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Segredos de Roma: roteiros e achados na Cidade Eterna

Quatro roteiros curtos e certeiros para percorrer a pé e sem pressa, com alguns desvios para conhecer uma Roma mais pitoresca e menos frenética

Por Fabricio Brasiliense
Atualizado em 15 jun 2024, 09h28 - Publicado em 5 jun 2024, 12h00

Um roteiro por Roma precisa ter na programação uma visita ao Coliseu, à Fontana di Trevi, à Galleria Borghese, ao Castelo Sant’Angelo, aos Museus do Vaticano e à Basílica de São Pedro. Mas para o bem das suas férias – e do seu humor –, não limite a sua incursão às atrações mais consagradas. Ainda que sejam fundamentais, incontornáveis e magníficas, todas elas estarão abarrotadas de turistas iguaizinhos a você.

O melhor que você pode fazer em uma viagem para Roma é combinar pontos turísticos famosos com lugares mais tranquilos e pitorescos. Sim, eles existem e basta fugir um pouco das vias mais movimentadas e, claro, saber por onde escapar. Nessa reportagem, você encontrará quatro roteiros a pé, sempre tentando driblar as multidões (com variados níveis de sucesso) e com alguns upgrades (porque viajar é, sim, se permitir). Os roteiros são: da Piazza del Poppolo à Igreja Trinità dei Monti; do Monte Aventino ao Testaccio; da Piazza Venezia ao Coliseu; e do Teatro de Marcelo ao Gueto Judaico.

Prepare um bom tênis, a sua garrafinha para abastecer nas fontes de água que surgirão pelo caminho e aproveite. Ao final de cada roteiro, há um mapa do Google Maps com o trajeto completo do percurso que você pode clicar e seguir quando estiver por lá. 

Piazza del Popolo: alguns bebem café, outros saem para a passeggiata
Piazza del Popolo: alguns bebem café, outros saem para a passeggiata (FabrícioB/Viagem e Turismo)

Da Piazza del Poppolo à Igreja Trinità dei Monti (Piazza di Spagna)

Muitos vão dizer que essa é fácil: basta pegar a Via del Babuino e seguir uma linha reta. De fato, esse é o jeito mais simples e óbvio pelo fato da Babuino ser uma das ruas de comércio mais movimentadas e elegantes do centro de Roma. Ela conecta a Piazza del Poppolo à escadaria da Piazza di Spagna, que guarda aos pés a Fonte da Barcaça, obra-prima de Pietro Bernini e de seu filho, Gian Lorenzo. Mas a sugestão aqui é fazer desvios e colocar alguns upgrades, começando com um drink e terminando com uma refeição – ou um aperitivo, a happy hour italiana.

Na altura do número 9 da Via del Babuino, nas franjas da Piazza del Poppolo, você encontra o magnífico hotel Hotel de Russie, do grupo Rocco Forte, que em termos de importância, elegância e história seria o equivalente ao Copacabana Palace. Mesmo sem estar hospedado, você pode fazer como os romanos e entrar para tomar algo antes do compromisso seguinte.

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O Hotel de Russie esconde um jardim lindíssimo, um lugar que inspirou Picasso, Jean Genet e tantos outros artistas. Assim que você atravessa a recepção, uma porta de vidro dá acesso ao pátio interno onde fica o bar Stravinskij. Mesas e guarda-sóis ladeados pelo edifício criam um cenário de pura elegância. Sente, peça um negroni, um spritz, quem sabe um tiramisu e, enquanto espera, ande até o fundo do terreno onde está o maior jardim particular do centro de Roma. 

Projetado em 1820 pelo arquiteto Giuseppe Valadier, o lugar é composto por terraços, trilhas, balaustradas, grutas, fontes e estátuas em meio a laranjeiras e flores – tem até uma pequena cascatinha. É de ficar boquiaberto. No passado, o jardim já foi uma coisa só com o parque Villa Borghese, que está logo atrás. Parece mesmo um sonho.

Está na hora de ganhar a rua porque há muito o que ver. Saindo do Hotel de Russie, volte à Piazza del Poppolo e suba à direita por uma ruazinha em ziguezague. Se você for devagar, parando e clicando a cada tanto, não se preocupe porque esse é o efeito que Roma causa. Ao chegar no alto, você estará na Terraza del Pincio, muito provavelmente ao lado de outras pessoas embasbacadas com o visual da piazza logo abaixo e do duomo da Basílica de São Pedro ao fundo. Se for a sua primeira vez em Roma, será uma estreia e tanto.

Agora pegue para a sua esquerda e siga beirando a Viale Gabriele D’Annunzio por 1 quilômetro. O tempo do percurso fica a seu critério porque o importante é ir devagar, parar, sentar em alguma mureta, contemplar. O frenesi de Roma voltará quando você chegar aos pés da igreja Trinità dei Monti, que fica em frente à escadaria que desce até a Piazza di Spagna.

