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Yakutsk: como é a vida na cidade mais fria do mundo

Cidade a mais de 8 mil km de Moscou tem temperatura média anual de -8ºC e já atingiu −64°C em seus piores dias

Por Maurício Brum
Atualizado em 22 set 2024, 18h10 - Publicado em 22 set 2024, 18h00
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Nos dias mais frios, não são só as estátuas que congelam: quem não se protege vê o gelo se formar até nos próprios cílios (Empressdalek/CC-BY-SA-4.0/Wikimedia Commons)
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No meio da Sibéria, Yakutsk está muito mais próxima do Círculo Ártico do que da própria capital da Rússia: são apenas 450 km em linha reta até a latitude polar e mais de 8,3 mil km para quem tenta fazer o interminável trajeto por terra partindo de Moscou. Mas a fama do lugar é menos por ser remoto e mais pela temperatura: Yakutsk é tida como a “cidade mais fria do mundo”.

Aqui, vale um asterisco: até há povoamentos humanos em que as temperaturas batem mais baixo no termômetro, mas Yakutsk lidera entre os centros urbanos com alguma relevância. São mais de 350 mil pessoas vivendo em uma cidade onde a temperatura média anual fica em −8 °C, enquanto no inverno as máximas raramente superam −20°C.

De fato, a cidade jamais registrou um dia com temperaturas positivas entre meados de novembro e de março. Já o recorde histórico, em um dia de fevereiro no final do século 19, chegou a −64,4 °C.

Como é a vida em Yakutsk

“Adapte-se ou sofra” é o lema dos moradores locais, que estão habituados a resistir aos extremos. É um festival de incômodos para os sentidos: com o frio constante e a neve tomando conta das ruas na maior parte do ano, é inevitável conviver com a fumaça do aquecimento das casas, barulhentos caminhões que passam para desobstruir as ruas de tempos em tempos, e o uso de várias camadas de roupa, como um repolho ou cebola, como eles próprios comparam. Não dá para descuidar e deixar a pele muito exposta: nos dias mais gélidos, até os cílios chegam a congelar, rendendo fotos virais.

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Desde o começo da guerra entre Rússia e Ucrânia, a situação se tornou ainda mais complicada, com um racionamento de energia que fez a cidade se habituar aos apagões. Além de deixar Yakutsk às escuras por horas, os cortes de eletricidade também afetam o aquecimento, gerando inconvenientes como canos rompidos pelo congelamento da água.

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Neve, prédios cinzentos e fumaça: a realidade gelada e industrial de Yakutsk (Ilya Varlamov/CC BY-SA 4.0/Wikimedia Commons)

Com tanta dificuldade, surge a dúvida: por que alguém decidiria morar em um lugar tão inóspito? A explicação passa pelas riquezas minerais. A vida de Yakutsk gira em torno da indústria mineradora, com a extração de carvão e diamantes puxando a economia local. Também há reservas de ouro, mas elas são menos relevantes hoje do que já foram um dia.

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A realidade industrial também moldou as características da cidade: um ambiente cinzento e tomado por smog, mesmo em dias mais quentes (ou menos frios) em que as residências não usam calefação. De modo geral, a cidade lembra o estereótipo das urbes de tamanho médio da antiga União Soviética: chaminés de fábricas e grandes blocos habitacionais de concreto dominam o horizonte.

Tem algo turístico por lá?

O principal atrativo de Yakutsk é a própria fama de “cidade mais fria do mundo”. Mas, para quem decide se aventurar pela região, os principais programas são relacionados ao permafrost – a camada de solo perenemente congelada encontrada em grandes partes da Sibéria, inclusive sob o próprio perímetro urbano da cidade.

A maior beleza da região são os Pilares do Lena, uma formação rochosa às margens do Rio Lena, considerada um Patrimônio Mundial pela Unesco. Para chegar lá, pode-se fazer o trajeto de barco pelo próprio rio ou percorrer um trecho de carro e o restante usando botes ou uma moto de neve, a depender das condições climáticas.

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São cerca de 370 km entre a cidade e a parte mais famosa dos pilares, que chegam a 300 metros de altura. Antes da guerra, um tour de um dia partindo de Yakutsk custava cerca de € 500 euros para duas pessoas, mas a disponibilidade dos passeios e valores tem variado muito desde então.

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Pilares do Lena se formaram há cerca de 400 mil anos (Demidova Oksana/CC BY-SA 4.0/Wikimedia Commons)

Já na cidade, o passeio mais famoso é o museu conhecido como Reino do Permafrost, com esculturas em gelo e personagens inspirados na cultura local. É um passeio mais voltado para as crianças e tudo está escrito exclusivamente em russo.

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Para quem busca um olhar mais científico, as opções incluem o Instituto Melnikov, com um museu dedicado aos estudos do permafrost, e o Museu do Mamute, vinculado à universidade local, que guarda fósseis de mamutes e exposições dedicadas à vida desses animais.

Yakutsk conta com um aeroporto e uma companhia aérea própria, a Yakutia Airlines, que opera linhas entre a cidade e outros destinos russos – é a melhor maneira de chegar a esse local remoto sem passar dias nas imensidões geladas da Sibéria. E claro: tanto na cidade quanto nos tours ao redor, as visitas aos pontos turísticos normalmente só funcionam durante o verão.

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