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Embalse el Yeso: paisagem linda e perigosa no Chile é fechada

O lugar se tornou sem querer uma atração turística onde duas brasileiras morreram em 2019

Por Fernando Victorino
Atualizado em 2 jul 2022, 14h14 - Publicado em 3 jun 2022, 21h32

Atração muito buscada por brasileiros em visita ao Chile, a instagramável Embalse el Yeso ficará fechada ao público pelo menos até outubro, informou o Serviço Nacional de Turismo (Sernatur) do Chile. O gerente de Turismo do município de San José de Maipo, Adrián Tapia, explica que, desde 2018, o acesso para Embalse el Yeso costuma ser interrompido no fim de abril devido à instabilidade do terreno provocada por fatores climáticos. “A reabertura depende das condições, mas normalmente ocorre no fim de setembro. Por conta de nevascas tardias, em 2021 o acesso só pôde ser reaberto em meados de novembro”, conta. 

Localizado na região de Cajón del Maipo, a cerca de 100 quilômetros de Santiago, Embalse el Yeso é o principal reservatório de água potável da área metropolitana da capital e acabou involuntariamente ganhando status de atração turística.

Entre 2014 e 2019, muitas pessoas, principalmente brasileiros, queriam visitar um destino de neve, mas não para esquiar, apenas para ver a neve, explica Francisco Díaz, proprietário da Turiscoop, empresa especializada em turismo em Cajón del Maipo. “Como os centros de esqui são caros, as agências começaram a levar pessoas a Cajón del Maipo porque é mais barato”, diz.

Embalse el Yeso é um dos atrativos da região e logo caiu na preferência de chilenos e turistas estrangeiros, a maioria deles interessados em fazer fotos da paisagem natural e postá-las nas redes sociais. As montanhas ao redor do reservatório, com neve só no topo ou inteiramente cobertas de branco, compõem um lindo cenário com o tom esverdeado da água.

O lugar, contudo, não é preparado para receber visitantes e não são poucos os relatos de turistas que denunciaram a falta de infraestrutura, ainda que uma quantidade igual de gente não poupe elogios ao cenário.

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O fluxo intenso de veículos e pessoas, especialmente nos fins de semana, virou  motivo de preocupação para as autoridades locais. Em 2018, uma resolução assinada pela governadora da Província de Cordillera vetou a circulação de carros em trechos não pavimentados da estreita estrada que leva a Embalse el Yeso (Rota G-455), considerados de alto risco. O decreto foi publicado no Diário Oficial e o documento encontra-se disponível para consulta na biblioteca do Congresso Nacional do Chile. A decisão, contudo, não impediu uma tragédia. 

Em junho de 2019, duas meninas brasileiras, de 7 e 3 anos, morreram após serem atingidas por pedras que se desprenderam da montanha. “Naquele momento não estava proibido o acesso de pedestres, havia apenas a barreira proibindo os carros, então era possível subir caminhando”, lembra Díaz, para quem Embalse se converteu em uma atração turística justamente pela falta de segurança e de controle. Três meses depois do acidente, uma nova resolução do governo da província determinou também que os pedestres fossem proibidos de circular pela estrada. 

O inverno é especialmente complicado para a visitação da região, afirma Ivo Briones, vice-presidente da Câmara de Turismo de Cajón del Maipo. “Embalse el Yeso está localizado no meio da Cordilheira dos Andes, em uma área que sofre deslizamentos em determinadas épocas do ano devido às suas características naturais e ambientais”, diz.

Em 7 de janeiro de 2020, o governo da Província de Cordillera revogou a determinação do ano anterior, voltando a permitir a circulação de carros pela Rota G-455, porém mantendo a proibição ao deslocamento de pedestres entre os quilômetros 21,7 e 30,2. A informação foi divulgada na conta oficial do município de San José de Maipo no Twitter. Em anexo à postagem, há duas páginas da resolução do governo, incluindo todos os pontos exatos da estrada onde foram instaladas 26 placas de sinalização para o risco de acidentes.

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Para o turista que pretende visitar o Chile, Díaz, que também é diretor da Câmara de Turismo de Cajón del Maipo, menciona dois aspectos a serem observados na hora de contratar passeios. “Consulte o número de registro da agência no Serviço Nacional de Turismo (Sernatur). E se o preço do tour for muito barato é porque você vai dividir o veículo com outras pessoas e não haverá um guia que o acompanhe.”

Em suma, a região de Cajón del Maipo não é muito indicada no inverno por não haver a mesma estrutura de outros centros de esqui. Ainda que oficialmente o acesso esteja proibido, algumas agências ignoram a determinação e continuam vendendo o passeio. Se o que você busca são paisagens no estilo de Embalse, pegue o rumo de Portillo, que fica do lado oposto e tem infraestrutura muito mais adequada para receber.

Veja um guia das estações de esqui do Chile e da Argentina.

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