Eslovênia: história, passeios, atrações, hotéis e mais
Florestas, montanhas, vilas medievais, lagos. A Eslovênia é minúscula, mas tem beleza digna de todo um continente
Se algum dia um esloveno lhe disser “Greva na vino!”, tenha certeza: esse convite é pessoal e intransferível. A língua eslovena é uma das raríssimas do mundo a distinguir o “nós” de duas pessoas do “nós” de três ou mais – vale para coisas também. Quando se visita o país, entende-se a resistência desse modo dual, característica tão antiga dos idiomas indo-europeus.
Apelidada de “Europa em Miniatura”, a Eslovênia é toda ela um cenário de conto de fadas, perfeita para uma viagem a dois. Ali onde os Alpes encontram o Mediterrâneo e a Europa Central vê os Bálcãs, 2 milhões de habitantes se espalham por uma área menor que a do estado brasileiro de Sergipe. E todo esse território é propício ao turismo, com a vantagem de a Eslovênia ainda ser bem menos explorada do que a vizinha Croácia.
Confundir a Eslovênia com a Eslováquia, como George Bush fez em 1999, só não é mais comum do que não ter nenhuma ideia sobre o país. Breve histórico: por séculos, a Eslovênia pertenceu ao Império Austro-Húngaro, dissolvido no começo do século 20. Após a Segunda Guerra, integrou a Iugoslávia e, junto com Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Croácia etc., esteve sob as asas do velho Marechal Tito. A autonomia veio após um referendo, em 1991. Em 2007, o país adotou o euro como sua moeda.
Com tanta natureza, eslovenos e turistas têm muitas razões para aproveitar o país ao ar livre. Incomuns na Europa, as florestas são literalmente mato no pequeno país: ocupam mais da metade dele. São 10 mil quilômetros de trilhas demarcadas por dentro das florestas, em planícies, vales e picos de montanhas, muitas montanhas! Principalmente no norte do país. Só nos Alpes Julianos há uma centena delas com mais de 2 mil metros de altitude. O pico mais alto do país é o Triglav, com 2 864 metros, no Parque Nacional do Triglav, próximo às fronteiras com a Itália e a Áustria.
Um programa comum dos eslovenos é subir e descer os tais 2 864 metros do Triglav, atividade que leva pelo menos 12 horas. Lá, passam o dia, podendo até mesmo pernoitar em casas de montanha, bem mais confortáveis do que aqueles abrigos rústicos dos parques nacionais brasileiros. Um ditado diz que todo esloveno precisa subir o Triglav pelo menos uma vez na vida – e, aqui, quem sobe a segunda não é tolo, como no provérbio japonês relativo ao Monte Fuji. É pelo menos sarado, pois é preciso preparo físico, coisa que os eslovenos parecem adquirir desde cedo. É comum ver mamães e papais subindo a montanha com os futuros trilheiros, seus bebês, nas costas, em uma mochila adaptada.
A capital da Eslovênia, Liubliana, é um charme, viva e bela. Fundada no ano 1º a.C., no tempo da dominação romana, tem um belo castelo medieval do século 15 e casario e monumentos de arquitetura destacada ao longo do Rio Liublianica, que corta a cidade. A vida agitada ocorre ali no Centro, em bares, cafés, restaurantes, docerias, galerias de arte.
É possível passear a pé ou de bicicleta. A prefeitura mantém um sistema gratuito de bikes e, melhor ainda, uma rede de ciclovias de 145 quilômetros. Para ser mais exata, preciso dizer que só é possível passear no Centro Histórico a pé e de bicicleta, pois a circulação de carros é proibida.
No verão, Liubliana é ainda mais a Europa em Miniatura, com concertos tomando conta das ruas, gente bebendo nas mesinhas dos bares nas calçadas, o sol teimando em se pôr. Uma boa companhia nessa hora é a cerveja La”ko, ou até mesmo a artesanal Human Fish, que é servida no bar Tozd, cuja marca registrada são as bicicletas penduradas na parede.
