Lista de Patrimônios da Unesco teve 46 adições (e uma baixa)
Florestas, sítios arqueológicos, parques, afrescos e cidades termais foram contemplados; veja alguns destaques
A lista de Patrimônios Mundiais da Unesco em 2021 teve um acréscimo de 46 lugares: 5 pelos seus atributos naturais, 30 pelo valor cultural e 11 por uma candidatura conjunta que reconheceu as grandes cidades termais da Europa. As adições foram feitas durante a 44ª sessão do Comitê de Patrimônios Mundiais, que aconteceu online e presencialmente em Fuzhou, na China, entre os dias 16 e 31 de julho. Veja alguns locais que foram contemplados com o título:
Atributos naturais
Complexo Florestal de Kaeng Krachan – Tailândia: O complexo florestal fica no cruzamento dos biomas do Himalaia, da Indochina e de Sumatra, mas também é especial por abrigar plantas ameaçadas de extinção, uma considerável diversidade de pássaros e animais característicos da região, como o elefante asiático, a tartaruga-gigante asiática, o tigre e o leopardo.
Valor cultural
Área Cultural Himã – Arábia Saudita: Várias inscrições e pinturas rupestres foram deixadas pelas caravanas que atravessaram a Península Arábica ao longo de sete mil anos. A maioria desses desenhos representa cenas de caça e estão em perfeitas condições de preservação, segundo a Unesco. Durante sua passagem, esses antigos viajantes também deixaram para trás ferramentas de pedra que continuam sendo encontradas por arqueólogos, além de poços artesianos de três mil anos onde ainda é possível encontrar água doce.
Sítio Roberto Burle Marx – Brasil: O Brasil conquistou o seu 23º Patrimônio Mundial. Localizado em Barra de Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro, o sítio que foi adquirido por Roberto Burle Marx em 1949 possui 407 mil m² de área florestal e abriga mais de 3,5 mil espécies de plantas tropicais e subtropicais.Além dos jardins, sete edifícios e seis lagos fazem parque do espaço, onde os visitantes podem conferir um museu com peças de arte pré-colombiana, sacra e brasileira, incluindo algumas obras do próprio Burle Marx.
Quanzhou – China: A onze horas de carro de Xangai, Quanzhou prosperou com o comércio marítimo durante as dinastias Song e Yuan. A cidade preserva ruínas de docas, pagodes, templos, estradas e edifícios da época, além de uma das primeiras construções islâmicas do país, a Mesquita Qinjing.
Paseo del Prado e Parque El Retiro de Madrid – Espanha: A ampla avenida arborizada do Paseo del Prato e os 125 hectares do Parque El Retiro, que já eram atrações de peso em Madrid, foram incluídas na lista de Patrimônios Mundiais da Unesco por representarem um “espaço de natureza urbana” criado no século 16 para proveito de todos os cidadãos, sem distinção de classes sociais. A entidade também destacou que os dois lugares incorporavam uma nova ideia de espaço urbano, que nasceu do sonho de uma sociedade utópica durante o auge do Império Espanhol.
Farol de Cordouan – França: O Farol de Cordouan foi considerado uma obra-prima da sinalização marítima pela Unesco. Apesar de ter sido construído na virada dos séculos 16 e 17, ele foi projetado para remeter aos antigos faróis da antiguidade. Por isso, foi feito com blocos revestidos de calcário branco e decorado com colunas e gárgulas. Hoje, ele é o mais antigo farol francês ainda em funcionamento e recebe o apelido de “Versalhes do Mar”. Para visitá-lo, é preciso fazer um passeio de barco saindo das cidades de Royan ou Le Verdon-sur-Mer, na Nova Aquitânia.
Nice – França: Apesar de ser a porta de entrada da ensolarada Riviera Francesa, Nice foi eleita Patrimônio Mundial pelo seu turismo de inverno. A Unesco justificou que, como as temperaturas amenas começaram atrair membros da aristocracia já no século 18, a cidade foi crescendo dentro de um planejamento urbano que a manteve sempre bela aos olhos dos franceses e estrangeiros, especialmente ingleses e russos. Isso, segundo a entidade, fez de Nice um “resort de inverno cosmopolita”.
Linhas de Defesa Holandesas – Holanda: As Linhas de Defesa Holandesas foram construídas entre 1814 e 1940 para impedir a entrada de invasores por meio da inundação controlada de algumas áreas. Elas consistem em um sistema de abastecimento de água e mais de mil fortificações, sistemas hidráulicos, canais e eclusas entre Fort Steurgat e Fort Naarden. Esse último, inclusive, é um dos exemplos mais bonitos do inusitado sistema de defesa militar, com formato de estrela.
