Aruba: praias, hotéis, passeios, quando ir
Sabe quando um lugar é tão turístico que os moradores ficam cansados de dar informações a viajantes perdidos? Não é o caso de Aruba. Ali, parece que todos foram treinados para receber os forasteiros com um sorriso. “Quando alguém nasce aqui, não chora, ri”, brinca John Marvin Kelly, guia de turismo há mais de 30 anos e orgulhoso arubiano de quinta geração. Não é só a alegria que faz diferença: as dicas estão na ponta da língua. E em qualquer língua, já que a maioria fala holandês, inglês, espanhol e papiamento, um idioma local que mistura todas as anteriores mais o português.
Receber bem sempre foi uma marca desta “one happy island” (o melhor slogan da ilha é e continuará sendo “Aruba é do Caribe”), onde 90% do PIB vêm do turismo. É fácil entender por que essa ilha a 30 quilômetros da costa da Venezuela é tão dependente dos viajantes estrangeiros. Esqueça o cenário de paraíso tropical: boa parte dos 190 quilômetros quadrados é coberta por uma vegetação semidesértica. Muitos cactos e poucas espécies de árvores emolduram praias paradisíacas, com aqueles tons de azul que a gente vê no Instagram e se pergunta se é filtro. Não, não é.
Não há tempo ruim para visitar o território caribenho. Muito menos contraindicações. Diz a meteorologia que, em Aruba, a temperatura média é de 28 graus e faz sol 360 dias por ano. As chuvas – e, mais importante, os furacões – passam longe. Ou seja: a ilha pode ser visitada o ano inteiro.
PRAIAS
Além da preservação – é muito difícil ver lixo jogado pela areia, por exemplo –, ajudam a compor o cenário perfeito o mar calmo e a ausência de chuvas. Aruba tem algumas praias em mar aberto – como Boca Grandi, ponto de kitesurfe, e Andicuri, de bodyboard –, mas a maioria é como uma piscina. No sul, no centro ou no norte, outra grande vantagem: aproveitar o sol se pondo no mar, sempre um espetáculo.
Sul
Uma das praias mais procuradas – inclusive pelos locais – é Baby Beach, de águas ainda mais calmas devido aos arrecifes que protegem a meia-lua de areia branquíssima. É perfeita para flutuar, esquecer a vida e, como o nome sugere, deixar as crianças à vontade. Como a praia fica a 45 minutos da área hoteleira e não há transporte público direto, vale a pena alugar um carro para aproveitar bem o dia. Se chegar cedo, pode ser que você consiga lugar em uma palapa, espécie de quiosque público presente também em outras praias. Outra opção é se instalar no restaurante Big Mama’s Grill, com comida honesta, ambiente agradável e o preço que o monopólio permite.
Outra opção é explorar as demais praias pelo caminho, como Mangel Halto. A paisagem ali é diferente porque a areia dá lugar à vegetação de mangue, que faz necessária a presença de um deque de madeira para descansar do mergulho ou simplesmente apreciar a paisagem. Também é outro lugar com mais mais locais que turistas, especialmente nos fins de semana.
Se quiser comer como um arubiano, vale a pena dar uma paradinha no Zeerover, no caminho de volta. O restaurante fica num cais em Savaneta e serve pescados frescos. Você escolhe, eles pesam e tudo chega à mesa fritinho, num cesto, para comer com a mão. De acompanhamento, bananas e batatas fritas. E, claro, uma boa cerveja Balashi, uma das poucas coisas produzidas de fato na ilha. Só isso já valeria a visita, mas ainda tem uma bela vista para o mar.
Sobrou tempo? Aproveite o pôr-do-sol numa das mesas pé-na-areia do Barefoot ou dos bares próximos. Mas um aviso: esse lugar pode despertar uma vontade incontrolável de fazer fotos em sequência segurando um drink multicolorido na golden hour – mesmo que você não seja um influencer. Ainda mais se provar um Aruba Ariba, coquetel típico feito com vodka, rum, licor de banana e triple sec. Se tiver um espaço no estômago, o “romance do mar” é uma opção para provar os peixes típicos da ilha: grouper (cherne), mahi (dourado do mar) e snapper (pargo).
