Roteiro de três dias em Charleston, na Carolina do Sul
Cenário de "Diário de Uma Paixão", charmosa cidade à beira-mar tem mansões históricas e um novíssimo museu de história afro-americana
Charleston é queridinha entre os norte-americanos: a cidade mais populosa da Carolina do Sul foi eleita a melhor dos Estados Unidos por 12 anos consecutivos pelos leitores da revista Travel + Leisure.
De nome, o destino pode ser pouco conhecido entre os brasileiros. Mas é bem provável que você já tenha assistido pelo menos uma produção que teve Charleston como pano de fundo.
É o caso do filme de guerra O Patriota (2000), estrelado por Mel Gibson; dos romances baseados em livros de Nicholas Sparks, Diário de Uma Paixão (2004) e Querido John (2010); e, mais recentemente, da série adolescente da Netflix Outer Banks (2020).
Charmosíssima, a cidade à beira-mar prosperou muito no período entre a Guerra da Independência e a Guerra Civil, chegando a ser uma das mais ricas do país. A arquitetura local é um testemunho bem preservado dessa época: o lindo centro histórico, que chega a parecer cenográfico, possui uma das maiores concentrações de casas dos séculos 18 e 19 nos Estados Unidos.
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Mas é preciso dizer que essa prosperidade se deu às custas do trabalho forçado de mulheres e homens africanos. Quase metade das pessoas escravizadas e levadas aos Estados Unidos chegaram pelo porto de Charleston, que foi o centro do tráfico humano no sul do país.
Varrido para baixo do tapete por muito tempo, esse lado da história vem gradualmente ganhando a atenção que merece. Além de se desculpar formalmente em 2018 pelo seu papel na escravidão, a cidade também inaugurou, em junho de 2023, o monumental International African American Museum, que se propõe a contar toda a história afro-americana.
Veja, a seguir, o que fazer em três dias em Charleston:
ROTEIRO DE TRÊS DIAS EM CHARLESTON
DIA 1
Comece pelo novo International African American Museum (US$ 22), eleito pela revista Time um dos melhores lugares do mundo em 2024.
Antes de entrar, dê uma boa olhada no prédio. Para simbolizar a sacralidade da sua localização, no cais onde milhares de africanos escravizados desembarcaram, o museu fica elevado a quatro metros do chão.
Nesse vão livre, há instalações de arte como a “Tide Tribute”, figuras em relevo no chão que representam os homens, mulheres e crianças trazidas em condições desumanas nos navios. Conforme as mudanças na maré, as formas são sucessivamente cobertas e reveladas pela água.
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Do lado de dentro, telas interativas, artefatos, obras de arte e filmes se espalham por uma área expositiva de mais de dois mil metros quadrados que se propõe a contar a história afro-americana sem perder de vista três Ts: trauma, truth and triumph (em português, “trauma, verdade e triunfo”).
Rica e muito abrangente, a exposição permanente possui inclusive algumas menções ao Brasil, que vão do candomblé ao ativismo contra a discriminação racial de Marielle Franco.
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O International African American Museum também guarda o Center for Family History, que ajuda afroamericanos a descobrirem as origens de sua família. Qualquer um pode agendar um horário para realizar a pesquisa com o auxílio dos funcionários da instituição, que têm acesso a dados do censo, jornais e obituários dos Estados Unidos.
Recomendo ler essa matéria do The New York Times (em inglês), em que o repórter Jonathan Abrams relata sua experiência usando o serviço e resgatando sua genealogia desde 1829.
A tarde pode ser dedicada a explorar o centro histórico de Charleston. Do International African American Museum, basta ir acompanhando o mar em direção ao sul para chegar – em 10 minutos de carro ou 30 de caminhada – à Battery Street.
Com um calçadão à beira da água cheio de gente passeando com cachorros e carrinhos de bebê, a rua é endereço de lindas mansões do século 19. A maioria continua sendo utilizada como residência privada, mas há uma bela exceção que pode ter o seu interior visitado: a Edmondston-Alston House (US$ 15).
