Roteiros pela Europa que contemplem Amsterdã, onde eu já havia ficado 3 dias, e Paris, onde eu ainda ficaria outros 3 fias, pedem um pit-stop em Bruxelas – são pouco mais de duas horas de trem que a separam de Amsterdã. De todo modo, é importante não subestimar a capital belga – já digo que acho injusto a fama que corre de que seria uma cidade “monótona” – e acabar ficando pouco tempo por lá. Eu cometi esse erro. Indico pegar o trem bem cedinho na Amsterdam Centraal Station (passagens podem ser compradas pelo site da NS International) e garantir pelo menos dois dias inteiros em Bruxelas, tempo mínimo para conseguir realmente se apaixonar pela cidade.
Dia 1
Uma vez lá, a porta de entrada perfeita não podia ser outra que não a magnífica Grand Place, certamente uma das praças mais bonitas do mundo, toda cercada por prédios adornados em ouro; além da Prefeitura em estilo gótico. Ainda mais mágico é ver a praça à noite, quando as fachadas são primorosamente iluminadas – sim, é um lugar para visitar ao menos duas vezes.
Dali, é muito fácil desbravar Bruxelas à pé e impossível não esbarrar, a cada esquina, com algumas chocolaterias que esbanjam toda sorte de trufas, pralinés, frutas cobertas de ganache… Se não quiser esperar para começar a degustação, a Rue au Beurre, à esquerda da Grand Place, tem franquias das reconhecidas Neuhaus e Leonidas, bem como exemplares menores, como a Elizabeth e a La Belgique Gourmande.
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Em poucos minutos, se chega à Royal Galleries Saint-Hubert, um histórico conjunto comercial que bem poderia se passar por um palácio, com sua abóbada de vidro, luminárias douradas e paredes adornadas de esculturas. Frequentada por gente como o pintor surrealista René Magritte e o escritor Victor Hugo, em seus quase 180 anos a Royal Galleries guarda cafés, uma loja da aclamada chocolateria Godiva, boutiques, teatro e também apartamentos residenciais.
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Ainda nos arredores da Grand Place, na esquina entre a Rue de l’Etuve e a Rue du Chêne, outro personagem bruxelloise icônico é o pequenino Manneken Pis, urinando a céu aberto. Ninguém sabe ao certo a história da estátua – alguns acreditam que ela representa uma criança que teria salvado a cidade ao apagar o pavio de uma bomba –, mas fato é que ela existe há 400 anos (a que está na rua é uma cópia, a original fica no Musée de la Ville Bruxelles). Mais ou menos uma vez por semana o menino é fantasiado: são mais de 1.000 figurinos, entre roupas nacionais, uniformes esportivos e trajes de personagens como Elvis, Mandela e Drácula – eu, que estava lá no dia de Natal, o vi vestido de Papai Noel. Um calendário das trocas é disponibilizado online uma vez por mês, mas caso você não dê sorte, as roupinhas também ficam expostas no vizinho GardeRobe Manneken Pis.
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Mas Manneken não é o único a urinar pelas ruas de Bruxelas: há duas outras estátuas espalhadas pelo centro, uma da menina Jeanneke Pis, guardada atrás de grades no Impasse de la Fidélité, e outra do simpático cachorrinho Zinneke Pis, na Rue des Chartreux. Do lado da Jeanneke, o Delirium Café, da famosa marca de cerveja, tem mais de 2.000 rótulos à venda, recorde mundial no Guinness.
Dia 2
Casa de Tintin e dos Smurfs, a Bélgica tem as histórias em quadrinhos em seu DNA artístico. Desde os anos 1990, Bruxelas homenageia personagens e desenhistas em grafites nos muros do centro e do bairro Laeken, que podem ser buscados um a um nas Comic Book Routes. Um dos mais famosos, claro, é o do repórter Tintin e seu amigo Capitão Haddock, crias do cartunista Hergé, que enfeita uma parede na Rue de l’Etuve, a poucos passos do Manneken Pis. Mas vale passar também por outros lindos exemplares, como o do detetive Ric Hochet, na Rue des Bogards, e do espião Victor Sackville, na Rue du Marché au Charbon Kolenmarkt. Ainda é possível mergulhar na história do formato, seus estilos e grandes hits no Comic Strip Center.
Com mais tempo, também dá para chegar até o diferentão Atomium, um símbolo belga que leva a forma de um átomo de Ferro ampliado em 165 bilhões de vezes. Caso não dê para sair do centro, também vale a visita ao Mont des Arts, belo jardim que forma uma transição natural entre as partes alta e baixa da cidade, cercado por centros culturais de peso, como o Museu Magritte e o Museu Real de Belas Artes (foto abaixo). Ou então, descobrir outra das praças arrebatadoras de Bruxelas, como a Petit Sablon, um oásis verde recheado de estátuas dos maiores humanistas da Bélgica, e também seu eixo vizinho, a Grand Sablon, pontuada de chocolaterias e antiquários (há uma feira de antiguidades ali aos fins de semana).
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Dia 3
Tome um dia também para visitar a pequenina e encantadora Bruges, cidadela medieval que, por ter sido erguida sobre canais, ficou conhecida como a ‘Veneza do Norte’. Para chegar lá, há ônibus da Flixbus que saem todos os dias das estações Gare du Midi e Bruxelles-Nord e também trens que partem a cada 20 ou 30 minutos de Bruxelles-Nord, Bruxelles-Central e Gare du Midi com sentido a Gand-Saint-Pierre (os tickets podem ser comprados no site da Belgian Train).
A facilidade se completa por ser um destino fácil de se percorrer a pé em poucas horas. Bem pertinho da estação, o Minnewaterpark, também chamado de Lago do Amor, é uma boa pedida para uma caminhada romântica no começo da manhã – ali está também a Poertoren, ou Torre de Pólvora, parte da estrutura defensiva de Bruges desde o fim do século XIV, quando a cidade ainda era um dos principais centros comerciais e culturais da Europa. Basta sair dali pela Katelijnestraat para descortinar a charmosa arquitetura e as lindas vistas das pontes e canais, que até parecem saídas de um conto de fadas.
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No caminho, algumas boas surpresas incluem a gótica Onze Lieve Vrouwekerk, a Igreja de Nossa Senhora, que também faz as vezes de museu e guarda uma escultura de Michelangelo; o Gruuthuse Museum, repleto de tapeçarias, manuscritos e outros objetos históricos da cidade; e a Sint-Salvatorskathedraal, com uma rica coleção de arte religiosa flamenga.
Mas o burburinho mesmo fica nos arredores da Grote Markt, rodeada de simpáticas casinhas de tijolos à mostra, ocupadas por cafés e restaurantes, e pelo Belfort, campanário escalável através de 366 degraus, de onde se vê toda a cidade. Faça uma pausa estratégica na House of Waffles, com versões doces e salgadas no cardápio, e então siga para outra pracinha agradável, a Burg, onde, no segundo piso da Basílica do Sangue Sagrado, fiéis se congregam, todas as tardes, para adorar a um frasco que conteria o sangue de Cristo preservado por José de Arimateia após a crucificação. O dia perfeito pode continuar com um passeio margeando os canais até os moinhos de vento e, já de volta ao centrinho, um lanche com batatas fritas turbinadas com queijo, frango e até mexilhões no The Potato Bar, antes de regressar a Bruxelas.
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