Por muito tempo, o carro-chefe do SeaWorld em Orlando eram os shows que envolviam baleias, golfinhos e leões-marinhos. As apresentações seguem acontecendo, mas o aspecto espetaculoso é hoje menos enfatizado e o parque abriu um importante braço focado no resgate, tratamento e reabilitação de espécies marinhas. Nos últimos anos, os olhos dos visitantes têm se voltado muito mais para as atrações radicais, sobretudo as cinco montanhas-russas que deixam qualquer um de perna bamba e sem voz. São elas: Pipeline, Ice Breaker, Mako, Kraken e Manta. Eu fui em todas (ou quase todas) e conto agora como foi:
PIPELINE E ICE BREAKER: AS NOVIDADES
Bastou atravessar as catracas do parque e virar à esquerda para dar de cara com a mais nova atração do SeaWorld, a Pipeline: The Surf Coaster, inaugurada em maio de 2023. Como já contei nesta outra matéria, pude testar em primeira mão a única montanha-russa de pé em Orlando, que possui carrinhos no formato de uma grande prancha de surfe.
Presa ao encosto vertical enquanto aguardava o lançamento, bateu uma certa apreensão. Por mais que eu goste de brinquedos radicais, será que ficar de pé numa montanha-russa é a minha praia? Antes que eu me desse conta do trocadilho, já estava a 96km/h subindo uma “onda” de 33 metros de altura. Segundos antes da queda, ou melhor, do drop, meus pés ficaram suspensos e depois colaram novamente no chão, me obrigando a flexionar os joelhos. Irado!!!
Pois é, o grande diferencial da Pipeline está nos encostos verticais que se movem até 20 centímetros para cima e para baixo. Me senti a própria surfista big rider quando descobri que poderia controlar aqueles movimentos: era só dar um pulinho para ir para cima e jogar o peso para baixo quando quisesse encostar no chão. Para tornar tudo ainda mais emocionante, ainda tem um momento em que você fica de cabeça para baixo. Logo aqui abaixo tem um vídeo do brinquedo.
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Ninguém melhor para atestar que a montanha-russa proporciona a sensação de estar deslizando numa onda do que Lucas Chumbo, surfista de ondas gigantes que viajava comigo no mesmo grupo para testar a Pipeline em primeira mão. Na primeira fileira do carrinho, ele gritava alucinado: “Caraca, Nazaré! É muito animal! Batidão. Cut back, cut back” — entre outras gírias de surfe que não sou capaz de decifrar.
Veredito: a nova atração do SeaWorld é surpreendente, cheia de adrenalina, e ao mesmo tempo suave (veja meu relato completo aqui). Quem não curte montanhas-russas muito radicais deve encarar a Pipeline numa boa. As filas devem ser longas nesses primeiros meses de estreia, então vale a pena colocá-la logo no começo do seu roteiro. A dica é manjada, mas não custa repetir: chegue ao parque cedo, um pouco antes do horário da abertura, que varia entre 9h e 10h dependendo da época do ano (confira aqui).
Não deu nem tempo de recuperar o fôlego. Logo adiante surgiu o trilho laranja da Ice Breaker, outra novidade no pedaço que foi inaugurada em fevereiro de 2022 e que eu estava louca para embarcar. A surpresa aqui foi o lançamento reverso: minha cabeça colou no encosto do banco enquanto eu subia de ré até a ponta de uma rampa de 28 metros de altura e ângulo de 100°.
Mais tarde, eu descobriria que aquela é a queda mais íngreme da Flórida, que dá aos carrinhos força e velocidade suficientes para seguir por uma sequência de subidas e descidas. Se você não curte ficar de ponta-cabeça, aproveite: a montanha-russa não tem nenhuma inversão, só gargalhadas e frio na barriga.
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SESAME STREET LAND: PARA AS CRIANÇAS
Depois dessa dobradinha de montanhas-russas novidadeiras, um descanso veio bem a calhar. Aproveitei para conhecer a área infantil Sesame Street Land, que foi inaugurada em 2019. A ambientação de Vila Sésamo é uma graça e as crianças fazem a festa nos brinquedos pensados especialmente para elas, mas que também permitem a entrada de adultos: tem montanha-russa, elevador, xícaras giratórias e trenzinho, tudo em versão mini. Grandões são o brinquedão, com rampas para escalar e escorregadores, e o playground aquático, que fazia sucesso naquele dia quente com seus esguichos jogando água para tudo quanto é lado. Escapei ilesa desse banho, mas não escaparia do próximo.
INFINITY FALLS: RINDO DE NERVOSA
Lá pelas tantas, alguém sugeriu que fôssemos à Infinity Falls, um brinquedo do tipo rafting que abriu em 2018. Sem pensar muito, embarquei no bote para oito pessoas, que foi alçado por um elevador até o começo da corredeira. Me surpreendi ao ver que as ondulações da água eram violentas, altas o suficiente para inundar o barquinho. CHUÁ. Encharcou meu tênis.