Dali é possível ver uma parte da ilha do Renaissance. Sim. O hotel, que não tem uma orla para chamar de sua, foi além e construiu uma ilha para seus hóspedes. Deu tão certo que são de lá algumas das imagens mais icônicas de Aruba: areia branca, mar azul e flamingos cor de rosa. É um dos passeios mais famosos do pedaço, mas também um dos mais polêmicos, por envolver a exploração de animais. A atração, gratuita para os hóspedes, custa 125 dólares a diária para os demais turistas. O pacote inclui o taxi boat, uma refeição, uma bebida e toalhas. E muitas fotos ao lado de flamingos, na praia exclusiva para adultos, ou de iguanas, na área reservada para famílias.
Centro
Enquanto o cinco-estrelas Renaissance fica em Oranjestad, a capital de Aruba, a maioria dos outros hotéis está na área central. Em Eagle Beach ficam os low rise hotels (os hotéis baixinhos), muitos deles all-inclusive, como o Divi Tamarijn, onde me hospedei. Nessa área percebe-se a influência do turismo americano, de onde vem a maioria dos visitantes da ilha. O bar sempre aberto e os restaurantes variados e muito bem servidos – tex mex, carnes e pizzas entre eles – são desafios para qualquer dieta.
Para ajudar a digestão, a extensa faixa de areia plana convida a uma caminhada. De manhãzinha, quase deserta, Eagle Beach pode se confundir com o paraíso. O sol surgindo de trás das palmeiras, aquela água mansa indo e vindo e um símbolo local: o divi divi, árvores inclinadas pelo vento que sopra constantemente.
Só isso já teria sido suficiente para me fazer bastante feliz com a estadia, um bem-vindo intervalo das preocupações com a Covid-19. Mas Aruba também tem, em Palm Beach, o típico cenário turístico. Hotéis gigantes, cassinos, centros de compras, bares, restaurantes, esportes aquáticos. É dali que sai boa parte dos passeios de barco. Vinda da quarentena, me questionei se gostaria de ficar na área do agito. Talvez nem mesmo depois de toda a vacinação. De todo modo, vale a pena a visita.
Norte
Saindo de Palm Beach em direção ao noroeste da ilha estão alguns dos pontos mais belos do litoral. É na costa entrecortada por rochas e recifes, como na praia de Boca Catalina, que os barcos param para a prática do snorkel. Flutuar pelo azul em busca de espécies diferentes, imersa no silêncio do mar, pode ser uma experiência meditativa. E, para quem gosta de um pouco mais de aventura, alguns passeios levam até o mar aberto. Ali, na água agitada pelo vento, mas límpida, se escondem os destroços do navio alemão Antilla, que naufragou em 1940, no início da Segunda Guerra Mundial.
Também no caminho fica Tres Trapi, uma pequena praia bem menos conhecida, mas perfeita para quem quer explorar o ambiente por si mesmo. Não há uma grande faixa de areia, mas sim uma escada entalhada na estrutura rochosa que leva até o mar. Um cantinho pouco conhecido e muito especial.
Mais ao norte fica Malmok Beach, região onde é possível alugar casas luxuosas próximas da praia. É uma boa alternativa para quem quer fugir dos hotéis, mas não está exatamente preocupado com os custos. E, por fim, Arashi Beach, que oferece palapas públicas muito bem cuidadas e uma vista para o Farol Califórnia, que é aberto a visitação.
ALÉM DAS PRAIAS
Parque Nacional Arikok
Quem vai desavisado para esse paraíso caribenho não tem ideia de que vai topar com um parque como o Arikok. São 34 quilômetros quadrados, quase 20% do território da ilha, intocados. Aqui, a areia plana dá lugar a um terreno rochoso e acidentado. “Aruba se formou a partir de uma explosão vulcânica, por isso a ilha é tão seca”, explica o biólogo José Leclerc, que nos guia por uma trilha a pé pelo parque. Fazem parte da paisagem cactos tão altos quanto as poucas espécies de árvores e muitos tipos de lagartos, animal mais prevalente de Aruba (e menos charmoso do que flamingos).