Liubliana também tem museus legais. O Museu de Arte Contemporânea exibe obras de artistas que buscam fazer um diálogo entre a Europa Ocidental e o Leste, como a performer Marina Abromovic. Ali ao lado está Metelkova, um bairro alternativo, antigo quartel militar que se tornou squat (invasão) em 1993. No Metelkova estão os bares e discotecas onde as leis são mais flexíveis e os odores de Amsterdã estão no ar. O hostel Celica usa as velhas celas da prisão militar como quartos para os hóspedes.
De volta à rua, impossível não perceber as pontes da cidade. Como a Tromostovje, do arquiteto Jože Plečnik. na verdade um conjunto de três pontes sobre o Liublianica. Ela leva à Praça Prešernov, onde fica a bonita Igreja da Assunção, barroca, vistosamente vermelha e da ordem franciscana.
Outra ponte para “ornar” na foto é a do Dragão, com suas quatro esculturas de bronze que representam, claro, dragões. Pode até dar um medinho para quem passa por ali, sozinho, alta noite. Mas em Liubliana essa é possivelmente a experiência mais assustadora que o turista pode enfrentar. A cidade é muito tranquila, e seus moradores são pacíficos. Não deixe o Centro sem uma passada para um docinho e um café no delicado Lolita ou no Zvezda, na Praça do Congresso.
Saindo de Liubliana, Kranj, a 30 quilômetros, é uma cidade devotada ao mais famoso poeta esloveno, France Prešeren, que passou seus últimos anos de vida ali. A data de sua morte, 8 de fevereiro de 1849, foi declarada Dia da Cultura e feriado nacional. Todo 8 de fevereiro Kranj revive o século 19 nas roupas, na música e na gastronomia, área em que desponta a famosa e tradicionalíssima linguiça local.
Não muito longe fica Cerkno, vilarejo de 5 mil habitantes famoso por seu pitoresco Carnaval em que os foliões usam máscaras de madeira que simbolizam fraquezas humanas e classes sociais. O lugar tem estação de esqui com 18 quilômetros de pistas e, para os que gostam da história da Segunda Guerra, ostenta o Hospital Franja, todo de madeira, que foi construído secretamente entre 1943 e 1945 para cuidar dos soldados partisanos feridos em combate. Na primavera, a cidade sedia um concorrido festival de jazz.
A Eslovênia tem muita água: rios, lagos, fontes termais e um pedacinho de Mar Adriático. É uma delícia passar um dia de verão ao redor do Lago Bohinj, no Parque Nacional do Triglav. O lago é um dos mais espetaculares da Europa. De origem glacial, sua água é sempre muito fria. Viva essa experiência: passar uma manhã pedalando entre florestas e vilarejos e dar súbito com o lago à sua frente. Se for um dia de sol quente, como costumam ser os dias a partir de junho e até setembro, um pulo no lago é recomendável.
Depois, faça como os eslovenos e se esparrame pela grama com vista para uma das maravilhas do país. No rumo da Itália, o Vale do Rio Soca também merece muito ser visitado. Dominado por picos alpinos e pelo rio verde-esmeralda, considerado o mais cristalino da Europa, o lugar é um dos mais bonitos do mundo. A região também tem história. Ali ocorreram batalhas da Primeira Guerra Mundial, e registros dela podem ser conhecidos no Museu de Kobarid.
Com seus exíguos 46 quilômetros de litoral, não dá para dizer que a Eslovênia seja um país “al mare”. Mas a medieval Piran, cuja antiga cidadela ainda tem 200 metros preservados, pode compensar a parcimônia costeira com suas ruas estreitas, suas casinhas coladas umas às outras, suas roupas penduradas em varais do lado de fora e seus restaurantes que servem massa e um bom café expresso. Tudo faz com que nos sintamos do outro lado do Adriático. Para coroar, em Piran também dá para falar italiano, que lá tem status de língua oficial – a italiana Trieste, pudera, está bem mais próxima dali do que Liubliana.
