mas aquela providencial brejinha de boteco no fim da tarde não rola dentro da medina. Esquece!

Para piorar, perguntar ofende. Movida pelo desespero, tentei uma aproximação com o porteiro do Club Med que fica ao lado da praça. Afinal, um Club Med com lei seca já seria demais. “Bonjour, seria possível visitar o bar do hotel?”. “NÃO, isso aqui não é um BAR (cara de nojo) é um Club, um C-L-U-B!”. Ui! Que meda!

Pergunta dali, ofende daqui, um porteiro de um restaurante me deu a dica: “cerveja por aqui só lá no Tazi (cara de MUITO nojo)”, e aponta para a rua Bab Agenaou, que lembra aqueles calçadões do centro de São Paulo, entupidos de lojas vagabundas e restaurantes decorados com néon.

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Apelidei o Grand Hotel Tazi (a espelunca da foto acima) de “Antro dos Infiéis”. O saguão, onde os traidores de Alá consomem estas desprezíveis substâncias, tem vários sofás (que já viram dias melhores) que formam espécies de “mini salas de estar”.

E todo mundo senta onde houver espaço, na companhia de outros pecadores desconhecidos. Após fazermos um rápido scanner visual do lugar, meu namorado e eu tentamos escolher a turminha menos bizarra para compartilhar esses momentos de ócio underground.

Ao nosso lado, duas inglesas flácidas tomavam algo que, imagino, seria a oitava garrafa de vinho. Na nossa frente, três homens deglutiam, provavelmente, a quadragésima quinta cerveja. Um deles falava, cuspia e enrolava a língua (sim, porque até falando um dialeto bereber dava pra perceber que as palavras escorregam cremosas de sua boca) enquanto a sua mulher o olhava com quem diz “Mohamed, você está se passando”.

No grupinho ao lado, um rapazinho surdo e mudo de uns 20 anos, vestido com um terno de ombreiras gigantes, era mimado por três jovenzinhas marroquinas que, de quando em quando, desapareciam por alguns minutos elevador acima após serem chamadas pelo recepcionista do hotel. Depois da terceira micro cerveja de 2,5 euros, já estava morta de saudades do tradicional chazinho de menta.

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