Guatemala: as paisagens e o sincretismo às margens do lago Atitlán
Cultura dos povos originários maias se misturou com elementos católicos trazidos pelos espanhóis à beira do lago mais profundo da América Central

No alto da Sierra Madre, na Guatemala, o lago Atitlán é considerado por muitos um dos mais belos do mundo. Se esse título é bastante subjetivo, há outro que ninguém pode negar: com profundidade que chega a atingir a marca dos 340 metros abaixo da linha da água, trata-se do lago mais profundo da América Central.
Além da curiosidade geográfica, o Atitlán também é um lugar de importância para os ecossistemas da região, de relevância para a cultura das comunidades maias que ainda vivem no seu entorno, e de grande interesse turístico – ao lado dos famosos vulcões do país e das ruínas de Tikal, ele é considerado um dos cartões-postais da Guatemala.
A casa sagrada do Maximón
Embora nunca tenha sido incluído no Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, o lago já apareceu em várias pré-listas analisadas pela entidade. Não é à toa que o país insiste no reconhecimento: quem visita a área se depara com uma mescla única de culturas, em que visões de mundo tradicionais das comunidades maias passaram por sincretismos com a cultura trazida durante a invasão espanhola, constituindo tradições próprias às margens do lago sagrado.

Talvez a maior demonstração desse encontro cultural seja representada pelo Rilaj Maam (mais conhecido como Maximón ou San Simón), uma mescla de crenças pré-colombianas, lendas do período da colonização e imagens associadas a santos católicos para criar uma espécie de divindade protetora dos povos ao redor de Atitlán. Maximón é uma figura folclórica representada como “santo” que bebe bastante, corre atrás de um rabo de saia e fuma muito. Imagens associadas a ele circulam em procissões da Semana Santa, especialmente na cidade de Santiago Atitlán.
Como visitar o Atitlán
O lago é rodeado por cidades de pequeno porte, cada uma oferecendo sua própria faceta da riqueza cultural da região. Todas são acessadas a uma curta viagem pela Carretera Pan-Americana a partir da Cidade da Guatemala – em geral, os destinos mais interessantes ficam entre 100 e 150 km da capital, dependendo do ponto do lago em que você deseja ficar.
Em termos de infraestrutura turística, há dois destinos mais concorridos: Santiago Atitlán, famosa pelo culto ao Maximón e a maior cidade banhada pelo lago, com 45 mil habitantes; e Panajachel, que, embora seja bem menor (cerca de 15 mil moradores), tornou-se um destino consagrado entre os visitantes estrangeiros que procuram o lago, se tronando uma espécie de porta de entrada para a região por ser uma das primeiras paradas para quem chega da capital.

Luta pela preservação
Apesar de ter uma importância cultural e ecológica para a região, o Atitlán convive há décadas com alterações no seu ecossistema – ainda nos anos 1950 veio o primeiro grande baque, quando uma malfadada tentativa de introduzir a pesca comercial trouxe espécies exóticas que dizimaram os peixes nativos e as aves que deles se alimentavam.
Mais tarde, a poluição tornou-se a grande ameaça, especialmente após um furacão acabar com a infraestrutura de saneamento básico das comunidades vizinhas em 2005. Em 2009, o Fórum Mundial da Água chegou a declarar o Atitlán como o lago mais ameaçado do mundo na época. Projetos de conscientização e de manejo dos resíduos têm sido implementados na área buscando preservar o ambiente, e atualmente vários grupos comunitários trabalham na coleta e reciclagem do lixo recolhido nas águas e margens do lago.
A autoridade responsável pelo manejo sustentável do lago, que se consolidou em 2012, disponibiliza uma página online onde moradores e turistas podem fazer denúncias de violações ambientais testemunhadas na área.