O bote foi ganhando velocidade até que despencou rio abaixo: são doze metros de desnível, a maior descida nesse tipo de brinquedo do mundo. Eu ainda estava preocupada em manter os pés longe da poça que tinha se formado no chão do bote quando… CHUÁ. A água veio de cima, de trás, do lado e de baixo para encharcar a camiseta, o shorts, o cabelo. Eu dava risada, só que de nervosa. Talvez seja o mais perto que cheguei de estar dentro de uma máquina de lavar roupas – e no modo limpeza pesada (o vídeo abaixo não me deixa mentir).
Saí de lá como se tivesse mergulhado de cabeça numa piscina. Anota: a Infinity Falls molha muito, mas muito mesmo. E o bote é redondo, então vai molhar não importa onde você esteja sentado. Capa de chuva também não adianta: o negócio é ir para se encharcar mesmo (e cuide do seu celular). Leve roupa para trocar depois ou vai ficar o dia inteiro pingando pelo SeaWorld, como aconteceu comigo. Pensando bem, foi muito divertido. Mas depois não diga que eu não avisei.
MAKO E KRAKEN: A DUPLA RADICAL
Não tinha jeito melhor de tentar fazer as minhas roupas secarem ao vento do que embarcando na Mako: nada mais, nada menos, do que a montanha-russa mais alta (61 metros), mais rápida (117 km/h) e mais extensa (1.450 metros) de Orlando desde a sua abertura em 2016. E também a minha favorita da vida! Inspirada nos movimentos do tubarão-mako, ela tem descidas bem íngremes que proporcionam nove momentos de sensação de gravidade zero: é uma delícia! Assim como a Ice Breaker, ela não vira de cabeça para baixo nenhuma vez, provando que não é preciso ter inversões para ser radical: o frio da barriga intenso a cada queda já basta.
Mas se para você montanha-russa boa é montanha-russa que tira o cérebro do lugar, apresento-lhe a Kraken. Primeira do SeaWorld, ela foi inaugurada em 2000, mas foi totalmente repaginada e reabriu em 2017.
Só o fato dos carrinhos não terem chão, de forma que os seus pés vão pendurados o tempo todo, já me causa aflição. Mas ainda tem as sete (!) inversões feitas a até 105 km/h, que vão se repetindo ao longo de um percurso de 1.273 metros. Não, obrigada.
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UMA PAUSA NECESSÁRIA
A desculpa perfeita para não encarar a Kraken foi a fome. A montanha-russa fica colada na área temática Antarctica Penguin Encounter, onde o Expedition Café é uma boa opção de restaurante pela variedade: há uma ilha de comida americana, uma de italiana (só com pizzas) e outra de asiática.
Ali ao lado costumava existir um simulador com carrinhos que iam deslizando por cenários de gelo e projeções de pinguins até chegar a uma área com cinco espécies de pinguins de verdade. A atração fechou durante a pandemia e agora está sendo repaginada, mas ainda é possível visitar o espaço onde os bichos vivem — ótimo para relaxar no ambiente refrigerado. Logo em frente fica outro brinquedo de água, o Journey to Atlantis, que ganhou pontos comigo por molhar bem menos que a Infinity Falls.
Caminhando mais um pouco, você chega no Manatee & Turtle Rescue, onde ficam os peixes-boi e as tartarugas-marinhas que foram resgatadas pelo SeaWorld, geralmente após acidentes envolvendo barcos e redes de pesca. A maioria dos animais está ali em processo de reabilitação e será devolvido para a natureza, caso de uma peixe-boi fêmea que passou por uma dezena de cirurgias depois de ter as costas e uma das nadadeiras cortadas pela hélice de um barco.
São mantidos como hóspede permanentes apenas os bichos que não têm mais condições de sobreviver em seu habitat natural, como é o caso de uma tartaruga-marinha que teve uma de suas barbatanas arrancadas e de uma outra que não tem mais a mandíbula, e por isso recebe alimentação na boca todos os dias.
Anexo ao aquário das tartarugas-marinhas foi inaugurado, em junho de 2023, o SeaWorld Coral Rescue Center. Em um amplo salão redondo estão distribuídos tanques de água salgada com exemplares de corais da Flórida, espécies que estão sendo ameaçadas pela disseminação de uma doença letal chamada SCTLD. A ideia é reproduzir esses animais (sim, corais são animais) para, no futuro, repovoar a barreira de corais do estado.
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MANTA: A QUERIDINHA
A Manta, mesmo tendo sido inaugurada em 2009, continua sendo a montanha-russa mais queridinha do SeaWorld. O brinquedo realmente é especial: os trilhos ficam na parte de cima e os assentos viram para te deixar de barriga para baixo, encarando o chão. Assim como a Pipeline, a posição pouco convencional causa apreensão no início, mas o medo vai embora à medida que você sente que está voando. Ou melhor, nadando: a proposta da Manta é simular os movimentos de uma raia, então há momentos de mergulhos profundos, giros no próprio eixo e looping. É tão divertido que eu fui com um sorriso na cara do começo ao fim.
