Não bastassem as postagens nas redes sociais mostrarem destinos descolados da realidade – sem muvuca, sem calor, sem perrengue – agora querem glamorizar um dos momentos mais chatos em aeroportos, que é a passagem pelo raio-x. A nova “trend”, veja só, é tirar fotos da bandeja do raio-x no aeroporto com os objetos dispostos de modo fotogênico. A moda, chamada de “airport tray aesthetic” (estética da bandeja de aeroporto), faz sucesso entre a geração Z, que compartilha seus cliques no TikTok, Instagram e Pinterest.
A palavra “estética” não é incomum para quem nasceu mais ou menos entre 1997 e 2012 ou interage com conteúdos produzidos por pessoas nessa faixa etária. São formas de expressão da identidade dos usuários que se tornam pequenos movimentos artísticos efêmeros em nichos das redes sociais. A “estética da bandeja de aeroporto” seria uma forma de criar uma persona a partir da bagagem.
Ver essa foto no Instagram
Apenas produtos de desejo entram no clique, ou seja, nada de sacolas velhas, carteiras gastas ou bilhetes de check-in amassados, o que é a realidade em 90% das vezes.
No lugar da bagunça, entram passaporte, livros famosos, bolsas de luxo, fones de ouvido, tênis da moda, óculos de sol e até câmeras analógicas. Tudo milimetricamente organizado para compor a foto visualmente agradável da bandeja. Em suma, tudo o que uma esteira de raio-x não é.
Ver essa foto no Instagram
Pra piorar: nem todas as fotos são realmente feitas no aeroporto. A tendência chegou em marcas que incorporam o estilo em ensaios publicitários, além de pessoas que compram suas próprias bandejas para falsear o visual e poder fotografar no conforto de suas casas.
Ver essa foto no Instagram
De qualquer forma, a tendência tem sido criticada, já que trava as filas de segurança do aeroporto e atrasa passageiros que são obrigados a esperar alguém cuidadosamente ajeitar os itens – muitos deles nem precisariam ser retirados da bagagem – para fazer uma foto. Os que defendem a prática argumentam que essa é uma forma de registrar o conteúdo evitando assim que os objetos sumam após passarem pela máquina de raio-x.
Além dos problemas com o tempo e a falta de rapidez exigida nas filas, há também uma preocupação com a higiene. Um estudo realizado no aeroporto de Helsinque pela Universidade de Nottingham, na Inglaterra, em 2018, constatou que as bandejas do raio-x têm mais vírus causadores de gripes e resfriados do que os banheiros.