Quando foi fundada em 1718, a cidade de Nova Orleans se limitava à área que hoje corresponde ao French Quarter. O bairro possui seis quadras de largura e treze de extensão, o que significa que é possível explorá-lo em menos de três horas a pé.
Mas o ideal é não ter pressa, já que o centro acumula bonitas construções inspiradas nas arquiteturas francesa e espanhola. A marca-registrada são as varandas e sacadas em ferro forjado, então não se esqueça de olhar para cima. A maioria dos edifícios é hoje ocupada por galerias de arte, antiquários e lojas que vendem de tudo.
A seguir, você confere um roteiro passando pelos pontos mais interessantes do French Quarter:
Old Banks
Uma das principais ruas do bairro, a Royal Street recorta todo o French Quarter e será o principal ponto de referência para o nosso passeio a pé. O início da rua foi por muitos anos o centro financeiro de Nova Orleans e por isso concentra antigas sedes de bancos: dê uma olhada no Old Bank of Louisiana (nº 334), de 1826; no Old Bank of the United States (nº 343), de 1800; e no Old Louisiana State Bank (nº 403), de 1821. Curiosamente, os três são pintados de amarelo.
Um pouco mais adiante, um imponente edifício de mármore branco chamará sua atenção: é o Louisiana Supreme Court Building (nº 400), erguido entre 1908 e 1909.
Dica: bem em frente está o restaurante Brennan’s, que serve um dos cafés da manhã mais famosos do pedaço.
Hermann-Grima House
Vire à esquerda na St Louis Street e ande por um quarteirão e meio até chegar à Hermann-Grima House (nº 820). Além de ser um dos exemplos de arquitetura de estilo federal mais bem preservados do French Quarter, a casa construída em 1831 chama a atenção por ter uma senzala em seu interior. Por isso, os tours realizados ali focam em como viviam as pessoas que foram escravizadas no ambiente urbano de Nova Orleans.
Dica: na St Louis Street também fica o restaurante Antoine’s, um dos mais antigos da cidade e inventor das icônicas ostras Rockefeller. Para uma refeição mais despretensiosa, há também o Johnny’s Po-Boys, especialista nos sanduíches na baguete recheados com camarão empanado.
Casas históricas
De volta à Royal Street, redobre a atenção nas fachadas das construções, que vão ficando cada vez mais interessantes. Repare na Maison Seignouret (nº 520), construída por um mercador de vinhos francês em 1816; na Merieult House (nº 533), que é de 1792 e guarda hoje uma coleção de mapas e outros documentos históricos; e na Maison LeMonnier (nº 640), uma construção na esquina com a St Peter Street que em 1811 chamava atenção por ser uma rara construção de três andares.
Dica: volte mais tarde à essa região, especificamente ao nº 726 da St Peter Street, para assistir uma apresentação de jazz no lendário Preservation Hall.
Jackson Square
Vire à direita na St Peter Street e depois à esquerda na Chartres Street para chegar à Jackson Square, o coração do centro histórico. Ali, artistas exibem seus dotes musicais e performáticos, e todo tipo de místicos prometem ler o seu futuro, seja através das cartas, da clarividência ou da leitura da palma da mão – cuidado com os charlatões.
Perto está a Saint Louis Church, uma das igrejas mais antigas do país, cuja construção foi finalizada em 1851. A catedral é ladeada por duas construções históricas que hoje fazem parte do Louisiana State Museum.
O Cabildo, antiga sede do governo espanhol, abriga uma exposição que conta a história dos colonizadores espanhóis, franceses e americanos no estado por meio de artefatos, documentos e pinturas – inclusive um quadro de Madame Laveau, a primeira sacerdotisa vodu da cidade. Já o acervo do The Presbytère, do outro lado, está relacionado ao Mardi Gras, o carnaval de rua de Nova Orleans.