A não ser que você seja um expert do 4×4, recomendo contratar um guia para os trajetos mais longos. As estradas são íngremes, nem sempre sinalizadas e os buracos fazem parte da aventura. Se tiver a sorte de topar com o sorridente John Kelly, pode até pedir um desvio para conhecer as praias vulcânicas na costa. Em Black Stone, a areia dá lugar a pedrinhas pretas e fortes correntes, numa paisagem completamente diferente da plácida parte oeste da ilha. Dos Playas, curiosamente um nome em espanhol entre muitos em inglês, também chama a atenção. Além de ser cortada ao meio por uma imensa pedra, ela possui pontes esculpidas pela ação milenar das ondas nas rochas.
O passeio ainda inclui visitas à Bushiribana, uma antiga mina de ouro, e a piscinas naturais. Para chegar até a maior, Conchi, é preciso descer por uma encosta. A experiência de observar o mar revolto abrigado em meio às pedras vale a pena o perrenguinho de chegar até lá. Também são atrações as cavernas com pinturas rupestres feitas pelos caquetíos, os nativos que habitavam a ilha antes da chegada dos espanhóis, em 1499.
San Nicolás
No começo do século 20, esse bairro (cidade, na geografia diminuta de Aruba) era o mais importante da ilha. Abrigava a refinaria de petróleo, o primeiro aeroporto, o clube de golfe, o hospital e até a zona de prostituição. Mas, com a ascensão do turismo e a decadência do petróleo (a refinaria parou de funcionar de vez em 2009), a área foi sendo abandonada. Muitos prédios ainda hoje estão vazios.
Mas a imagem de desalento tem mudado desde 2016, quando aconteceu a primeira Feira de Arte de Aruba. As paredes degradadas viraram tela para artistas de rua do mundo todo a convite do arubiano Tito Bolívar. Hoje são 54 murais imensos colorindo a região. Há obras do indonésio baseado na Grécia Wild Drawing, do português Odeith e da chilena Isidora Paz López. Mas muitas obras, como os mosaicos em floreiras e bancos, foram feitas por alunos das escolas locais, que participam de oficinas.
Se tiver oportunidade de agendar um tour, certamente sairá com mais informações sobre a história da ilha, das obras e de seus autores, e um entusiasmo pelo poder transformador da arte. Muito além daquela foto bacana para as redes sociais.
Borboletário
Se tiver tempo e curiosidade, a visita à Fazenda das Borboletas pode ser um belo passeio em família. Numa área coberta por tela, é possível apreciar 500 espécies diferentes e aprender mais sobre o ciclo de vida desses insetos. A fase alada é a mais gloriosa – e mais curta – mas, antes dela, também é curioso observar as larvas se alimentando e as crisálidas em compasso de espera. Para quem é fascinado por esses frágeis seres, são 15 dólares bem empregados.
QUANDO IR
Como não está na rota dos furacões, Aruba é um destino para o ano todo. Para ter uma experiência melhor – ou seja, menos superlotada -, a dica é evitar os períodos de férias e os grandes feriados. A época perto do Dia de Ação de Graças, por exemplo, pode não ser uma boa ideia, já que 60% dos turistas são americanos.
DESLOCAMENTOS
Alugar um carro de fato facilita conhecer melhor a ilha e explorar pontos da costa que nem chegam a ser turísticos. Uma das vantagens é a facilidade para se localizar: só há uma estrada. A moda mesmo por lá é alugar um UTV, um veículo aberto, pequeno, com tração nas quatro rodas para rodas por terrenos acidentados. É um charme, mas, além de caro (as diárias partem de 200 dólares), tem suas limitações. Antes era possível rodar pelo Arikok com um desses, mas o grande número de acidentes com turistas levou as autoridades a proibirem esse tipo de veículo no parque. Minha sugestão? Um carro normalzinho, por dois dias para fazer o norte e o sul com calma. E um passeio profissional por Arikok, para poder de fato explorar o que o parque tem de melhor.
DINHEIRO
A moeda oficial é o florim arubiano, mas o visitante nem se dá conta de sua existência: não há onde fazer operações de câmbio na ilha. Tudo tem preço em dólar, até no supermercado. Também é possível pagar com cartão ou sacar dólares.
FUSO
Uma das vantagens é que Aruba está quase no mesmo fuso que Brasília: só uma hora mais cedo.
COMO CHEGAR
Não há voos diretos do Brasil para Aruba. As opções atuais são via Panamá, com a Copa, e via Bogotá, com a Avianca.