A casa foi construída em 1825 pelo mercador escocês Charles Edmondston, mas vendida uma década depois para outro Charles, da família Alston, que tinha feito fortuna com plantações de arroz. O tour guiado de 30 minutos destaca os elementos que fazem dela um clássico exemplo da arquitetura de Charleston, além da mobília e de outros objetos originais da época.
Quem assistiu Outer Banks pode reconhecer a fachada: a Edmondston-Alston House aparece na terceira temporada da série como sendo a mansão de Carla Limbrey.
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De lá, a dica é embrenhar-se por ruelas como a Tradd Street para admirar as fachadas das casas. O ponto alto é a fotogênica Rainbow Row na E Bay Street, uma fileira de casas em diferentes tons pastel que é o cartão-postal de Charleston.
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Siga então para a comprida King Street, a artéria da cidade. A porção mais ao sul concentra lojas de antiguidades, enquanto o miolo possui um mix de lojas locais e boutiques sofisticadas. Ao norte, começam a aparecer mais bares e restaurantes.
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O Charleston City Market, ainda nas redondezas, é outro ponto popular para compras: há barracas vendendo peças de artesanato e souvenires.
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DIA 2
A sugestão para o segundo dia pode até parecer um tour temático pelas locações de Diário de Uma Paixão, mas o roteiro de fato passa por atrações e paisagens icônicas nos arredores de Charleston, que vão encantar mesmo quem não é fã do romance.
De carro, leva-se pouco menos de uma hora rumo ao norte para chegar aos Cypress Gardens (US$ 10), onde os personagens Noah (Ryan Gosling) e Allie (Rachel McAdams) fazem um passeio de barco a remo e chegam a um lago com centenas de cisnes.
Ali, os visitantes também podem fazer passeios de barco (US$ 5) pelo pântano, onde árvores das espécies tupelo e bald cypress (algo como “cipestre calvo”, em português) são espelhadas na água escura, habitada por jacarés e tartarugas. Só não espere encontrar cisnes: eles foram treinados e levados para lá especialmente para as gravações do filme.
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Depois, dirija por mais uma hora em direção ao sul, já fazendo o caminho de volta para Charleston, para conhecer a Boone Hall Plantation (US$ 28), uma fazenda em atividade há mais de 300 anos.
Ali fica uma mansão, construída em 1936, que foi usada para as tomadas externas da casa de verão da família de Allie. É possível visitar o primeiro andar da construção, que segue o estilo georgiano e usa materiais restaurantes e mobílias antigas para recriar uma atmosfera muito mais antiga.
Isso porque a propriedade costumava ser uma plantation – termo usado para designar as grandes plantações que utilizavam trabalho escravo e existiam aos montes no sul dos Estados Unidos entre os séculos 18 e 19.
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Parte importante da visita, consequentemente, consiste em entender como era a vida das pessoas escravizadas em Boone Hall, passando inclusive por cabanas originais que lhes serviam de moradia. O tour também passa por um icônico corredor de carvalhos e jardins repletos de rosas.
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Se quiser continuar na temática de Diário de Uma Paixão, o jantar de volta a Charleston pode ser no High Cotton, que tem ambiente classudo e menu focado nos frutos do mar. O restaurante aparece na cena em que Noah olha pela janela e vê Allie almoçando com seu noivo.
DIA 3
O pontapé da Guerra Civil Americana foi uma batalha entre União e Confederados que aconteceu em 1861 em Charleston, mais exatamente no Fort Sumter. Para conhecer a estrutura, que preserva canhões da época e guarda um museu sobre o tema, é preciso pegar um dos ferrys até a ilha artificial onde ele foi construído, a cerca de seis quilômetros da costa.