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Se preferir driblar a multidão e seguir na toada que começou com o jardim do Hotel de Russie, não desça a escadaria e siga pela Via Sistina, à esquerda, e você chegará ao elegante Hotel de la Ville. Suba até o Cielo bar, pegue uma mesa no terraço e aproveite o clima tranquilo, alheio ao caos das ruas. Se for hora do almoço ou jantar, vale investir no restaurante que fica no térreo do hotel, que serve uma excelente pasta cacio e pepe.

Hotel De La Ville
Hora feliz: a um pulo da Piazza di Spagna, o Cielo Bar é um refúgio dentro do Hotel de la Ville (Rocco Forte/Divulgação)

Do Monte Aventino ao Testaccio

Um dos lugares mais surpreendentes de Roma são os Jardins das Laranjeiras, ou Giardino degli Aranci, que é o coração de uma das sete colinas de Roma, chamada Aventino, que fica perto do Circo Máximo, o estádio que abrigava as corridas de bigas. O jardim retangular é um encanto, repleto de laranjeiras e de lá você tem uma das vistas mais lindas da Basílica de São Pedro e do skyline de Roma. Romântico na mais alta voltagem. Vá sem pressa e, se puder, faça um piquenique.

Ao sair do jardim, pegue à direita a Via di Santa Sabina e entre nas duas igrejas que surgirão à sua direita: a Basílica de Santa Sabina e, na sequência, a Basílica de São Bonifácio e de Santo Aleixo. Ambas são de cair o queixo não apenas pela beleza, mas pelo fato de que talvez você seja, como eu fui, uma das únicas pessoas no momento da visita. A maioria dos turistas parece estar mais focada em chegar logo ao final da rua, onde está o buraco da fechadura mais famoso de Roma. Isso mesmo: Il buco della serratura é um portão de um convento cuja fechadura permite espiar a cúpula da Basílica de São Pedro. É provável que haja uma fila de gente aguardando a vez.

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Bem ao lado, você vai encontrar o Ateneo Sant’Anselmo, uma escola e igreja que, graças a uma placa, The Benedictine Shop, convida a entrar. Entre. Lá dentro você vai encontrar um pátio muito agradável e uma loja enorme, quase um supermercado, que vende produtos feitos por monges beneditinos: biscoitos, chocolates, licores, geleias, sabonetes, cremes, perfumes, imagens sacras e também as famosas cervejas trapistas. Você pode comprar uma água, um sanduíche, ir ao banheiro ou simplesmente dar um tempo antes de seguir a caminhada.

Ao sair, pegue à direita e você deixará o Aventino por uma de suas ladeiras mais elegantes, a Via di Porta Lavenale. Prepare-se para espiar no curto caminho algumas casas lindíssimas. Fachadas enormes alaranjadas, detalhes em amarelo, janelas verdes. Lá pelas tantas o galho de uma laranjeira, talvez carregada, escapa pelo portão. Arbustos escorrem pelos muros. Se tiver sorte, você ainda poderá ouvir a vida acontecendo da porta para dentro.

Mais alguns minutos e você já estará na movimentada Via Marmorata. À sua esquerda, um charmoso quiosque verde, o Tram Depot, é um convite para um café, um vinho natural ou quem sabe um coquetel. Se o dia estiver bonito, vale sentar nas mesinhas e ficar.

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Na sequência, atravesse a Via Marmorata e você entrará no Testaccio, um bairro residencial que guarda um endereço imperdível, o Mercado Testaccio, que fica cinco quarteirões para dentro. O lugar é uma mistura de feira livre com mercado de comida e lojas de roupas, um fuzuê maravilhoso, principalmente se for um sábado pela manhã. Nos boxes de comida, não raro os atendentes falam inglês e explicam tudo. Você pode escolher a massa e o molho ou seguir as sugestões escritas em lousas. Dê uma olhada nas massas e molhos do Altro ou nas pizzas da Casa Manco – um prato com a pasta do dia sai em torno de € 8. O mercado também vira balada em alguns sábados durante o ano com DJ e pistinha (siga o mercado no Insta para saber as datas).

Da Piazza Venezia ao Coliseu

Essa é fácil: basta contornar o monumento Vittorio Emanuele pela esquerda, pegar a Via dei Fori Imperiali e seguir reto até o Coliseu. Acredite: é possível imprimir ainda mais impacto a esse curto percurso, principalmente se você não tiver avistado ainda o Coliseu. Para isso, contorne pela direita o Vittorio Emanuelle, o imenso monumento que muitos romanos amam odiar, e vá seguindo pela calçada. Dê apenas um tchauzinho para os 124 degraus que levam até a Basilica di Santa Maria em AraCoeli (volte depois para conhecer este importante lugar de peregrinação), e pegue a escadaria seguinte, bem mais suave, que leva até a Piazza del Campidoglio, desenhada por Michelangelo em 1538 como símbolo de uma “nova Roma”. Não deixe de visitar os Museus Capitolinos, mas em outra ocasião.

