Em maio, o Festival Internacional de Jazz e a tradicional Festa do Divino (que pode ser realizada em junho). Julho é o mês da Festa Internacional Literária (Flip), enquanto agosto marca outro evento de peso, o Festival da Pinga. Em setembro, quem bate cartão são os fotógrafos, durante o Festival Internacional de Fotografia. Com programação intensa durante ano inteiro, Paraty explora como poucos todo seu potencial turístico, que vai além da praia. Pensando em quem visita a histórica cidade na temporada outono/inverno, montamos um roteiro dedicado ao Centro Histórico e atividades voltadas para a Serra do Mar – banhos de mar foram excluídos do tourDia 1Ao se deparar com aquele charmoso Centro Histórico repleto de singelas construções branquinhas de portas e janelas coloridas, a vontade é sair batendo pernas no primeiro instante pelo calçamento feito de pedra pé-de-moleque. Pois bem, sossegue seu facho e deixe para explorar a região nos períodos vespertinos e noturnos – hora em que lojinhas, ateliês e restaurantes estão abertos.Pensando numa adaptação ao calçamento irregular das vias de Paraty, nada mais apropriado que dedicar a manhã a uma caminhada pela trilha do ouro, a rota feita pelos escravos no século 18 com o intuito de escoar o metal das Minas Gerais para a cidade – na época, um entreposto comercial. O percurso abrange 3,5 quilômetros do antigo caminho. Enquanto se sofre uma ou outra torcidinha no pé em meio ao esplendor da Mata Atlântica e seus sons característicos, um guia conta toda a saga do Caminho do Ouro. Quem deseja se alongar no assunto ou não está a fim de caminhar, pode ir até o Miniestrada Real e conferir uma réplica de toda a rota – guias também ficam a postos para um tour mais apurado.Nos arredores do Caminho do Ouro, a Cachoeira Tobogã garante uma descida divertida sobre pedras e excelentes poços naturais para o banho.Aproveitando que estamos do outro lado da Rio-Santos, no caminho para a paulista Cunha, um programa dois em um no Engenho d’Ouro: visitar um dos alambiques mais tradicionais da região e se esbaldar com uma vigorosa galinha cabidela.Agora sim, enquanto a ave viaja pelo aparelho digestivo, é momento de esquadrinhar o Centro Histórico. Veículos são “personas non gratas” nos 33 quarteirões que compõem a zona central da cidade. Calce um calçado confortável (tênis é boa opção, chinelos de dedo e saltos são execráveis), mas tenha em mente que a chance de um escorregão em uma das pedras é bem considerável.À primeira vista, salta aos olhos o colorido das portas e janelas contrastando com o branco das paredes. Pois nem sempre foi assim. Com forte influência maçônica, o azul era a cor oficial das portas e janelas no século 18. As ruas propositadamente tortas, o formato das janelas, os cunhais de pedra e o próprio número de quarteirões são outros legados maçônicos.A Praça da Matriz é um bom ponto de partida para a jornada vespertina. Palco das principais manifestações artísticas, como a Semana Santa e a Flip, abriga a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios. Dica importante: não perca muito tempo com o interior das igrejas, falta opulência a elas.Dobre à esquerda na Rua do Comércio e depare-se com um sem fim de ateliês e lojinhas de artesanato. Vale parar na casa do francês Patrick Allien, um dos inúmeros estrangeiros que adotaram a cidade como lar. Seu amor a Paraty é registrado em gravuras e heliogravuras retratando cenas do cotidiano paratiense.Algumas lojas especializadas em cachaça se localizam na Rua do Comércio, mas como a bebida será o tema principal do próximo dia, deixemo-las para depois. Quase no fim do Centro, vire na Rua Aurora e siga até um dos pontos turísticos mais fotogênicos: a Igreja de Santa Rita. Quem já não viu uma foto tirada de embarcações, com o Atlântico, a igrejinha, árvores e a Serra da Bocaina ao fundo? Um pit stop no cais para curtir os coloridos barquinhos e o visual das ilhas e praias próximas. Paraty, Rio de JaneiroO quadrilátero formado pelas ruas Santa Rita, Dona Geralda, da Lapa e da Praia são o nirvana para quem gosta de ateliês. Lucio Cruz é um craque