Na viela entre a Saint Louis Church e o Cabildo está a Faulkner House Books, uma livraria instalada na antiga morada de William Faulkner, com parte do mobiliário original. Um dos mais celebrados e importantes escritores americanos e vencedor do Nobel de literatura retratava o sul do país como poucos.
De volta à Jackson Square, é impossível não reparar nos Pontalba Buildings, duas construções gêmeas que se estendem por quase todo o quarteirão. Elas foram erguidas por Micaela Almonester de Pontalba, a filha do homem mais rico na época da colonização espanhola, Don Andres Almonester y Roxas. As obras do primeiro prédio começaram em 1840 e terminaram em 1849, enquanto o segundo foi concluído em 1851.
No andar térreo ficavam lojas e escritórios, enquanto os andares superiores eram apartamentos luxuosos. Para ter uma ideia de como era morar nos Pontalba Buildings na época de sua construção, visite a 1850 House: três andares foram restaurados e decorados com móveis autênticos do período.
The French Market
Vire à esquerda da Decatur Street e ande por cerca de cinco minutos até a esquina com a Ursulines Avenue para chegar ao French Market. Neste grande mercado, você encontra estandes de comida e barracas vendendo todo tipo de souvenir: de quadros do cantor e trompetista Louis Armstrong até camisetas com estampas remetendo à Nova Orleans, passando ainda por muita arte da tradição vodu.
Dica: na Decatur Street, quase em frente à Jackson Square, está o Cafe du Monde, uma instituição local que serve café com chicória e beignets.
Bônus: Piratas, vampiros e assombrações
O French Quarter também é um lugar onde histórias de piratas, vampiros e assombrações se misturam. Há inclusive vários tours em inglês com esse viés, como os do Ghost City Tours. Confesso que embarquei com um certo pé atrás, mas me surpreendi positivamente: ainda que exista um apelo para o sobrenatural, os passeios também trazem muitas informações interessantes.
Minha parada favorita foi na Lafitte’s Blacksmith Shop Bar, na Bourbon Street (nº 941). Uma das estruturas mais antigas de Nova Orleans, a casa teria sido construída nos anos 1770 e pertencido ao pirata Jean Lafitte, que supostamente gerenciava ali um comércio de mercadorias contrabandeadas – ou então uma forja, o que explicaria o nome “blacksmith”, que significa ferreiro.
Algumas pessoas afirmam ver fantasmas no local, inclusive do próprio Lafitte. Outras, veem um rosto no fogo da lareira que fica bem no centro do salão. Fato é que o lugar hoje funciona como um pub dos mais animados – e a música da Taylor Swift tocando nos altos falantes afastou qualquer medo que eu pudesse ter de entrar e pedir uma cerveja no balcão.
Já a relação de Nova Orleans com vampiros começou com uma mansão na Royal Street (nº 1041). Recém-chegado da França em 1902, Jacques St. Germain se mudou para a casa e ali realizava grandes festas para a elite da cidade – apesar de nunca ser visto comendo do seu próprio banquete. Uma noite, uma jovem teria fugido da mansão alegando que St. Germain tentou mordê-la no pescoço. Quando a polícia foi vasculhar os cômodos, teria encontrado garrafas de vinho que, na verdade, estavam cheias de sangue. Jacques teria fugido, mas voltado a ser visto outras vezes ao longo dos anos com a mesma aparência, como se não envelhecesse.
Não à toa, a série The Originals, derivada de Vampire Diaries, se passa em Nova Orleans.
Sinistra mesmo é a história da LaLaurie Mansion, por ser tristemente verossímil. Nesta construção de 1831 da Royal Street (nº 1140) teria vivido Delphine LaLaurie, uma socialite da época envolvida em vários rumores que indicam que ela torturaria pessoas escravizadas.
Aqui, os relatos de assombrações são tão abundantes que a maioria se refere à construção simplesmente como “casa mal-assombrada”. A história teve um papel importante na franquia American Horror Story.
Veja um mapa com todas as atrações mencionadas na reportagem:
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