Templo Ramappa – Índia: O templo dedicado à Shiva começou a ser construído em 1213 e só foi concluído 40 anos depois. A estrutura principal é de arenito avermelhado, mas as colunas no interior da construção são de basalto negro e foram esculpidas com desenhos de animais míticos, dançarinos e músicos – peças que a Unesco considerou como sendo de alta qualidade artística. Fica a mais de 16 horas de carro de Mumbai.
Afrescos de Pádua – Itália: Oito edifícios religiosos dentro da cidade murada de Pádua, a menos de uma hora de Veneza, abrigam uma coleção de afrescos pintados entre 1302 e 1397 que, para a Unesco, representam o início de uma evolução na pintura mural. Os mais famosos são os da Capella degli Scrovegni, que retratam cenas do Velho e Novo Testamento e foram produzidos por Giotto, um dos pais do Renascimento italiano.
Pórticos de Bolonha – Itália: Dizem os italianos que é possível caminhar por Bolonha inteira em um dia de chuva sem nunca se molhar. De fato, 62 quilômetros do centro da cidade são cobertos por pórticos – alguns de madeira, uns de tijolos e outros de concreto. Os mais antigos são do século 12, época em que serviam como abrigo para comerciantes e artesãos trabalharem na rua.
Complexo Arqueológico de Arslantepe – Turquia: Evidências arqueológicas indicam que essa antiga cidade, a mais ou menos cinco horas de carro da Capadócia, já era habitada muito antes da Idade do Bronze e desenvolveu uma organização burocrática quando a escrita sequer tinha sido inventada. Também foram encontradas no sítio arqueológico as espadas mais antigas do mundo, o que sugere que naquela sociedade já havia formas de combate organizado. Ainda é possível, durante uma visita às ruínas, admirar pinturas nas paredes e desenhos esculpidos nas rochas.
Grandes cidades termais da Europa
A Unesco também reconheceu como Patrimônio Mundial um conjunto de onze destinos termais da Europa, que ficam espalhados em sete países diferentes. São eles: Baden bei Wien (Áustria), Spa (Bélgica), Franti Kovy Lázn, Karlovy Vary e Mariánske Lázn (República Tcheca), Vichy (França), Bad Ems e Baden-Baden (Alemanha), Montecatini Terme (Itália) e Bath (Reino Unido). Todos se desenvolveram em torno de nascentes naturais e são um testemunho de que a prática de se banhar em águas com propriedades medicinais existe pelo menos desde o século 18.
Liverpool deixou de fazer parte da lista de Patrimônios Mundiais da Unesco
O centro histórico e as docas vitorianas de Liverpool, na Inglaterra, foram colocadas na lista de Patrimônios Mundiais da Unesco em 2004 por representarem o desenvolvimento do comércio mundial nos séculos XVIII e XIX. De lá para cá, no entanto, grandes incorporadoras tomaram conta da orla da cidade e começaram a construir edifícios comerciais modernos – que, segundo o comitê responsável, prejudicam a autenticidade e a integridade do lugar. Como forma de alerta, a Unesco inseriu a porção histórica de Liverpool na lista de Patrimônios Mundiais em Perigo em 2012.
Passados quase dez anos, a entidade considerou que a situação continua a mesma (há planos inclusive para a construção de um estádio de futebol no valor de £ 500 milhões) e decidiu remover definitivamente o título concedido à cidade inglesa. As autoridades de Liverpool ainda podem contestar a decisão. O prefeito Steve Rotheram expressou o seu descontentamento ao jornal britânico The Guardian, alegando que a decisão foi “tomada do outro lado do mundo por pessoas que parecem não entender o renascimento que ocorreu nos últimos anos”.
Em toda a história, apenas outros dois lugares perderam o status de Patrimônios Mundiais da Unesco. O Santuário do Órix da Arábia, no Omã, saiu da lista em 2007, depois que o número desses animais caiu vertiginosamente e o governo reduziu o tamanho da área de proteção em 90%. Já o Vale do Rio Elba em Dresden, na Alemanha, teve o título removido em 2009 por causa da construção de uma ponte que corta a região.
Veneza também estava correndo o o risco de perder o seu status de Patrimônio Mundial da Unesco, que detém desde 1987. A entidade internacional vinha ameaçando colocar a cidade italiana na lista de patrimônios em risco devido à erosão causada pela circulação constante dos navios de cruzeiros na Lagoa de Veneza. O governo da Itália conseguiu impedir que isso acontecesse por pouco, ao determinar que, a partir do dia 1º de agosto, as grandes embarcações estarão proibidas de adentrar o centro histórico da cidade. Veja a lista completa de Patrimônios Mundiais em Perigo aqui.