Da estátua equestre bem no meio da praça, siga pela direita – o Palazzo Senatorio estará bem na sua frente – e logo você verá um arco. Atravesse-o e prepare-se para ter uma das vistas mais fantásticas do Fórum Romano. 

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Depois de muitos cliques (ninguém resiste), retorne e pegue o caminho da lateral esquerda do Senatorio, por ali também há um mirante onde se vê o Vittoriano. Vá descendo um caminho demarcado até chegar a uma escadaria onde você já conseguirá avistar alguns ícones do Fórum Romano mais de perto, como o Arco de Septímio Severo e o Templo de Saturno. É um cenário deslumbrante! Nesse pedaço, você estará contornando o Fórum Romano por fora e poderá entrar no sítio histórico por ali mesmo se já tiver o ingresso, que é o mesmo do Coliseu.

Dali, você estará a poucos passos da Via dei Foro Imperiali e basta seguir pela direita. A avenida, construída a mando de Mussolini, é um dos lugares com a maior concentração de turistas por conta da magnitude das escavações arqueológicas da Roma Imperial. Ao longo da via estão colocadas estátuas de bronze dos imperadores Augusto, César, Nerva e Trajano, em correspondência aos seus respectivos fóruns. Uma pena que as intermináveis obras da Linha C do metrô tenham precisado instalar tapumes imensos ao longo da via no pedaço mais próximo do Coliseu, mas ele estará lá ao final da via, majestoso, e o caminho até ele terá sido com muita emoção.

Do Teatro de Marcelo ao Gueto Judaico

O Teatro di Marcello pode parecer, de relance, um Coliseu em miniatura. As semelhanças terminam aí. Enquanto o Coliseu é monumental, o Teatro di Marcello, ou o que restou dele, faz parte do traçado urbanístico da cidade, tanto que sua fachada foi incorporada ao Palazzo Savelli Orsini, construído em 1519, e que se tornou um conjunto residencial de apartamentos de luxo (acima dos arcos do teatro repare como a construção é mais recente). Mas o teatro é anterior a isso e foi inaugurado sob o regime do imperador Augusto em 12a.C. e tinha capacidade para acomodar até 20 mil espectadores. Para além do teatro, há um amalgamado de outros monumentos muito interessantes que ocupam praticamente o mesmo espaço e foram erguidos em períodos diversos. Um deles são as três colunas de 34a.C. que restaram do Templo de Apolo Sosianus, que foi erguido em homenagem ao deus Apolo a mando de Caio Sosio. Em seguida, vem o Pórtico de Otávia, uma enorme colunata construída a mando de Augusto em homenagem à irmã em 23 a.C. Logo atrás do pórtico, conectada por uma passarela, a igreja Sant’Angelo in Pescheria, da Idade Média, é uma referência ao mercado de peixes que havia ali perto, às margens do rio Tibre (nesse pedaço, você estará em frente à Ilha Tiberina, um refúgio na cidade – visite-a depois atravessando a ponte Fabrício).

O interessante desse amalgamado de edificações históricas é o acesso gratuito e o fato de fazerem parte do traçado urbano. Se eu morasse em Roma, toda vez que fosse andar pelo gueto judaico com certeza passaria ali por dentro.

E já que falei do gueto, o lugar merece uma visita. Trata-se de um pedaço que, curiosamente, parece viver alheio ao frenesi da cidade, ainda mais por estar colado ao Campo de’ Fiori, uma das áreas mais fervidas de Roma.

Quer ver um lugar bacana? Quando estiver em frente ao Pórtico de Otávia, siga à esquerda pela Via del Portico d’Ottavia, entre à direita na Via della Reginella e siga até o final. O seu destino é a Piazza Mattei, onde está a encantadora Fontana delle Tartarughe, uma pracinha linda com uma fonte de 1580 decorada com tartaruguinhas. Sente em uma mesa na praça do Tartarughe Bar e Bottega e peça um spritz ou, se o calor pedir, compre um gelato na vizinha Grezzo, uma sorveteria vegana que usa ingredientes naturais e sem glúten.

Fontana delle Tartarughe, Roma
A lindinha Fontana delle Tartarughe e o Tartarughe Bar e Bottega ao fundo (FabrícioB/Viagem e Turismo)

Mas se você quiser provar algo muito romano, volte até a Via del Portico d’Ottavia número 1 e busque pela Pasticceria Boccione, um lugar simplérrimo e muito autêntico que vende uma iguaria desde 1815, a crostata, uma torta queimadinha por cima que tem uma história de resistência. No século 16, um decreto papal proibiu os judeus romanos de venderem produtos lácteos e a solução dos padeiros da época foi esconder o recheio. No caso da crostata, o queimadinho por fora esconde um generoso creme de ricota e visciole, um tipo de cereja. É de comer rezando.

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Uma publicação compartilhada por Stéphane Solier (@la_vita_e_una_brioche)

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