No norte do país, Bled é uma das cidades mais visitadas da Eslovênia. Não se sabe direito se por causa do castelo medieval no topo de uma de suas colinas ou em razão da igrejinha fincada numa ilhota no meio de um lago. Ao vislumbrá-la, as mulheres costumam ficar loucas de vontade de se casar ali. A lenda local reza que o sucesso do “enlace” depende de um ato singelo: que o noivo carregue a noiva pelos 99 degraus da escadaria.
No verão, banhistas nadam pelo lago até a ilhota para ser recompensados, na volta, com uma fatia de kremšnita – bolo feito com massa folhada e creme de baunilha, receita dos anos 1950.
E, já que esta viagem começou com a frase sobre o vinho, voltemos a ele. A Eslovênia também tem sua própria Toscana (e, em uma licença poética, seus próprios vinhos supereslovenos). Para conhecer a região vinícola, vá a Goriška Brda (120 quilômetros a oeste de Liubliana), onde são produzidos os tintos merlot e cabernet sauvignon, além das uvas brancas beli pinot e rebula. O cenário é aquele mesmo: estradinhas sinuosas com as caves no caminho.
Em novembro, é recomendado uma chegada na vila medieval de Šmartno, onde os produtores locais apresentam suas safras num festival. Como curiosidade, Maribor, a segunda maior cidade eslovena, tem a videira mais antiga do mundo, com quatro séculos de produção contínua. Maribor fica do outro lado do país, mas, sendo esse país a Eslovênia, o esforço de deslocamento é sempre pequeno, e a recompensa, enorme.
Guia VT
FICAR
Em Liubliana, considere ficar nos charmosos apartamentos do Meščanka, de frente para o Liublianica. Também nas margens do rio, a Galeria River (Breg 22), uma mansão tombada pelo patrimônio histórico, hospeda em suítes modernas. Mais luxuoso, o Antiq Palace abriga 13 apartamentos com cozinha, sala e decoração clássica. O Hostel Celica ocupa uma antiga prisão militar e tem ótimo custo/benefício. Em Bohinj, na entrada do Parque Nacional Triglav, vale ficar com toda a família no resort Eco Hotel. Em Kranj, o estiloso hostel Cukrarna tem dormitórios e quartos de casal. Na região de Goriška Brda, a Fazenda Klinec serve uma comida caseira deliciosa; em Bled, o Grand Hotel Toplice tem vista para o lago e o castelo.
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COMER
Em Liubliana, o Güjžina (Mestni, 19) serve pratos típicos, como o bujta repa (um refogado de nabo com carne). O Julija tem rolinhos de queijo de ovelha, e o Bar Tozd (Galusovo Nabrežje, 27) é famoso pela carta de cervejas. No Centro, pare para um café no charmoso Lolita (Cankarjevo Nabrežje, 1) e prove uma das 40 tortas doces do Zvezda. Por fim, não deixe de experimentar os kebabs do Nobel Burek, um quiosque 24 horas (Miklošiceva, 30).
Em Kranj, o Das ist Walter (Cesta 1 maja 1A) serve o ćevapčići, um típico rolinho de carne. O Pri Hrvatu (Srednja Vas, 76), no vilarejo de Srednja Vas, perto do Lago Bohinj, tem um menu de carnes selvagens, como javali. Em Piran, o Pri Mari (Dantejeva Ulica 17) mistura pratos mediterrâneos com eslovenos. Prove as massas.
PASSEAR
O Castelo é a grande atração de Liubliana. Não perca também o Museu de Arte Contemporânea e o Metelkova Mesto, centro de grafite e arte alternativa. No fim da tarde a boa é fazer um piquenique no Tivoli Park. Nas proximidades de Kranj, visite o Brdo, parque em que está a antiga mansão de veraneio do Marechal Tito, líder da ex-Iugoslávia unificada. No caminho para o litoral de Liubliana, pare na famosa caverna de Postojna.
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