Ao mesmo tempo que um saxofone passa por cima da minha cabeça, dou dois passos para trás para deixar passar na minha frente um gigantesco contrabaixo. Mal tive tempo de retornar à posição original, minhas costas são atingidas pelo que descobri ser as diferentes partes que compõem uma bateria, abrindo caminho atrás de mim. Excuse me, diz o músico, mais pedindo desculpas do que licença.
Espremida entre a porta de entrada e o palco do The Spotted Cat, eu sou apresentada (ou seria esmagada?) aos instrumentos do jazz. São exatamente dez horas da noite e a banda que até então tocava clássicos do jazz está cedendo o lugar para a próxima atração da noite, a Big Fun Entertainment, o que exige um confuso vai-e-vem de maletas, cabos e instrumentos.
Os músicos jovens da Big Fun Entertainment chegam de mansinho, mas em questão de minutos colocam todo mundo para dançar com versões de jazz de hits de outros estilos musicais. O meu favorito foi Smells Like Teen Spirit do Nirvana, que ficou sensacional no trompete e no trombone e fez a galera tirar o pé do chão.
Acertei em cheio escolhendo o Spotted Cat, mas existem muitos outros estabelecimentos consagrados na Frenchmen Street, o melhor lugar de Nova Orleans para ouvir jazz.
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A rua fica na região de Faubourg Marigny, que é vizinha do famoso French Quarter. O burburinho está principalmente no quarteirão entre a Royal Street e a Chartres Street e no que fica entre a Chartres Street e a Decatur Street. A dica é espiar o que está rolando em cada bar antes de escolher em qual você deseja ficar, já que a maioria hoje cobra uma taxa de entrada – o valor depende da atração da noite.
Com alguns poucos assentos em torno do bar, o pequenino Spotted Cat é um lugar para ouvir jazz de pé. O mesmo vale para o D.B.A, que recebe com certa frequência a banda tradicional e local Treme Brass Band.
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Já o Snug Harbor possui mesas em frente ao palco e em um mezanino, o que garante uma experiência mais intimista, além de funcionar também como bistrô. O animado Blue Nile, por sua vez, tem jeito de baladinha, especialmente aos finais de semana, e atrai um público mais jovem.
Uma coisa, porém, é certa: não dá para sair da Frenchmen Street decepcionado.
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Compras na Frenchmen StreetA Frenchmen Street também pode render boas compras. No número 421 está a Louisana Music Factory, tida como a melhor loja de discos da cidade. Mas atenção: ela fecha às 18h. Já no número 619 acontece a feira de artesanato noturna Frenchmen Art Bazaar, que rola até meia-noite. Há muitos bons achados: fiquei babando nos pôsters, um mais lindo que o outro. |
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E a Bourbon Street?
A Bourbon Street já não é mais sinônimo de jazz em Nova Orleans. Hoje, a rua é reduto de bares cheios de neon e clubes de striptease, alguns caidões. A multidão é composta principalmente por despedidas de solteiro e jovens que acabaram de completar 21 anos (a idade legal para beber no país).
Para quem gosta desse tipo de badalação, a tradição manda começar pelo Tropical Isle. A cadeia de bares é responsável pelo drink mais famoso da cidade: a hand grenade (granada de mão, em tradução direta). Feita com gin, licor de melão, rum e vodka, a bebida é entregue numa taça gigantesca, com o formato do acessório que a batiza, e desce doce e suave. O próprio bar avisa: com mais de duas ou três hand grenades, você pode descobrir que sabe dançar muito melhor do que imaginava.
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Mas, em meio a esse cenário, a Bourbon Street ainda é endereço de duas importantes moradas do jazz. A primeira é o Jazz Playouse, que apresenta novos e veteranos talentos dentro do Royal Sonesta Hotel, no número 300.
A segunda é o Preservation Hall, no número 726 da St. Peter Street – quase esquina com a Bourbon. Com sete décadas de vida, a banda residente toca jazz do início do século 20 todas as noites, geralmente às 17h, 18h15, 19h30 e 20h45. É uma viagem aos primórdios do jazz que vale cada centavo: contei em detalhes como foi a minha experiência nesta outra matéria.
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New Orleans Jazz & Heritage FestivalPara os aficionados, a época ideal para aterrissar na cidade é no fim de abril e início de maio, quando acontece o New Orleans Jazz & Heritage Festival, que desde os anos 1970 reúne medalhões e revelações do jazz, blues, R&B e uma infinidade de vertentes. |
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