Os ingressos custam US$ 37, já incluindo o trajeto de barco. As embarcações saem do Fort Sumter Visitor Center, que fica na Liberty Square e perto do centro da cidade; ou do Patriots Point, no bairro de Mount Pleasant.
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Apesar de ser mais distante do centro da cidade, Patriots Point pode ser um ponto de partida e retorno mais conveniente porque ali fica outra atração bélica de Charleston: o USS Yorktown CV-10, um porta-aviões utilizado na Segunda Guerra Mundial e na Guerra do Vietnã que foi convertido no Naval & Maritime Museum (US$ 28). O acervo é composto por 29 aeronaves usadas na Segunda Guerra Mundial e uma área que recria uma base naval da Guerra do Vietnã.
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O restante do dia pode ser dedicado a conhecer as praias nos arredores de Charleston. A melhor é a Kiawah Island Beach, com mais de quinze quilômetros de costa praticamente intocados. A areia é batida, ótima para pedalar, e há poucas ondas. Aqui também fica o Kiawah Island Golf Resort, que serviu de locações para as cenas que se passam no clube de golfe durante a primeira temporada de Outer Banks.
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A contrapartida é que o trajeto de carro até Kiawah Island Beach leva pelo menos uma hora. Opções mais próximas, a cerca de trinta minutos de carro, são a Folly Beach e a Sullivan’s Island Beach, com mais estrutura e restaurantes perto da areia. Ambas as praias foram usadas como locações do filme Querido John.
ONDE FICAR EM CHARLESTON
A cena hoteleira de Charleston está cheia de boas novidades. A principal está relacionada ao The Mills House Hotel (nota 8,9/10 no Booking): o charmoso casarão cor-de-rosa é utilizado como hotel desde que foi construído em 1853 e passou por uma repaginação completa em 2022 para se tornar parte da Curio Collection by Hilton. Tem piscina no terraço e localização central, a uma quadra da King Street.
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O Palmetto (8,8/10), aberto em 2023, possui apenas 45 quartos e disponibiliza bicicletas para pedalar no calçadão à beira-mar da Battery Street, que fica a poucos minutos. Já o Pinch (9,6/10) começou a receber hóspedes em 2022 em suas 25 acomodações, espalhados por três prédios que datam dos anos 1800.
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Ocupa uma construção totalmente nova o boutique Loutrel (9,6/10), inaugurado em 2021, que tem terraço com vista para o centro histórico. No mesmo ano, passou a operar o descontraído Ryder (7,8/10), inspirado no personagem Japhy Rider de Os Vagabundos do Dharma de Jack Kerouac. O destaque fica para a animada piscina no terraço.
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Já o Emeline (8,6/10) é fruto da reforma total de um antigo hotel: o novo espaço foi inaugurado em 2020 com tons sóbrios e várias surpresas para os hóspedes, como toca-discos em funcionamento nos quartos e biblioteca de vinis para pegar emprestado.
Busque outras opções de hospedagem em Charleston.
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Veja um mapa com todas as atrações e hotéis mencionados na matéria:
COMO CHEGAR EM CHARLESTON
O Aeroporto de Charleston recebe somente voos dos Estados Unidos e do Canadá. Para quem sai do Brasil, a melhor maneira é voar via Atlanta com a Delta ou a Latam: o voo de Atlanta para Charleston leva pouco mais de uma hora. Veja as melhores opções de voos para Charleston.
A ida a Charleston também pode ser encaixada em uma viagem para outros destinos do sul dos Estados Unidos, como a Flórida, a Louisiana e o Texas.
Do aeroporto, são cerca de 20 minutos de carro até o centro de Charleston. Esse e outros trajetos mais longos podem ser feitos de Uber, mas convém alugar um carro para ir até Cypress Gardens e Boone Hall Plantation.
Para circular pelo centrinho, o serviço de ônibus gratuito DASH funciona bem e alguns hotéis oferecem bicicletas.
Veja as melhores opções de voos para Charleston.
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