Se você decidir seguir os meus passos, ao chegar na Manta já terá dado a volta no sentido anti-horário completa no parque, cujas atrações ficam espalhadas em torno de um grande lago central (veja no mapa abaixo). A saída já estará logo em frente, mas é provável que ainda tenha sobrado algum tempo. Nesse caso, você pode atravessar a ponte sobre o lago para cortar caminho e chegar mais rápido ao Orca Stadium (falo disso a seguir), a tempo de assistir a última apresentação do dia. Se estiver com crianças, pode fazer o mesmo caminho para que elas curtam mais um pouco os brinquedos do Sesame Street Land. Se for dos meus, a sugestão é repetir a Pipeline ou a Ice Breaker, que estão pertinho da Manta.
E OS SHOWS DAS ORCAS, GOLFINHOS E LEÕES-MARINHOS
Atravessei a ponte para assistir a última apresentação do dia no Orca Stadium. Estava curiosa para ver o que tinha mudado na famosa atração com orcas passados treze anos do episódio que vitimou uma treinadora ao final de um show.
De lá para cá, o SeaWorld deixou de reproduzir baleias em cativeiro e reformulou a apresentação, que passou a ter auxílio de um telão que exibe informações sobre a vida dos cetáceos. O show foca mais no “comportamento natural” das baleias, como no momento em que elas colocam a cauda para fora, e os treinadores permanecem o tempo todo na borda do tanque e nunca dentro d’água como no passado.
Perdi várias explicações porque estava prestando atenção na orca, da mesma forma que perdi várias aparições da orca porque estava prestando atenção no telão. O ponto alto é mesmo no final, quando uma das baleias usa a cauda para jogar água na plateia (quanto mais perto do tanque você estiver, maiores serão as chances de se molhar).
Além das orcas, tem ainda o show com golfinhos no Dolphin Stadium e com leões-marinhos e lontras no Sea Lion & Otter Stadium, que são um pouco menos informativos e mais focados nos animais fazendo truques e acrobacias em troca de comida.
Por mais que as apresentações lotem (consulte os horários ao chegar no parque para se programar) e ainda despertem interesse, saí com a sensação que o SeaWorld é um parque cada vez mais empolgante por tudo o que não envolve show com animais. As montanhas-russas e os brinquedos aquáticos são motivos suficientes para passar um dia inteiro ali.
INGRESSOS, PLANOS DE ALIMENTAÇÃO E FURA-FILAS
Os preços dos ingressos para o SeaWorld variam dependendo da época do ano, de US$ 57,99 a US$ 109,99. Pagando US$ 30 a mais, é possível adquirir um plano de alimentação que permite comer e beber o dia inteiro no parque. Funciona assim: a cada 90 minutos, você pode pedir nos restaurantes participantes uma bebida (menos garrafa de água) + um prato principal + um acompanhamento ou uma sobremesa. Se você pretende fazer mais de uma refeição no parque, como o almoço e um lanche da tarde, o plano de alimentação já vale a pena. Esses preços são válidos para compra através do site.
Caso você tenha a intenção de visitar outro parques do grupo SeaWorld — Aquatica em Orlando e Busch Gardens na cidade vizinha de Tampa — sai mais barato comprar os combos de dois parques (a partir de US$ 104,99) ou três parques (a partir de US$ 159,99). Eles permitem visitar cada parque uma única vez e dão um descontinho no plano de alimentação, que sai US$ 27,50 por dia. Compre pelo site do SeaWorld.
Agora, se você planeja visitar também o Discovery Cove em Orlando, considere o combo de quatro parques (a partir de US$ 189,70). Ele dá direito a visitar o Discovery Cove uma única vez e o SeaWorld, Aquatica e Busch Gardens quantas vezes quiser durante 14 dias consecutivos. Nesse caso, é preciso comprar pelo site do Discovery Cove.
Assim como outros parques de Orlando, o SeaWorld também possui um esquema de fura-filas, que por lá se chama Quick Queue. O preço varia bastante dependendo da época da visita, entre US$ 29,99 e US$ 149,99. Com esse serviço, você tem assentos reservados nos shows e acesso prioritário ilimitado em praticamente todos os brinquedos: a exceção é a nova Pipeline, onde você só pode furar a fila uma vez.
Sem a mordomia do Quick Queue, uma dica é baixar o aplicativo do SeaWorld (disponível na App Store e no Google Play), que mostra o tempo de espera na fila de cada atração. Ali também é possível consultar os horários de abertura e fechamento, os horários dos shows e apresentações e o mapa do parque.
No vídeo abaixo, eu mostro um compilado das montanhas-russas do SeaWorld:
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Leia uma reportagem sobre o Aquatica