na arte das máscaras. No Inke Atelier, imagens da cidade aparecem pintadas em folhas de bananeira. Ao lado da loja, uma providencial parada para um bolinho de bacalhau no Camoka.Seguindo pela Rua Dona Geralda em direção à Praça da Matriz, a Casa da Cultura é a construção com traços maçônicos mais fortes. Uma exposição em que moradores da cidade homenageiam Paraty através de um vídeo faz valer a visita interna.A noite chega e um dos programas mais bacanas do Centro Histórico é assistir – e se emocionar – a um espetáculo no Teatro de Bonecos, que ocorre todas as quartas e sábados às 21h. Apesar do nome, as encenações têm temática adulta. Bailarinos movimentam os perfeitos bonecos, em obras que retratam a vida cotidiana.Depois de um teatro, nada mais natural que saciar a fome em um dos charmosos restaurantes das ruas de pedra. Aberto em 1993, o Banana da Terra serve as melhores composições da cozinha caiçara. Sob a batuta da chef Ana Bueno são preparadas delícias como o robalo com banana da terra, manteiga de alho e ervas, e o filé de peixe com pimenta e risoto de palmito pupunha.Dia 2A visita ao Engenho d’Ouro e o rolê básico pelo Centro Histórico deram mostras de outra marca registrada de Paraty: a aguardente. O fim do Ciclo do Ouro coincidiu com a ascensão do cultivo da cana-de-açúcar. O número de engenhos chegou a ultrapassar 200 no século 19. Ainda restam alguns alambiques distribuídos pelo município a produzir excelentes cachaças. Não há um tour organizado por agências, é necessário conhece-las com veículo próprio. Quem estiver dirigindo, favor não exagerar na degustação da bebida, ok – os alambiques tem acesso por estradas federais.Pegando a Rio-Santos em direção a Ubatuba, O Corisco faz fama com uma das “marvadas mais marvadas” da região. Um pouco mais a frente, a cachaça Coqueiro é produzida desde a década de 1940 e foi a primeira a receber um selo de qualidade pelo Ministério da Agricultura.Além do já citado e visitado Engenho d’Ouro, três alambiques ficam ao longo da estrada para Cunha. A tradicionalíssima Fazenda Murycana ainda abriga um museu, A Paratiana produz a cachaça Gabriela (feita de…cravo e canela, claro) e a Pedra Branca tem uma loja de doces para atenuar sua forte aguardente. Aproveite para dar uma olhada e quem sabe um mergulho na Cachoeira Pedra Branca, ali ao lado.Deixamos a mais cultuada para o final. Produzida pela ex-pescadora Maria Izabel em um sítio à beira-mar com acesso pela Rio-Santos (sentido Angra dos Reis), a cachaça Maria Izabel agrada pelo sabor suave. Torça pela presença da proprietária no dia da visita – seus ouvidos serão contemplados por deliciosas histórias. Cachaça Maria Izabel de Paraty, Rio de Janeiro, Festival da CachaçaQue tal um almoço tardio nas montanhas da Bocaina com vista para a mata e o Atlântico? Avante pela Rio-Santos até a placa que indica o bairro da Graúna. Dirija mais uns cinco minutos até o Restaurante e Pousada Le Gite d’Indaiatiba. Receitas francesas, como o bouef bourguignon, divide a cena com moqueca e ceviche. Enquanto espera o preparo (que costuma ser demorado), caminhe pela área verde do local e até se arrisque num banho de cachoeira.Agora que virou um phd em cachaças paratienses, você pode circular com mais destreza pelas lojas que vendem a bebida no Centro Histórico. Se estiver muito cansado, opte pela Empório da Cachaça, que ainda possui um museu com 5 mil rótulos.Pegue dois camarões grandes. Recheie-os com uma farofa feita com o crustáceo, manjericão e coentro. Amarre-os feito um sanduíche, antes de fritá-lo. Temos aqui o prato caiçara que é típico da cidade, o Camarão Casadinho. Deixar Paraty sem provar a receita, pode parecer, digamos assim, uma atitude pouco simpática. De frente ao cais, o Refúgio prepara a receita com competência. Ela fica ainda melhor servida nas mesinhas ao ar livre.Quem gosta de curtir a noite, Paraty é um point agitado e democrático. Quase todas as baladas ficam no Centro Histórico e os ritmos são bem variados: blues, rock, forró, jazz. O embalo só termina na alta madrugada.
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